Hospitais universitários atendem quase 400 mil paranaenses ao ano, além de ensinar e produzir ciência

Hospitais universitários atendem quase 400 mil paranaenses ao ano, além de ensinar e produzir ciência

A partir da implantação, este ano, do curso de Medicina da Unicentro, criou-se um movimento em Guarapuava, com apoio de autoridades locais e regionais, para que a Universidade seja gestora do Hospital Regional.

 

Criados como hospitais ensino, para a formação dos acadêmicos das áreas de saúde, os quatro hospitais universitários das instituições estaduais de ensino superior (IEES) do Paraná desempenham papel de destaque, prestando serviços gratuitos e de qualidade à população. Cerca de 392 mil pessoas são atendidas, anualmente, nestas quatro unidades que, seguramente, são a principal porta de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS) na comunidade onde estão inseridos

Com 123 leitos e atendimento exclusivo pelo SUS, o Hospital Universitário (HU) da Universidade Estadual de Maringá (UEM), por exemplo, recebe a população da macrorregião Noroeste do Paraná, com 115 municípios, onde residem 2 milhões de habitantes. Em 2018, passaram pelo hospital mais de 60 mil pessoas em áreas como pediatria, cirurgia, ortopedia, ginecologia e obstetrícia. Quando ele foi criado, em 1988, Maringá e região não dispunham de um hospital público para atendimento, o que evidencia, inclusive, sua importância histórica.

A superintendente do hospital, Elisabete Koyabashi, chama a atenção para o fato de que os Hospitais Universitários viveram diferentes formas de inserção no sistema de saúde no Brasil e ganharam maior relevância assistencial a partir da década de 1980, quando os setores filantrópico e privado tiveram uma retração na prestação de serviços ao sistema público de saúde. “Os HUs foram então reconhecidos como estratégicos tanto na formação de profissionais de saúde para a rede quanto nos atendimentos de alta complexidade”, afirma a médica.

Na região dos Campos Gerais, o HU da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) também faz a diferença, a começar pelo volume de internamentos que, nos últimos cinco anos, aumentou 440%. Em números, significa dizer que a unidade, com nove anos de existência, passou de 2,5 mil para 11 mil internamentos neste período, enquanto que o volume de consultas médicas no ambulatório saltou de 31 mil para 72 mil anuais.

“O HU mudou todo o cenário da saúde dos Campos Gerais. Pacientes que antigamente teriam que ser atendidos em Curitiba ou na região metropolitana, recebem, hoje, tratamento em Ponta Grossa”, comemora a diretora geral do hospital, Tatiana Menezes Cordeiro.

Destacando que o HU também é referência em atendimento de traumas, Tatiana Cordeiro explica os acidentes de trânsito respondem por grande parte do número de procedimentos. “Ponta Grossa é o maior entroncamento rodoferroviário do Brasil e, em função disso, o volume de acidentes automobilísticos é imenso. Boa parte dessas vítimas é atendida no serviço de ortopedia e traumatologia do nosso hospital”, diz a diretora.

Referência nacional

Em Londrina, o hospital universitário da UEL é o mais antigo em atividade entre os quatro, completando 48 anos de fundação este ano. É também a maior unidade de saúde do interior do Paraná, atuando 100% com o SUS, com oferta de 300 leitos para internações. A unidade abriga o Centro de Tratamento de Queimados, considerado como referência nacional.

O HU da UEL também é referência em outras áreas como, por exemplo, a de Transplante de Medula Óssea, Unidade de Isolamento para Pacientes Portadores de Moléstias Infectocontagiosas e Maternidade para Gestantes de Alto Risco.

Pelo hospital passam pacientes de cerca de 250 municípios paranaenses e de mais de 100 cidades de outros estados. Dados de 2018 revelam a realização de mais de 10 mil cirurgias e de quase 13 mil internações. Somente no Pronto-Socorro foram 25.642 consultas.

Parâmetro em Alta Complexidade

Os números na área de saúde pública do Estado não seriam os mesmos sem a presença do hospital da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) que responde, anualmente, por cerca de 70 mil atendimentos.

