Universidades estaduais colocam Paraná no 5º lugar da pesquisa brasileira
A produção acadêmica das sete universidades estaduais paranaenses é um dos pilares para o Paraná estar entre os estados brasileiros que mais produzem ciência e inovação, colaborando para elevar a produção científica do país. Levantamento realizado este mês de maio junto às sete universidades estaduais demonstrou que nos últimos dois anos foram concluídas 5.735 dissertações de mestrados e teses de doutorados, uma produção acadêmica robusta, fruto da pesquisa realizada nos programas de pós-graduação oferecidos pelas instituições. Este levantamento também apontou a existência de 198 mestrados e 92 doutorados oferecidos nas várias áreas do conhecimento.
O impacto desta produção acadêmica foi evidenciado em detalhes no último relatório “Research in Brazil”, produzido pela equipe de analistas da Clarivate Analytics para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em 2016, e que colocou o Paraná na quinta posição brasileira do setor, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
O documento apontou que a pesquisa nacional teve forte impulso nas últimas três décadas, a partir de metas de investimento em pesquisa, em inglês Gross Domestic Expenditure on Research and Development (Gerd). O Brasil é hoje o 13º maior produtor de publicações de pesquisa (papers), com destaque para áreas como meio ambiente, psiquiatria, psicologia e matemática.
No Paraná, o número de estudantes matriculados nas sete instituições estaduais de ensino superior (IEES) espelha esta realidade. O Censo do Ensino Superior 2018, divulgado pela Superintendência de Ensino Superior, Ciência e Tecnologia (Seti), demonstrou que o sistema abriga 75.606 estudantes de graduação, em 388 cursos distribuídos em todas as regiões, capital e interior paranaenses. Os mais 190 mestrados disponíveis somam 7058 pesquisadores enquanto os mais de 90 doutorados reúnem 2.927 matriculados.
Outros dados que corroboram para dar uma dimensão da infraestrutura do sistema estão no Mapa de Investimentos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Os dados demonstram que o Paraná tem grande participação nos editais de financiamento de pesquisas científicas e tecnológicas nas diversas áreas do conhecimento, apoiando a concessão de bolsas, a publicação de artigos científicos e no fomento a grupos de pesquisa.
De acordo com o mapa, o CNPq dá apoio a 18 periódicos científicos, que representam 9,18% do total concedido em todo o país. O Paraná soma ainda 1744 Bolsas de Iniciação Científica (6,04%) e outras 377 de Iniciação Tecnológica e Industrial, 10,89% do total de incentivos concedidos em todo o país e outras 951 Bolsas Produtividade em Pesquisa Tecnológica, que representam 6,09% do total nacional.
O apoio a revistas científicas representa a disseminação da produção acadêmica em revistas especializadas, de alto nível para a comunidade científica internacional. Publicações do gênero só são possíveis quando há um grupo institucionalizado, bem avaliado pelos órgãos de fomento.
Outro dado disponível no mapa está relacionado ao apoio a projetos de pesquisas que beneficia diretamente 741 pesquisadores, correspondendo a 6,6% do total de benefícios concedidos em todo o país. Este número reflete o volume de projetos de relevância nacional, devidamente certificados pelo CNPq, a partir da qualidade e do impacto social e econômico. Os recursos servem para equipar laboratórios de alta complexidade, compra de material bibliográfico e para participação de estudantes e professores em congressos e eventos científicos.
O Mapa do CNPq ainda demonstra que o Paraná aparece com destaque na concessão de bolsas de estudos para as diversas categorias de pesquisadores. As bolsas de Iniciação Científica beneficiam 1.700 estudantes de graduação, alavancando a formação de mão de obra qualificada, que posteriormente poderá ser aproveitada nos programas de pós-graduação.
Outro destaque são as 951 bolsas de Produtividade em Pesquisa e Tecnologia que atendem pesquisadores de excelência, de nível internacional. São professores que em geral lideram grupos de pesquisa e programas de pós-graduação nas universidades paranaenses e que chegaram ao topo da carreira, alimentando a cadeia de pesquisa científica e de inovação com alta produtividade, inclusive com publicações nas principais revistas especializadas ao redor do mundo.
O superintendente de Ensino Superior, Ciência e Tecnologia (Seti), Aldo Bona, afirma que o sistema estadual tem papel destacado no resultado obtido pelo estado do Paraná. “Importante considerar que grande parte da produção científica nacional ocorre nos programas de pós-graduação. No caso do Paraná, o sistema estadual responde por mais de 60% de toda a produção Strictu Sensu, com foco no interior do estado. Por conta disso os resultados de produção acadêmica destes programas contribuíram e muito para elevar os índices obtidos pelo estado”, afirma.
