Jornada da Questão Agrária é realizada no campus de Irati
Estudar Geografia não é só falar de territórios, mas também dos povos que habitam um determinado espaço. Por isso, a Unicentro sediou a sétima edição da Jornada de Pesquisas sobre a Questão Agrária no Paraná, com o intuito de proporcionar um debate teórico em interlocução com os movimentos e sujeitos sociais do campo. O professor Marcelo Barreto, que é professor do Departamento de Geografia do campus Irati e foi um dos organizadores do evento, explica de que forma acontece a interação entre a área e os movimentos sociais. “Tem muita interação com os movimentos sociais, a gente busca não só desenvolver pesquisas com os nossos orientandos mas também tá junto, agir junto às comunidades para compreender melhor suas demandas e suas estratégias”.
Essas demandas foram apresentadas pelos integrantes dos próprios movimentos sociais. O MST, que é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, por exemplo, foi representado pelo Luís Antônio Ribas, conhecido como Jagunço, e por membros do acampamento Mário Lago. “O movimento busca conscientizar e busca várias formas de conhecimento para que as pessoas vão produzindo cada vez mais sem o agrotóxico, sem o veneno, porque o mal da sociedade, talvez, é a grande quantidade de veneno que as pessoas estão comendo. Para nós do MST, nós lutamos por três objetivos. Primeiro a luta pela terra, depois luta pela reforma agrária e construir uma sociedade justa, igualitária. Então, nesse contexto de estar ajudando a construir uma nova sociedade, que a gente tem que ter uma relação pública com os diversos movimentos sociais, organizações, estudantes, professores e etc”, salienta Jagunço.
Um dos momentos voltados para compreender a questão agrária foi a conferência do professor Carlos Marés de Souza Filho, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Ele contextualizou a estrutura fundiária no Brasil. “A questão fundiária no Brasil é, desde 1500, o carro chefe das contradições, no sentido em que os europeus, principalmente os portugueses, quando chegaram aqui no Brasil, na América Latina, eles chegaram em busca dos produtos da terra. Então, a terra, já a partir daí, teve um papel essencial e, por isso, todos os impérios coloniais tentaram e conseguiram, na maior parte das vezes, um controle absoluto sobre a terra das américas, em detrimento de quem estava nas américas. As minhas pesquisas a respeito dos povos indígenas, dos povos afrodescendentes e de muitos outros povos que foram se formando no processo, e que tem na terra uma contradição principal, porque continua a mesma ideia, o mesmo liame colonial do controle absoluto da terra pelo Estado continua havendo ainda hoje”.
A Jornada de Pesquisas sobre a Questão Agrária no Paraná também abordou o movimento das benzedeiras, a partir da pesquisa desenvolvida pela doutoranda Adriane Andrade, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Quem tem interesse nesses saberes populares, de conhecer um pouco mais sobre plantas, sobre ervas, existem também cartilhas que o professor também pode trabalhar isso em sala de aula. Eu acho que é muito isso – trabalhar junto, dialogando horizontalmente, não desmerecendo nenhum tipo de conhecimento, por ser conhecimento popular é menos importante do que o científico, não. É muito pelo contrário. A gente tem muito o que dialogar e aprender com esses povos”, defende.
A contribuição de Adriane para o evento foi destacada pela estudante de Geografia da Unicentro, Rose Chagas, que participou das atividades da Jornada. Ela também pesquisa o movimento das benzedeiras e seus saberes populares. “Me encantei com o trabalho, com o jeito que ela se dá com a pesquisa dela – com amor, com respeito e também para empoderar essas mulheres. É um trabalho de empoderamento. E eu me encantei – e foi o que me fez pensar ‘olha que legal, tem outra linha de pesquisa’ – não é somente dar aula e somente ficar na educação, dá pra fazer uma mistura com saberes populares, com cura e com tudo o que eu gosto”.
Além de promover o intercâmbio de saberes entre pesquisadores e representantes de movimentos sociais, a Jornada de Pesquisas sobre a Questão Agrária no Paraná também contou com apresentação de pesquisas de estudantes e também teve trabalhos de campo. O professor Marcelo Barreto, um dos docentes da Unicentro envolvidos com a organização da Jornada, comemorou a vinda desse evento itinerante para o campus Irati e destacou a importância dele para refletir sobre a diversidade das necessidades humanas. “Quando a sociedade perceber quem são essas pessoas, quais as suas reais demandas, algumas delas por políticas públicas que muitas vezes não são atendidas, elas vão perceber que eles não são baderneiros, que não são gente que quer criar confusão. Não é isso que eles querem. Eles querem ser vistos, eles querem mostrar quem são e mostrar quais são as suas demandas. Isso é parte da própria diversidade. Hoje que a gente encontra, porque a gente não pode homogeneizar a sociedade, ela tem vários segmentos, várias frações, vários sujeitos”, finaliza.