Abruem publica nota oficial em defesa da democracia, da diversidade e das universidades
Há mais de 800 anos, as universidades se constituíram sob o signo da liberdade de pensamento e da busca por autonomia, fundando suas atividades, crescentemente, sobre a premissa da razão crítica e do método científico. As academias nasceram para serem vanguardas do pensamento, projetando-se tantas vezes para além do seu tempo, contribuindo, assim, para o processo civilizatório.
No Brasil, as universidades são um fenômeno relativamente tardio, mesmo em relação a vários países latino-americanos. Com sua emergência no cenário nacional, elas assumiram o papel de construir e socializar conhecimento, alavancar a ciência e a tecnologia e colocar o País em postos de destaque em muitas áreas do conhecimento.
Notadamente, as universidades públicas (federais, estaduais e municipais) cumprem este papel tão importante e caro à nação. No conjunto, todas as instituições de ensino superior, independentemente de sua natureza jurídica, devem ser vistas como elementos importantes dentro de um sistema que promove avanços no campo da educação, com evidentes reflexos na pesquisa, tecnologia e inovação.
Nos últimos anos, as nossas universidades têm sido vítimas de ataques à autonomia, aprofundando um processo de sucateamento e desmonte, que tem asfixiado financeiramente a maioria delas em quase todos os Estados. No quadro geral das crises fiscais, nem sempre tem se verificado a priorização da continuidade dos investimentos, não se fazendo jus à enorme e inegável contribuição que estas instituições prestaram e prestam para o desenvolvimento regional nos distintos Estados.
Mais recentemente, os ataques às universidades têm ocorrido também no terreno essencial da liberdade de ensinar e aprender. Ações e agressões se espalham pelo país no sentido de ferir esta liberdade que é constitutiva, desde as origens, da instituição universitária. Tais eventos ferem de morte esta instituição secular.
No momento atual, percebemos a nação brasileira esgarçada por uma disputa eleitoral e a sociedade sendo vitimada pela intolerância e pela repetição de práticas condenáveis em relação ao respeito pelo outro, à convivência tolerante e ao processo de construção democrática da sociedade. Com a percepção da alteridade e a convivência com o outro em suas idiossincrasias, emergiu e se mantém o modo democrático de viver em coletividade, colocando a justiça social como elemento norteador.
Sem a democracia restará a barbárie. Sem a garantia de liberdades individuais e o respeito às regras mais elementares de convivência pacífica em sociedade perde-se parte fundamental dos laços que nos trouxeram até aqui como nação. Não podemos assistir impassíveis a tais práticas!
Queremos proclamar, de forma clara, que defenderemos com todas as nossas forças as conquistas históricas da democracia em nosso país e conclamamos a todos e a todas a se juntarem a este propósito, nos diversos âmbitos de atuação. O ambiente universitário jamais poderá se tornar palco de intolerâncias e rupturas com os valores essenciais apregoados e defendidos como elos fundamentais de coesão nas sociedades modernas.
Defendemos e defenderemos o caráter público de nossas universidades e, com o mesmo vigor e a mesma veemência, os valores fundamentais da democracia em nosso país!
Somente a educação crítico-reflexiva poderá nos levar a patamares civilizatórios mais elevados, honrando as melhores tradições de tantos educadores, educadoras, importantes intelectuais, artistas e cientistas. Assim, sobre o pressuposto da diversidade que nos constitui como povo brasileiro, em consonância com os fundamentos da República, podemos olhar para o horizonte e continuar construindo uma sociedade livre, justa e solidária, com desenvolvimento regional e nacional, com diminuição das desigualdades, promovendo o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.