Cine Unicentro lotado para discussão sobre violência contra a mulher
Todas as 90 poltronas do Cine Unicentro estavam ocupadas e ainda faltou lugar. Estudantes, professores e membros da comunidade guarapuavana ocuparam também os corredores laterais e centrais, sentando no chão ou permanecendo em pé até do lado de fora da porta do Cinema. Todos interessados em acompanhar o debate “Desigualdade de gênero: discutindo a violência contra a mulher” promovido pelo Núcleo Maria da Penha (Numape)-Polo Guarapuava-Florescer em parceria com o Centro Acadêmico Carmem da Silva (Cacs), de Comunicação Social, e com a Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres, nessa segunda-feira (29).
Um dos objetivos do debate foi apresentar para o público a origem do trabalho que está sendo desenvolvido pelo Numape-Florescer, projeto de extensão do Departamento de Comunicação Social financiado pelo programa Universidade Sem Fronteiras (USF), da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti). Para isso, foi exibido o videodocumentário “Florescer” elaborado a partir de relatos reais de mulheres que sofreram violência e conseguiram superá-la. O Florescer é um projeto que teve início em 2015, na disciplina de Projeto Experimental, do curso de Jornalismo, com a produção de materiais de comunicação sobre a violência contra a mulher.
A orientadora do Florescer e coordenadora do Numape Guarapuava, professora Ariane Pereira, do Departamento de Comunicação Social da Unicentro, ressaltou em sua fala a importância do discurso jornalístico como instrumento de transformação social. “Nessa noite, essa nossa reunião informal, tem o objetivo de que nós sejamos uma parte a mais naquele cabo de guerra que diz o que pode e não pode em relação ao feminino, o que pode e não pode na relação homem e mulher, na relação familiar, na relação pessoal, nas relações do dia-a-dia. A realidade não muda por ela mesma, ela muda se a gente quiser e buscar a mudança. E, nesse sentido, o Jornalismo é fundamental. E é por isso que a gente tem a proposta do Florescer. Porque o Jornalismo, de modo nenhum, simplesmente é um retrato de realidade, o Jornalismo, há muito tempo, nos diz diariamente como ler o mundo e se posicionar nele”.
O vice-presidente do Cacs, Douglas Kuspiosz, destacou a parceria com o Numape-Florescer e a importância em discutir desigualdade de gênero na Universidade. “Se você abre os boletins de ocorrência da Polícia Militar, todo dia tem um caso de agressão contra a mulher. Eu acho que é, realmente, importante a gente discutir gênero para tentar desconstruir essa ideia de que a mulher é um objeto de posse, que a mulher é inferior. E através dessas parcerias, como hoje com a Numape, a gente enriquece a discussão e consegue fazer um trabalho bem interessante para a sociedade e o Campus”.
No sentido de aprofundar as discussões sobre violência contra a mulher foram convidadas duas representantes da Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres de Guarapuava. A secretária Priscila Schran de Lima levantou questões acerca da representação do corpo feminino em nossa sociedade. “Como a gente enxerga o corpo feminino? Eu fiz uma busca no Google, eu coloquei lá ‘corpo feminino’, apareceram vários corpos, todos de lingerie. Coloquei ‘corpo de mulher’ apareceram vários corpos também de lingerie e apareceram muitos corpos violentados, mortos, com hematomas. A sociedade coloca no corpo feminino uma carga gigantesca. O corpo feminino é sedutor, é pecador, é frágil é incapaz, é profano, é um objeto, ele é público. Essas questões sobre o corpo feminino incomodam muito”.
A atual secretária de Políticas Públicas para Mulheres, que também participou do trabalho inicial que deu origem ao Numape-Florescer, frisou a importância do Jornalismo na rede de combate a violência contra a mulher. “A gente tem que entender que a violência contra a mulher não é um problema isolado, ele é reflexo de uma cultura machista, patriarcal. A gente sempre tem que problematizar esse tema em cada matéria e produzir conhecimento em cada matéria. Essas mudanças culturais também podem ser resultado do trabalho jornalístico. O Florescer vem suprir, também, essa necessidade de mudança cultural, porque a proposta não é ser só mais um produto para falar de violência contra a mulher, a proposta é trazer a partir da vivência, da dor de cada mulher, como que elas superaram”.
A assistente social da Secretaria, Thalyta Forquim Buco, apresentou informações mais pontuais sobre o tema, explicando os cinco tipos de violência contra a mulher – física, sexual, moral, psicológica e patrimonial – e como se dá o ciclo da violência. “É importante as mulheres estarem cientes dos tipos de violência e como essa violência ocorre no dia-a-dia. Às vezes, elas estão passando por algum tipo de violência e nem sabem. Esse evento é importante para que elas saibam que não estão sozinhas. Existem entidades para atendê-las, temos políticas públicas contra a violência. É importante que elas tenham conhecimento sobre como fazer as denúncias”.
Luana Ribeiro, 21, ficou sabendo sobre o evento através do Facebook e compareceu para participar da discussão. “Acho que é importante discutir gênero na Universidade porque é um lugar que abrange todo tipo de pessoa. Sou feminista, já fiz parte de um coletivo de Guarapuava, e eu acho importante porque as pessoas têm que entender que a violência contra a mulher não é só a física, ela vem desde um xingamento, desde você opinar na vida dela por algo que ela não te perguntou”.