Inaugurado em maio de 1989, na época com a oferta de 85 leitos, atualmente o HU conta com 243 leitos. É referência em alta complexidade para 119 municípios e o maior prestador de serviço do Sistema Único de Saúde das regiões Oeste e Sudoeste, abrangendo cinco regionais de saúde e uma população de cerca de dois milhões de habitantes.

Parâmetro em alta complexidade nas áreas de trauma-ortopedia, cirurgia vascular e procedimentos em cardiologia intervencionista, cirurgia vascular, cirurgia cardiovascular e neurologia/neurocirurgia, o hospital ocupa um espaço de quase 38 mil metros quadrados, com uma área construída de mais ou menos 27 mil metros quadrados.

Neste espaço funciona uma estrutura que engloba Ambulatórios de Especialidades, Centro Cirúrgico, Centro Obstétrico, Unidades de Tratamento Intensivo e de Cuidados Intermediários, Pronto-Socorro, Diagnóstico por Imagem, Banco de Leite Humano, Centro de Atenção e Pesquisa em Anomalias Craniofaciais e Serviço de Verificação de Óbitos Regional.

Um novo hospital pode integrar esta rede. A partir da implantação, este ano, do curso de Medicina da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) criou-se um movimento em Guarapuava, com apoio de vereadores locais, para que a universidade seja gestora do Hospital Bernardo Ribas Carli, com 600 funcionários e 120 leitos.

Zero Infecções

O HU da UEPG mantém, na UTI Adulto, o projeto Melhorando a Segurança do Paciente em Larga Escala no Brasil, do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS, com resultados relevantes na redução das infecções associadas à assistência em saúde.

As duas Unidades de Terapia Intensiva do hospital têm mantido, nos últimos seis meses, a taxa zero em infecções de trato urinário. Quanto à pneumonia associada à ventilação mecânica, outra complicação relativamente comum nas UTIs, ambas as unidades atingiram a taxa zero, em janeiro de 2019.

A infecção na corrente sanguínea associada ao uso de cateter vem registrando decréscimos constantes e, em janeiro, foi zerada em uma das unidades do HU.

Na Maternidade, são oito partos por dia e o setor, na concepção da diretora do hospital, revolucionou o atendimento obstétrico em Ponta Grossa e região. O índice de parto natural é digno de países desenvolvidos e a humanização do atendimento obstétrico é referência na região: mais de 70% dos partos realizados no HU da UEPG são partos normais, respeitando tanto os desejos da gestante quanto as indicações médicas para cada caso.

Ampliação da capacidade

O HU da UEM também registra uma atuação importante na área de parto humanizado. Além disso, é referência em atendimentos no Ambulatório de Tratamento de Feridas e Serviço de Informação de Medicamentos, e nos serviços de alta complexidade como transplante de córnea, cirurgia bariátrica e implante coclear.

O hospital praticamente irá dobrar sua capacidade atual quando entrar em funcionamento o prédio da Clínica para Adultos, uma nova ala com mais de oito mil metros quadrados e capacidade para 108 novos leitos hospitalares. A obra, que teve início em 2016, demandou um custo aproximado de R$ 17 milhões em investimentos provenientes do governo do Paraná, por meio da Secretaria de Estado da Saúde e do Fundo Estadual de Saúde.

O reitor da UEM, Julio Cesar Damasceno, destaca que o processo de expansão do hospital deve continuar com a conclusão de outra obra importante que é o novo centro cirúrgico, cujo projeto engloba onze salas cirúrgicas, central de esterilização, área para atendimento pós-cirúrgico e salas de aula. “Estamos em negociação com a Secretaria de Estado da Saúde para a liberação de recursos para a finalização do centro”, diz o gestor, destacando que serão necessários R$ 7 milhões para finalizar a construção.

Outro hospital que também está aumentando a capacidade de atendimento é o de Ponta Grossa. Atualmente com 168 leitos, a unidade irá acrescentar 20 novos leitos assim que construção da nova ala da Maternidade, em andamento, estiver concluída.

Também em fase de conclusão das obras, o Centro de Hematologia, o primeiro na região de Ponta Grossa a atender pelo SUS, terá dez leitos para internamento, sete cadeiras para infusão de quimioterapia, consultório de hematologista, farmácia para manipulação de quimioterápicos e laboratório especializado em diagnóstico e pesquisa hematológica, além de adequações na agência transfusional para aférese.