De acordo com o superintendente, o desafio atual proposto às universidades é buscar a transformação deste conhecimento produzido em geração de riqueza e de renda para as próprias instituições, ou seja, fazer com que este ativo resulte em patentes e produtos, e como tal, fomente a captação de recursos para os Laboratórios e para as IEES. Outro desafio é fazer com que este conhecimento contribua diretamente para as regiões onde as instituições estão inseridas.
“Uma das ações que estamos estruturando é no sentido de fazer com que os programas e projetos apoiados pelo Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia tenham como critério de concessão a avaliação da inserção regional da proposta e do nível de parceria que o laboratório ou grupo de pesquisa tem com o estado, considerando outras universidades e o setor produtivo”, afirma Aldo Bona.
No que diz respeito aos royalties, o superintendente defende a criação de uma ampla estrutura de precificação do trabalho acadêmico para que possa haver a inserção de produtos no mercado, contribuindo com os pesquisadores, com as universidades e promovendo a integração das instituições de ensino. “Nós temos que encontrar estratégias para que todos os pesquisadores, estamos falando de cerca de 15 mil doutores, um grande ativo tecnológico, que possa continuar colaborando para o desenvolvimento, porém focado na captação de recursos para as próprias instituições de pesquisa e na resolução das questões regionais que promovam o desenvolvimento”.
Recursos estaduais – nos últimos 24 meses a Fundação Araucária investiu um total de R$ 69,98 milhões nos editais que fomentam a pesquisa nas universidades e institutos paranaenses, totalizando aproximadamente 6 mil bolsas de estudos em 327 projetos e programas. Na avaliação do diretor científico Luiz Márcio Spinosa, os recursos foram fundamentais para apoiar o ensino, a pesquisa e a extensão no sistema estadual. Segundo ele, a Fundação Araucária é a quinta maior instituição estadual de fomento e apoio à pesquisa no País.
“Sem esses recursos receio que a verticalização do ensino superior, a produção técnica, científica e a disseminação do conhecimento estariam seriamente comprometidos. Cabe lembrar que nossos editais, além de permitirem financiar estas atividades, possibilitam, ao mesmo tempo, captar recursos da esfera federal e de empresas privadas”, comenta o diretor.
Ele acredita que as pesquisas produzem o principal insumo na economia regional, que é o conhecimento. “Neste sentido o Paraná tem uma situação que o diferencia de outros Estados. Temos um sistema consolidado e bem distribuído, favorecendo o desenvolvimento. A atual gestão do Governo percebeu este cenário e fez a opção estratégica de promover o Estado por meio da inovação que passou a ser um dos principais pilares para nosso desenvolvimento nos próximos anos. O resultado esperado é maior geração de riqueza, ou seja, emprego e renda, e maior qualidade de vida”, comentou.
Por outro lado, o diretor científico afirma que se faz necessário maior mobilização e integração dos ativos e atores que compõem o sistema para intensificar a produção de ciência, tecnologia, conhecimento e capacitação ainda mais alinhados com as demandas locais de desenvolvimento socioeconômico. Ele adiantou que a Fundação Araucária vem trabalhando um novo modelo de apoio e fomento para as pesquisas, batizado como Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação (Napi’s).
Repercussão – pró-reitores de pesquisa das sete universidades estaduais são unânimes em afirmar que as instituições estão alinhadas com as demandas regionais. Mais do que isso, o volume de ciência, cultura, serviços e inovação produzidos movimenta o cenário econômico em todo o interior do estado, um ativo que diferencia e traz impactos importantes.
UNESPAR – “A Pró-reitoria em parceria com os programas de pós-graduação, a partir da realização de seminários, fóruns e reuniões tem procurando disseminar a cultura da inovação e acesso à tecnologia junto à comunidade acadêmica. Temos trabalhado também no apoio ao desenvolvimento de projetos de cooperação, envolvendo empresas nacionais, ICT e organizações de direito privado sem fins lucrativos e voltadas para atividades de pesquisa e desenvolvimento, que objetivem a geração de produtos e processos inovadores. A produção científica tem estreita relação com os problemas sociais das regiões nas quais os campi da Unespar estão inseridos”, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Unespar, Carlos Alexandre Molena.
