Filme francês “O Ódio” é tema de debate e conferência
O Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) e o Núcleo de Estudos de História da Violência (Nuhvi) trouxeram para o campus Irati da Unicentro o professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL), José Miguel Arias Neto. O professor ministrou a conferência “A História em Tempos de Ódio” e participou de um debate sobre o filme francês “Ó Ódio”, dirigido por Mathieu Kassovitz.
“É um filme de 1995 e ele enfoca exatamente o caso do assassinato de um jovem da periferia de Paris pela polícia. E, aí, o fato que desencadeou uma grande manifestação e um confronto das populações da periferia com a polícia”, explica José Miguel. O filme narra a história de três amigos – um árabe, um judeu e um negro – durante as primeiras 24 horas depois dessas manifestações.
Segundo o professor, o longa-metragem mostra como a identidade étnica é superada pela identidade do lugar e pelas relações sociais desses migrantes, que vão para Paris. Neste sentido, o filme antecipa o que foi a grande crise dos subúrbios parisienses em 2005 e que, desde então, permanece em constante tensão. José Miguel cita como exemplo um caso ocorrido em fevereiro de 2017, num subúrbio no norte da cidade, quando um rapaz foi seviciado pela polícia no metrô, sendo estuprado com um cassetete.
“Na verdade, a discussão do filme é: o que é esse ódio? Como ele surge? Como que ele se alimenta? Como que ele vive? Enfim, como nós reproduzimos isso no cotidiano? Então, é bem significativo isso. E tem tudo a ver com a realidade brasileira hoje se pensarmos a relação das populações com a polícia, os confrontos que estamos tendo, a repressão feroz que o Estado tem desencadeado com as populações que têm apresentado pautas de reivindicações. Então, tem a ver com esse nosso momento de ódio nacional”, destaca o professor.
Já na conferência “História em tempos de ódio”, José Miguel propôs que professores e acadêmicos pensassem o papel do historiador e do educador dentro deste universo, tendo em vista que muitos professores têm sido assediados dentro das escolas. “Os professores têm sido vítimas desse tipo de assédio – seja de partidos, de políticos, de famílias. Então, buscamos discutir esta nossa realidade, tanto do historiador que pesquisa esse momento, quanto do professor, daquele que está atuando, e também a formação dos nossos alunos diante deste mundo também”, conclui José Miguel.