A Unioeste está construindo uma nova ala, dedicada exclusivamente ao tratamento de queimados. A obra está praticamente finalizada, faltam alguns retoques finais e a cabine de gerador. A previsão é finalizar no final desse mês.

Formação profissional

Os hospitais de ensino no Brasil são responsáveis pela formação direta de mais de 92.000 profissionais por ano, sendo impactante para a sustentação de vários serviços. Estes profissionais formados dentro dos HUs são aproveitados nas redes pública e privada, trazendo maior competência e qualidade de atendimento.

Além da formação profissional nas Residências Médica, de Enfermagem, de Fisioterapia e Multiprofissionais, os quatro HUs ligados às universidades estaduais também servem de campo de estágio para os alunos de graduação em Medicina, Fisioterapia, Enfermagem, Nutrição, Fonoaudiologia, entre outros.

“Ponta Grossa é um polo educacional e nós somos campo de estágio prático para todos os cursos da área da saúde da UEPG. Também ofertamos vagas às demais instituições da região, em nível superior e técnico”, assinala a diretora Tatiana Cordeiro, destacando, que muitos dos especialistas formados pelas residências continuam a atuar no próprio HU.

Outra característica dos HU’s é a grande produção científica. (Foto ASC/UEM)

Vale lembrar ainda que os hospitais universitários têm outra característica de suma importância à sociedade, que é a produção científica, resultado das inúmeras pesquisas em nível de pós-graduação, traduzidas em dissertações de mestrado e teses de doutorado ou de artigos apresentados em congressos.

Eficiência de gestão

Em Maringá, o HU está implementando a gestão de qualidade e a Metodologia Lean, com foco na agilização e efetividade nos atendimentos e processos. A proposta é otimizar os recursos recebidos e favorecer a diminuição de custos. Apesar de ainda ser precoce mensurar os resultados das medidas, especialmente na redução de custos já é possível, segundo a superintendente do hospital, sentir alguns impactos. Elisabete Kobayashi explica que a redução do tempo de permanência do paciente no Pronto-Atendimento e a diminuição do tempo de espera de atendimento e exames são bons indicadores, assim como a agilização de leitos para a internação. São conquistas que o hospital vem acumulando após a implementação do método.

Complexo de Saúde

Os atendimentos realizados pelos HUs vão muito além dos leitos hospitalares. Muitos integram um complexo de saúde que dá suporte e amplia a prestação de serviços.

O HU da UEL, por exemplo, conta, além do Centro de Tratamento de Queimados, já citado, com o Hemocentro Regional, o Banco de Leite Humano, a Unidade de Transplante de Medula Óssea, o Banco de Olhos, a Unidade de Quimioterapia, o e a Central de Controle de Intoxicações.

Em Maringá também funciona o Centro de Controle de Intoxicações que dá suporte para o tratamento de quem foi picado por animais peçonhentos ou ingeriu ou inalou veneno, entre eles agrotóxicos usados nas lavouras, com registro de cerca de três mil atendimentos por ano.

Os atendimentos feitos pela Clínica Odontológica, pela Unidade de Psicologia Aplicada, pelo Laboratório de Ensino e Pesquisa em Análises Clínicas e a Farmácia Ensino também fazem a diferença para a população assistida.

Destaque ainda para o Hemocentro Regional de Maringá, que faz coleta de sangue em 30 municípios, produz e distribui hemocomponentes, como hemácias, plasma e plaquetas, a mais de 30 hospitais.

Banco de Leite Humano

Inúmeros bebês que, por diferentes razões, não podem receber o leite da própria mãe e dele necessitam como fator vital, são beneficiados pelos Bancos de Leite Humano, outro serviço que os HUs prestam.

O de Maringá, por exemplo, capta, processa e distribui, mensalmente, cerca de 300 litros de leite materno para unidades de terapia intensiva de cinco hospitais locais.

Em 2018, o Banco de Leite Humano do HU da Unioeste coletou 3.377 litros, atendendo 215 crianças de zero a dois anos. Também foram registrados 1.822 doadoras de leite humano e distribuiu 2.849 litros de leite.

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