UNIOESTE – “Todos os cursos têm impactos relevantes no desenvolvimento socioeconômico da região. Dentre as pesquisas desenvolvidas merecem destaque aquelas voltadas aos setores agropecuário e agroindustrial em função da importância econômica regional. As dissertações e teses tem forte inserção social, além disso, vários projetos contam com parcerias do setor produtivo local e nacional, bem como prefeituras, secretarias de Estados e associações. Merece destacar também que a Unioeste aprovou uma Chamada Pública – Programa Doutorado Acadêmico para Inovação (DAI) – concedendo 10 bolsas de doutorado para desenvolvimento de teses em projetos de interesse do setor empresarial, mediante parceria com empresas”, diretor de Pesquisa e Pós-Graduação da Unioeste, Edson Antonio da Silva.
UENP – “A produção dos Mestrados e do Doutorado é fundamental para o desenvolvimento da região na qual a Uenp se insere. No campo educacional, tendo em vista os mestrados profissionais na área de ensino, as dissertações impactam positivamente por estarem vinculadas à investigação teórica aliada à prática docente, o que contribui para a melhoria da formação dos profissionais em serviço. Nas Agrárias a produção promove o desenvolvimento regional, formando um profissional sensibilizado e comprometido com as necessidades do ambiente agrícola. Na área jurídica a produção científica se articula com diversos projetos instalados na área temática da violência, entre os quais se destacam o Núcleo de Estudos e Defesa de Direitos da Infância e da Juventude (Neddij), o Núcleo Maria da Penha (Numape) e o Patronato”, pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da Uenp, Vanderléia da Silva Oliveira.
UEM – “Um sistema de pós-graduação deve ser avaliado no contexto da formação de recursos humanos, pelos resultados de suas pesquisas e pelo impacto no meio social. Com pouco mais de 30 anos de atividades, nosso sistema tem trazido grande contribuição não só pelas pesquisas resultantes das teses e dissertações, mas pela formação de profissionais de alta competência nas diferentes áreas. Assim sendo, os programas de pós-graduação da UEM se destacam pela importância regional considerando não somente a qualificação dos profissionais que disponibiliza para a sociedade, mas também pela aplicação dos conhecimentos oriundos das pesquisas. Cabe destacar aqui as áreas de saúde, educação e agronegócio, onde pesquisas e ações realizadas têm grande impacto social”, Clóves Cabreira Jobim, pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UEM.
UNICENTRO – “Os programas de pós-graduação da Unicentro têm por princípio acadêmico a formação de recursos humanos qualificados (mestres e doutores), a geração de conhecimentos científicos e o desenvolvimento tecnológico nas variadas vertentes. Majoritariamente, os programas possuem pesquisas alinhadas com as demandas regionais, nos diversos contextos: ensino/educação, sociedade/desenvolvimento humano, saúde, meio ambiente, gestão/desenvolvimento econômico, produção agrícola e industrial. Por meio dos resultados das pesquisas temos como desafio a aproximação e a transferência destes resultados para os diversos setores da sociedade regional”, Marcos Ventura Faria, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Unicentro.
UEPG – “Através de editais a UEPG já construiu edificações relacionadas à pesquisa e adquiriu equipamentos em uma ordem próxima a R$ 20 milhões, com parcerias com o Finep, Capes, CNPq, Fundação Araucária, governo Federal e Estadual. A concessão de mais de 800 diferentes tipos de bolsas de pesquisa também favorece o comércio local, em uma escala de aproximadamente R$ 1 milhão por mês. Há uma constante busca e oferta de especializações, principalmente na área de direito e odontologia. Os programas Stricto sensu transitam em áreas como agricultura, saúde, humanas, sociais, estudos de linguagem, geografia, engenharias, física, bioenergia. Estamos comprometidos com pesquisa e com o avanço em áreas que possam fortalecer o vínculo com a comunidade dos Campos Gerais”, Giovani Marino Favero, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UEPG.
UEL – “Se considerarmos que a UEL é uma Universidade média, temos uma produção acadêmica proporcionalmente grande, com 77 programas fazendo ciência, cultura e inovação. Isto traz contribuições em todas as áreas, alterando o contexto regional. Não produzimos somente papers, que tem importância e mérito acadêmico, mas contribuímos regionalmente. Os reflexos estão, por exemplo, no setor de serviços. Hoje a saúde em Londrina é uma referência, sendo que os cursos do Centro de Ciências da Saúde fortalecem para que a cidade seja polo deste setor. Também colaboramos com as políticas públicas, melhorando a formação de professores para o ensino básico e médio. Veja que o ensino está ligado fortemente à pesquisa. E nesse quesito a UEL produz conhecimento, não é mero repassador”, Amauri Alfieri, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UEL.