A importância das Humanidades Médicas é tema de palestras para acadêmicos e profissionais da saúde
A Medicina é uma vocação que possui componentes científicos e humanísticos. Nos últimos anos, as humanidades médicas vêm ganhando cada vez mais destaque nos currículos acadêmicos das escolas de Medicina, como uma forma de superar um modelo mais tecnicista que, por muito tempo, predominou nos atendimentos. Pensando em expandir esse horizonte para o lado humanístico é que o Departamento de Medicina da Unicentro, em parceria com as Faculdades Guairacá, proporcionou à acadêmicos do curso de Medicina, residentes, docentes do setor de saúde e profissionais da área uma série de três palestras.
Ministradas pelo diretor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Hélio Angotti Neto, e com o tema “Educação e humanidades em saúde: O Resgate do Cuidar de si e do próximo”, as palestras trataram de metodologias, humanidades médicas, mentoria, vida intelectual e identidade profissional. Para o médico palestrante, os diferentes graus de maturidade do público e momentos distintos na profissão não eram problema, pois o que unia todos ali era o desejo de aprender e amadurecer.
“O que une todos esses públicos é o empreendimento humanístico, é a cultura, é o anseio por aprimoramento pessoal e como esse conteúdo de humanidades médicas, de humanidades em saúde pode ajudar a gente a crescer. Então, faz parte do ímpeto básico de cada pessoa querer melhorar, querer sair de uma situação às vezes pior, ruim, ou de carência de conhecimento, de habilidade e prosperar, crescer, amadurecer”, defende Hélio.
As humanidades médicas permitem integrar recursos das ciências humanas ao ensino da medicina a fim de ampliar a compreensão sobre o ser humano, seu sofrimento e seus sentimentos. “A formação humanística é importante nesse sentido de completar a nossa personalidade. Você pegar um contexto de saúde em que um profissional não tem formação humanística, por mais que ele domine a ciência, domine a técnica, se ele não souber transmitir isso com compaixão, realmente com sentimento de amizade pelo próximo, se ele realmente não se importar com o paciente, essa informação seca chega muito abstrata, muito incompleta. Você deixa de aproveitar, naquele momento, o máximo do potencial e você deixa de fazer o bem na vida do próximo. Quando você tem bagagem cultural, quando você tem uma formação humanística, você consegue não só dar o remédio, mas a sua presença ali também é uma terapia, é uma medicação. Então, médico, enfermeiro, psicólogo, eles em si se tornam medicação para o paciente”, explica Hélio.
O coordenador do curso de Medicina e do Programa de Residência Médica da Universidade Estadual do Centro-Oeste, professor David Livingstone Alves Figueiredo, conta que o palestrante, além de ser um amigo de longa data, foi muito importante no processo de instalação do curso de medicina na Unicentro. “Tem muitas coisas que nós incluímos no curso, que são novidades no Brasil, por influência dele. Então, é um cara que já me influencia há muito tempo e a gente já está tentando trazer ele há um ano”.
Segundo David, eventos como esse dão subsídio para o acadêmico sair da graduação mais maduro, com uma base mais sólida de conhecimentos. “Cada vez mais, a gente se torna tecnicista, cientificista, e perde esse caráter humanístico com o paciente. Momentos como esse são para expandir o pensamento. A gente tem que expandir o conhecimento e tudo isso vai dar subsídio para a gente ser um ser humano melhor, e um profissional melhor”.
A acadêmica do segundo ano do curso de Medicina da Unicentro, Maria Paula Gonçalves Peternelli, adorou a palestra. Para ela, agregou além da técnica. “É o que a gente precisa, porque, como foi falado na palestra também, a medicina ela está nessa ponte entre a ciência e a humanidade. Então, a gente não pode ficar só com a ciência, não dá mais”, afirma acrescentando que o evento despertou a vontade de ler mais e até de fundar uma liga de humanidades médicas. “Todas essas humanidades, interações com clássicos, literatura, música, com todo tipo de cultura, ela só acrescenta no tratamento do paciente. Você pode conhecer um paciente melhor, ficar sabendo um pouco sobre a cultura dele, você pode aprender a viver todo tipo de coisa que você não precisa ter vivido fisicamente, mas você já leu sobre e, daí, você já tem uma ideia de como se portar”.
Na fala para os acadêmicos de Medicina da Unicentro, Hélio Angotti Neto deu destaque para a formação de uma vida intelectual com dicas para uma vida de estudos. “A vida intelectual é um compromisso com o eterno aprimoramento de si mesmo e uma concepção, vamos dizer assim, humilde da vida. Saber que você sempre tem mais coisa para aprender é manter aquele espírito jovial de conquista, de busca de conhecimento, de crescimento, ao mesmo tempo que você amadurece, sabendo ter aquele espírito de crescimento. Isso é a vida intelectual e ela depende também de uma postura muito séria, que é a postura da sinceridade plena consigo mesmo e com o que você deseja ser no final da sua vida”, esclarece Hélio, citando, como um exemplo motivador, o exercício do necrológio, que consiste em formular uma carta, como se fosse escrita por um terceiro próximo a você, detalhando o que você se tornou, como foi a sua vida e como você será lembrado.
“A gente fez o necrológio e eu quando estava lendo meu próprio necrológio, comecei a chorar. São coisas que emocionam, que fazem você pensar, que moldam”, finaliza a acadêmica Maria Paula, mostrando que as humanidades já fazem parte do seu modo de pensar.