Candidatos do Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná aguardam resultado do processo
“Eu, quando entrei no vestibular, era o que eu queria. Fiz o vestibular, passei pela Unicentro. Então, para nós, é um grande orgulho estar dentro da universidade, que é um direito de todos ter educação e nós também”, conta Carla Carneiro que é um exemplo e, também, um incentivo para que cada vez mais indígenas ocupem as salas de aula de um curso de graduação.
Para que isso aconteça, eles contam com a oportunidade de um processo seletivo específico – o Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná. Essa modalidade de ingresso, segundo a coordenadora da Cuia, que é a Comissão Universidade para os Índios, na Unicentro, professora Juliane Angnes, está na vigésima primeira edição e disponibiliza um total de 52 vagas. “Cada universidade estadual, por ano, pela lei estadual, recebe seis vagas suplementares para estudantes indígenas, e a Universidade Federal, desde 2010 quando estabeleceu parceria com o vestibular, tem dez vagas reservadas suplementares para os ingressantes desse vestibular especificamente”.
O Paraná é o único estado que possui um vestibular voltado, especificamente, aos povos indígenas, com o apoio da Superintendência estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Desde 2019, a aplicação das provas é feita de forma regionalizada. Neste ano, a organização geral do vestibular indígena foi feita Unespar. A Unicentro ficou responsável pela aplicação das provas no polo de Mangueirinha. “A recepção do cacique, dos candidatos, de toda a comunidade indígena é muito boa. Eles gostaram bastante pelo fato deles não precisarem se locomover daqui da aldeia para um outro ponto”, explica a agente universitária Sueli Córdova,
Esta edição do Vestibular dos Povos Indígenas registrou 135 inscrições no polo de Mangueirinha. O número de interessados mostra a importância desse processo seletivo. “A importância disso é o fato de que hoje as nossas comunidades são 90% atendidas por profissionais formados por esse sistema. A nossa realidade ela vem mudando gradativamente e os nossos indígenas que passam por esse processo aqui hoje são professores aqui mesmo”, avalia o cacique da Terra Indígena de Mangueirinha, José Carlos Gabriel Poty.
A Talia Lemes é uma das vestibulandas desse ano. “É mais uma oportunidade para nós, indígenas. Uma oportunidade para aprender com os que não são índios”. Se aprovado, o Everaldo Delane já sabe que curso escolherá: Zootecnia. Por isso, quer aproveitar a chance e garantir sua vaga. “Dá grandes oportunidades a mais para a gente que é indígena e eu acredito que isso é muito bom”, conta.
Para atender as especificidades dos candidatos, a prova do vestibular é diferenciada e tem a cultura indígena contextualizada nas questões escritas e na redação. Outro ponto avaliado, explica a professora Juliane, é a capacidade de comunicação dos candidatos em língua portuguesa. “Nós temos um primeiro dia de provas, que chamamos de prova de proficiência oral. Na intenção, nós conseguimos mapear as habilidades indígenas em língua portuguesa, tendo em vista que esse aluno vai ingressar em um universo acadêmico onde a língua portuguesa é dominante”. Depois da prova, o próximo passo é aguardar o resultado, que deve ser divulgado no dia 1º de julho. “Os alunos, depois que são aprovados, os seis primeiros candidatos são convocados para matrícula e, no ato da matrícula, eles optam por qual curso eles gostariam de realizar”, alerta Juliane.
A Edenise Aleader, por exemplo, já sabe o que quer. Ela trabalha num consultório odontológico e vê no vestibular a oportunidade para a formação superior na área. “Já faz nove anos que eu trabalho e gosto do que faço. Então, vou fazer Odontologia agora, vou tentar. É uma oportunidade a mais e uma chance única que nós temos”.