Em sessão de cinema do Florescer, prefeitura entrega projeto que transforma Maria da Penha nas Escolas em lei
Já na chegada, enquanto desciam do ônibus, era difícil segurar a ansiedade. Pelos corredores, os olhos atentos denunciavam a curiosidade da criançada. O projeto de extensão “Florescer: a comunicação na efetivação de políticas públicas para mulheres” recebeu os alunos da Escola Municipal Dalila Teixeira no cinema do campus Santa Cruz. O encontro faz parte do cronograma do projeto e a ideia é mostrar para os pequenos participantes o resultado do que produziram durante as quatro oficinas realizadas no colégio.
“O Florescer trabalha em uma perspectiva que a gente chama de educomunicação. Nela, a gente busca fazer com que a partir da comunicação, do se comunicar, as pessoas se reconheçam como cidadãs. Então, é por isso que elas produzem os vídeos, porque elas não só recebem a informação, mas elas também transmitem a informação e assim produzem conhecimento”, explica a coordenadora a ação extensionista, professora Ariane Pereira.
A proposta do Florescer é trabalhar com alunos do terceiro ano da rede municipal de ensino e agora foi a vez da Escola Dalila Teixeira. Foi um mês de oficinas, sempre discutindo conceitos que visam conscientizar sobre a equidade de gênero e o combate à violência contra a mulher. Ação que tem rendido muitos frutos. “Até agora, foram mais de 250 crianças atendidas, que participaram do projeto. A gente tem um retorno muito grande por parte delas e também da Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres de Guarapuava. No bairro Boqueirão, por exemplo, onde fica a Escola Dalila, aumentou o número de mulheres daquele bairro que procuraram a Secretaria em mais de 40%”, conta Ariane.
A professora do terceiro ano da tarde, Solange Moreira, acredita que esse crescimento tem relação com as informações recebidas pelas crianças através as oficinas do Florescer e repassadas por elas aos pais. “Eles são muito ativos, muito atentos e eles ficam assim mais alerta às situações. Então, é um alerta até para que eles possam se comunicar mais, buscar ajuda ou alertar até os pais, porque tudo aquilo que você trabalha na escola eles levam para casa e eles transmitem para a família”.
Além de se ver na tela do cinema, os alunos que participaram do Florescer também aproveitaram um lanche especial. E assim, no meio da diversão, a molecada prova que está afiada com o que aprendeu e quanto o assunto é sério. “Eu aprendi um monte de coisa, que homem não pode bater na mulher e que, pra isso, tem a Maria da Penha”, lembra a Maria Eduarda Correa Soares, de sete anos. Já a Marciele Ribeiro Candido, de oito anos e colega de turma da Maria Eduarda, diz que aprendeu “como respeitar os outros” e que gostou “de aprender sobre essas questões”.
A data escolhida para realização desse último encontro com as crianças da Escola Municipal Dalila Teixeira foi sete de agosto, dia do aniversário de uma lei importante no combate à violência contra a mulher e a promoção da igualdade de gênero, a de número 11.340/2016 ou a Lei Maria da Penha, como ficou conhecida. Na data, nesse ano, mais um passo à frente nessa luta foi dado, já que a prefeitura de Guarapuava aproveitou para entregar à Câmara de Vereadores o Projeto de Lei Maria da Penha nas Escolas, que transforma em política pública o trabalho que já vem sendo feito.
“Isso quer dizer que, independente de quem seja os próximos governantes, independente de qualquer mudança no ambiente político que nós tenhamos na cidade – o que é natural e até salutar – essa política pública especificamente tem sua permanência garantida”, frisa o prefeito de Guarapuava Cesar Silvestri Filho.
O projeto Maria da Penha nas Escolas foi idealizada pela Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres de Guarapuava e lançado há um ano, também em sete de agosto. Para a sua efetivação, o órgão público conta com a parceria de entidades como a Unicentro – através do Florescer, que ficou responsável pelo trabalho com as crianças, e do Numape (Núcleo Maria da Penha), que trabalha o combate a violência contra a mulher junto aos professores e funcionários da escola – e com o Centro Universitário Campo Real – que, a partir do projeto Restaurar, promove círculos de Justiça Restaurativa com os pais.
Para Rosangela de Siqueira, que é coordenadora do Numape,“a lei contribui no sentido de unir parceiros, de tornar a escola também, de alguma forma, um espaço mais democrático para o debate dessas questões. Então, sensibilizar, refletir, pensar sobre a violência de gênero”. Já a coordenadora do Restaurar, Patricia Melhem Rosas, ao “transformar isso em política pública, a gente tem a certeza da continuidade desse trabalho. E o que eu vejo é que é uma concretização de uma lei que vem da prática e não o contrário. Não é a lei tentando transformar a realidade, mas é a realidade que se concretiza em uma lei. Por isso, hoje, é um dia bastante feliz, porque a gente observa uma lei que vem mesmo da vida do cidadão”.
O projeto ainda aguarda votação na Câmara de Vereadores. Mas a expectativa é que seja aprovado por unanimidade. O texto base da nova lei, inclusive, foi criado levando em conta as demandas das comunidades atendidas. “Dentro do projeto Maria da Penha nas Escolas a gente prevê um círculo com os pais e eles gostariam que isso fosse contínuo, para que essa prática restaurativa de criar uma cultura de comunicação não violenta e desnaturalização da violência faça parte do dia a dia da escola e da família”, recorda Priscila Schran de Lima, secretária de Políticas para Mulheres de Guarapuava.