Campus Irati recebe exposição fotográfica “Ser Mulher”
O que é ser mulher? Existe uma grande variedade de respostas possíveis para essa pergunta. Mulheres de todas as cores, todas as origens, todas as classes. Identidades femininas que são tão plurais que até as teorias mais embasadas não conseguem definir um só conceito. Para refletir sobre essa questão, o campus Irati reuniu um pouco da obra das fotógrafas Viviane Rodrigues e Juh Moraes e transformou a universidade em uma exposição.
“Esse corpo feminino, eu retalho ele, eu faço leituras muito macro, de aspectos que confundem. Então, eu queria confundir para naturalizar, porque se você naturaliza, aquilo passa a ser normal. Ele é um corpo, ele faz parte da gente e isso não deveria ser problema”, explica Viviane, que também é jornalista e professora, sobre a forma como utiliza os registros fotográficos para inspirar discussões sobre o que é ser mulher.
De acordo com a fotógrafa, o principal intuito do trabalho é capturar a diversidade de representações da mulher e colaborar para desconstruir uma imagem unificada do sujeito feminino. “Olha como isso liberta! Como a teoria vem para libertar a gente, vem para a gente ter um olhar menos intolerante – não só sobre o corpo LGBT, mas sobre o corpo negro, sobre o corpo gordo, sobre o corpo magro demais, alto demais, pequeno demais, para a gente poder realmente calar as intolerâncias”.
A exposição Ser Mulher foi organizada pela Diretoria de Promoção Cultural do campus Irati, que tem como diretora, a professora Alexandra Lourenço. Ela destaca que, através da cultura, podemos refletir sobre os papéis sociais da mulher na sociedade e pensar a diversidade dos modos de ser. “Conseguimos, pelo menos, chamar a atenção para a diversidade do que é o ser mulher e, principalmente, pensar esse ser mulher a partir de corpos que não estão dentro do padrão de normatização – aqueles sujeitos que, a partir da sua posição na sociedade, nas suas relações generificadas, são muitas vezes colocadas no esquecimento, deixadas ao lado. A exposição traz isso. Ela quebra silêncios, provoca e traz um conteúdo profundo em imagens”, defende.
A fotógrafa Viviane Rodrigues, que é pesquisadora das áreas de Mídia e Gênero, também participou de uma mesa redonda que fez parte da programação do 2. Colóquio em Gênero e Pesquisa Histórica. A fala de Viviane corroborou com a temática pesquisada por algumas mestrandas em História, como a Cibeli Grochoski, que analisa uma revista sobre comportamento feminino, que circulou entre a década de 1950 e 1960 no Brasil. “Tem muita coisa que você vê nas revistas, que você acha que é horrível, pensa: ‘nossa, como pensavam assim?’. Mas outras coisas você vê que estão presentes até hoje, os discursos. Esses discursos são silenciosos, então você tem que ficar muito atento para percebê-los, principalmente com a mulher, o lugar da mulher, o que a mulher pode ou não pode, como se comportar, se vestir”.
A coordenadora do Colóquio em Gênero e Pesquisa Histórica da Unicentro, professora Nádia Guariza, comenta, com base nas teorias da historiadora Joan Scott, sobre a importância de estudar questões de gênero para observarmos de que forma foram construídas as diferenças entre homens e mulheres. “Scott) vai propor a categoria gênero – que é justamente aquele entendimento de que a partir das diferenças biológicas, fisiológicas, masculino e feminino – você constrói papéis sociais de gênero que, na verdade, não são naturais, são construções sociais”.