Pesquisa Individual – Andressa Maria dos Santos

Pesquisa Individual – Andressa Maria dos Santos

Gênero no Ensino Médio na perspectiva dos estudantes.

Orientanda: Andressa Maria dos Santos 4º ano – História Noturno

Orientadora: Profa. Dra. Maria Paula Costa

 O ensino de História é um campo de pesquisa em expansão e relativamente recente, pois ganha força no Brasil a partir da década de 80 no contexto da “redemocratização”. Deste modo, busca estender suas áreas de domínio e compreender não apenas o funcionamento escolar, mas também, a dinâmica da sociedade e suas mudanças, pois se sabe que as demandas do ensino têm sua origem na prática social. Os sujeitos que fazem parte do processo de ensino e aprendizagem (estudantes, professores(as), agentes educacionais, etc.) têm suas identidades formadas em âmbito social, político, econômico, cultural, sendo permeados por questões de classe, etnia e gênero. Tais identidades são forjadas em várias instituições, como por exemplo, na família, igreja (religião), trabalho, assim como, em livros, séries, jogos, redes sociais, entre outros lugares. Ao entrar na escola trazem toda essa bagagem de experiências e vivências, sendo necessário e importantíssimo, no caso dos estudantes, compreendermos essa dinâmica quando se objetiva a aprendizagem histórica desses. 

Assim, um teórico que tem sido muito utilizado aqui no Brasil, no ensino de História é o Jörn Rüsen (2001). Este destaca quatro operações cognitivas da aprendizagem histórica: experiência, interpretação, orientação e motivação. Tais processos compõem a consciência histórica, que o autor define como a “soma das operações mentais com as quais os homens interpretam suas experiências de evolução no tempo do seu mundo e de si mesmos, de forma tal que possam orientar, intencionalmente, sua vida prática no tempo.” (RÜSEN, 2001, p.57), ou seja, como o sujeito articula as experiências do passado em uma estrutura utilizável de orientação temporal em sua vida prática, estabelecendo relação entre o passado, o presente e o futuro. Sempre partindo do presente, se apropriando das experiências do passado e projetando um futuro. 

Diante disso os pesquisadores da área do ensino de História têm feito recortes de temas específicos e sua relação com, por exemplo, a educação histórica para abarcar os conhecimentos e experiências trazidos pelos estudantes. Nesta pesquisa a categoria de análise escolhida foi a de gênero.

Há muitos questionamentos e debates sobre a relevância deste tema, principalmente no que se refere à pertinência de tais discussões no âmbito escolar. Criam-se diversos argumentos, muitas vezes, errôneos para desqualificar as discussões de gênero e justificar a partir destas a necessidade de não ser trabalhado, porém, estes argumentos e a existência do simples questionamento por si, já demonstram a necessidade de abordagem, pois fornecem indícios do desconhecimento sobre o mesmo e da sua influência e impacto na vida prática dos sujeitos. Tais discussões perpassam temas como: identidade, alteridade, violência, machismo, desigualdade, empatia, entre outros.

Joan Scott (1995) publicou no final da década de 80 um texto considerando gênero uma categoria útil de análise histórico-social, compreendendo assim os papéis de gênero como construção social desde os pequenos atos até a formação da personalidade e a construção da identidade, ressaltando as imposições sociais sobre os corpos. Este debate visou se desvencilhar do fundamentalismo biológico e religioso que incorporava e justificava o discurso de “espaço natural da mulher” ou “espaço natural do homem”, bem como analisou a construção do sexismo que é tão enraizado socialmente se nutrindo da organização patriarcal da sociedade.

Para compreender melhor a construção social acerca dos sexos, Scott indicou quatro elementos que trabalham de maneira articulada, porém não simultânea nos meandros das relações sociais: os símbolos, que são representações contraditórias e culturalmente disponíveis, os conceitos normativos, que são expressos nas doutrinas e ideologias definindo interpretações limites dos símbolos pautados no binarismo feminino e masculino, as instituições e organizações sociais, que são família, escola, sistema político e econômico etc., e as identidades subjetivas, que  trata do que é vinculado ao sujeito, compreendendo suas ações diante da realidade social. Estes elementos formam a identidade, os valores, as crenças, as relações de poder etc. e por vezes, tais elementos normativos são tratados pela história como consensuais e não como conflitantes, sendo isso problemático para a compreensão social. (SCOTT,1995, p.87).

O gênero representou uma revisão epistemológica e metodológica nos estudos feministas, tendo grande relevância em suas produções. Existe uma grande preocupação dos(as) pesquisadores(as) em compreender a construção dos sujeitos históricos e seus papéis na sociedade, e neste sentido o ensino de História tem produzido pesquisas abordando e articulando gênero no processo de ensino e aprendizagem. 

Assim o objeto desta pesquisa é a construção do pensamento dos jovens em relação ao conceito (abstrato) de gênero e tem como objetivo principal mapear o pensamento dos estudantes do Ensino Médio, de escolas públicas, em Guarapuava, procurando compreender como esses jovens, alvo da pesquisa pensam e se posicionam a respeito do conceito de gênero no contexto atual, bem como investigar como e onde os estudantes têm acesso a conteúdos relacionados a temática e a forma como relacionam este conceito a sua vida prática. Outro objetivo consiste em entender se tais temáticas são abordadas em sala de aula e quais as metodologias utilizadas pelos(as) professores(as) quando tratam deste tema. 

Para ter acesso as informações necessárias, foi desenvolvido um questionário e sua aplicação se deu de forma anônima e voluntária, em turmas de primeiro e segundo ano do Ensino Médio, em duas escolas públicas de Guarapuava, no final de 2019. 

Pretende-se com esta pesquisa compreender as percepções dos estudantes pesquisados sobre as questões de gênero, assim como investigar como e se são trabalhadas metodologicamente nas aulas de História. Acreditamos que a abordagem desta temática é cada vez mais relevante, não só frente as inúmeras desinformações que circulam midiaticamente, como para buscarmos subsídios que levem a problematização e a importância deste debate na formação de professores e no seu preparo para considerar e trabalhar com tal temática, visando deste modo a melhorias na formação, logo, na prática dos professores de História, logo no desenvolvimento do pensamento histórico dos estudantes.

Referências:

RÜSEN, Jörn. Razão Histórica: teoria da história: fundamentos da ciência histórica. Brasília: UNB, 2001.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora Moreira dos Santos; BARCA, Isabel; MARTINS, Estevão Rezende (Orgs.). Jörn Rüsen e o ensino de história. Curitiba: UFPR, 2010.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise historiográfica. Educação e Realidade. Porto Alegre, v.20, n.2, jul/dez. 1995.

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