“Costuras poéticas pelo fio da voz” conta e canta histórias sobre um país de misturas
“Esse é um espetáculo de amor”. Assim costuma responder Renato Forin Jr. quando questionado sobre o que é a apresentação “Costuras poéticas pelo fio da voz”. “Amor no sentido de que amor também é revolução, amor também é vingança, amor também é possibilidade de comoção, de mover junto”, complementa. As diferentes facetas que o escritor e professor confere à palavra puderam ser vistas na última terça-feira, 8 de agosto, no Auditório Denise Stoklos do Câmpus Irati da Unicentro. Em uma mistura de palestra, show musical e recital poético, a aula-espetáculo entrelaçou histórias pessoais e trechos de obras do autor com produções de escritores e compositores brasileiros, africanos e europeus de diferentes linhagens.
A base da apresentação que está em turnê pelo Paraná é o livro-CD “Samba de uma noite de verão”, obra publicada em 2016 na qual Forin Jr. “abrasileira” Shakespeare para construir uma metáfora da formação do país a partir de suas misturas étnicas, religiosas e culturais. Foi com esse trabalho que ele ganhou o Prêmio Jabuti em 2017 e começou a ser chamado para conversar nas escolas.
Em uma dessas visitas, um aluno perguntou quais eram os livros que os pais liam para ele na infância. O agora escritor e professor do curso de Letras da Universidade Estadual de Londrina (UEL) não soube o que dizer.
“Eu nunca tinha parado para pensar nisso, porque não tinham livros. E eu comecei, refletindo a respeito disso, pensar que a minha história não era extraordinária, mas ordinária. Porque no Brasil, a maioria das crianças e dos adolescentes vivem esse contexto. Eu sou de uma família bastante humilde, que não teve uma convivência desde criança com livros, mas isso não significa que não teve uma convivência com as narrativas, as metáforas, as histórias e a poesia. Porque isso nos chega por meio das canções, por meio das histórias que os parentes contam. E existem tantas poesias populares, tantas brincadeiras que são tradicionais e que nos inserem nesse universo estético, literário. Então, investigando esse meu passado, essa minha infância, eu resolvi fazer essa aula-espetáculo justamente para contar tudo isso”, explica Renato, natural de Ibiporã, cidade vizinha à Londrina.
Segundo o autor, a inspiração para o formato e para o nome do projeto também remete aos primeiros contadores de histórias – os griôs africanos e os rapsodos gregos. “Esse radical de rapsodo, que é rhaptein, que vem da Grécia, significa justamente costurar, coser. Porque eram pessoas que conheciam poetas, que conheciam amplamente o repertório dos seus territórios, as narrativas, as poesias, as canções, e eles iam de aldeia em aldeia, cerzindo esses textos-tecidos uns nos outros e fazendo uma espécie de colcha de retalhos. Obviamente, quando eles chegavam, eles também aprendiam outros textos e emendavam esse retalho na sua colcha, e assim a sua apresentação era sempre renovada e sempre muito interessante para o ouvinte”.
Com a proposta de manter esse movimento de costurar novos tecidos a cada novo lugar em que passa, em Irati, Forin Jr. reservou um espaço para a artista que dá nome ao auditório em que se apresentou: Denise Stoklos. “É uma artista que eu admiro imensamente, que já fiz cursos de formação com ela, que levei para o Festival de Dança de Londrina no ano passado. E no bloco que eu falo do indígena, eu vou trazer um trecho da peça dela, Um Fax para Colombo, e costuro com Eliane Potiguara, uma poeta indígena”, detalha.
O evento foi promovido na Unicentro pelo Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes do Câmpus Irati (Sehla/I), em conjunto com a Divisão de Promoção Cultural (Diproc/I) e da Divisão de Extensão (Diex/I). “Ficamos muito felizes de poder proporcionar este momento para os nossos alunos e participar desta ação aqui na Unicentro, porque é muito importante que a nossa universidade tenha esses espaços para receber esses autores. Também é uma ação artística que envolveu temáticas pertinentes aos três cursos [História, Letras e Pedagogia]. É uma aula-espetáculo mesmo. Foi uma noite inesquecível”, exalta a diretora do Sehla, professora Luciane Trennephol.
“Costuras poéticas pelo fio da voz” tem o apoio exclusivo da Copel, em projeto aprovado no Programa de Fomento e Incentivo à Cultura (Profice), da Secretaria de Estado da Cultura e Governo do Estado do Paraná. A apresentação tem ainda o apoio cultural do grupo de pesquisa em dramaturgia Agon Teatro.