Colóquio de Gênero e Pesquisa Histórica é realizado no campus de Irati
Uma das práticas constantes de quem estuda e trabalha com História é questionar a perspectiva de um sujeito universal ao narrar os acontecimentos. O registro dos fatos é conduzido por quem escreve e pelas fontes selecionadas para ilustrar as situações que se pretende descrever. Recontar a História incluindo a perspectiva de um sujeito feminino foi o principal paradigma discutido durante a segunda edição do Colóquio de Gênero e Pesquisa Histórica, realizado no campus Irati da Unicentro.
A coordenadora do evento, professora Nádia Guariza, contextualiza como iniciou essa revisão historiográfica. “É um movimento que faz parte da própria historiografia que começa a questionar o sujeito universal na Historia – e aí você vai ver também os negros, os operários, você vai ver justamente uma história vista de baixo, desses grupos que não tinham visibilidade na História”.
Os estudantes da Unicentro, como a mestranda em História, Amanda Lamara Demétrio, reconhecem a especificidade das pesquisas desenvolvidas que utilizam o gênero como categoria de análise. “Quando a gente usa gênero como categoria de análise histórica é quando você consegue perceber, por essas relações de gênero ou pela própria trajetória das mulheres e dos homens na sociedade, de que forma isso acaba constituindo algumas formas de pensar e agir da sociedade, se comportar, como isso aconteceu no passado que acabou influenciando no nosso modo de hoje, nossos modos de operar”.
O 2. Colóquio de Gênero e Pesquisa Histórica contou com três mesas redondas sobre temáticas variadas dentro deste campo de estudos. Para o encerramento, a Unicentro trouxe a historiadora Ana Paula Vosne Martins, que é referência em estudos envolvendo História e Gênero. Durante a palestra, ela falou sobre sua experiência pesquisando mulheres e religião, buscando refletir sobre o equilíbrio entre a adequação e a agência feminina.
“Eu percebi a formação de um outro tipo de agência, uma agência mais circunscrita à adequação social, adequação moral, uma agência mais ligada à construção de um lugar para essas mulheres dentro da religião. Elas não estavam lá somente pra ajudar os padres nas paróquias, elas estavam lá também para construir um movimento católico para defesa de um projeto de ação social no combate a pobreza. Uma coisa fantástica que eu descobri foi a ação dessas mulheres em favor de uma educação de meninas e de mulheres, e de profissionalização para jovens trabalhadoras. Se isso não é agência, eu não sei o que é, pois tem um projeto de intervenção sobre o mundo social”, conta Ana Paula.
A professora também enfatizou a importância dos Estudos de Gênero no caminho em direção a uma sociedade mais igualitária. “Eu penso que os estudos sobre gênero, os debates sobre gênero, eles podem muito ajudar a entender, e talvez até encaminhar senão soluções, pelo menos proposições mais igualitárias, mais justas, mais amigáveis inclusive”.
Pelo fato do gênero influenciar diversas relações na sociedade, a professora Nádia Guariza acredita que a abertura de espaços de discussão como o Colóquio, agrega conhecimentos não só para os historiadores, mas também para pesquisadores e profissionais de várias outras áreas. “Você vai ver estudos nas ciências sociais, na psicologia, até em outras áreas das sociais aplicadas, o pessoal da comunicação, da enfermagem, da educação. Então, é um grupo interdisciplinar que usa a categoria gênero”, finaliza.