Certificação participativa e de cogumelos são novidades no Programa de Orgânicos

Na área rural da região de Irati, na localidade de Arroio Grande, mora a dona Terezinha de Lima. Quem chega a casa dela, logo se depara com uma mesa repleta de pães, massas e biscoitos. Esses produtos têm um diferencial para além do sabor Eles são orgânicos. É que a dona Terezinha faz parte de um grupo de produtores da região que, recentemente, recebeu o certificado de produção orgânica, emitido pelo Programa Paranaense de Certificação de Produtos Orgânicos. “A certificação orgânica é um sistema criado pelo Ministério da Agricultura. É uma legislação que atesta para quem está comprando que aquele produto foi produzido dentro do sistema orgânico”, explicou o professor Jackson Kawakami, coordenador do Núcleo Guarapuava do Programa.
Para conseguir e manter a certificação, é preciso seguir algumas orientações na hora de produzir os alimentos. A fruta usada para fazer uma geleia, por exemplo, tem de ser cultivada sem o uso de agrotóxicos. O trigo para fazer pães ou bolinhos também precisa ser orgânico. Esses alimentos chegam até o mercado acompanhados por um rótulo do programa, que serve como uma garantia de que o produto foi preparado dentro das normas necessárias.
O Programa de Certificação de Produtos Orgânicos, no Paraná, é desenvolvido por uma parceria entre as universidades estaduais, o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), e a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), e, atualmente, está em sua terceira fase. Na Unicentro, que coordena o Núcleo de Guarapuava, o programa teve início em 2009 e já certificou mais de cem produtores da região.

Pela primeira vez, uma produção de cogumelos recebe a certificação (Foto: Fagner Busmayer)

As certificações de produtos orgânicos podem ser feitas de três formas: a certificação auditada; a certificação por meio de Organização de Controle Social; e a certificação participativa, que é novidade para o Núcleo de Guarapuava. O grupo de produtores de Rio Azul foi o primeiro assistido pelo Núcleo através do sistema de certificação participativa. “Essa certificação é em grupo. Há necessidade de mais de uma entidade certificadora. Aqui no estado do Paraná nós temos a Rede Ecovida, que trabalha em parceria conosco, e faz essa auditoria também. Nessa primeira experiência participativa, foram 33 produtores certificados de uma só vez. Eles estão aptos a produzir, comercializar a sua produção e beneficiar a sociedade como um todo”, contou o professor Jackson.
A dona Terezinha, mencionada no início da matéria, faz parte desse grupo. Para ela, ter seus produtos certificados é motivo de alegria. Afinal, a produtora rural sabe que ao mesmo tempo em que os consumidores serão beneficiados com produtos 100% orgânicos, ela terá um incremento na renda resultante da venda dos produtos da ordem de 30%, que é a diferença entre o preço final em relação aos produtos não orgânicos. “Eu quero melhorar cada dia mais o que for preciso. Eu acho que a certificação é uma coisa muito boa, que eu estou disposta a renovar sempre”, disse.
Até então, o Núcleo de Guarapuava havia realizado somente a certificação por auditoria, que é individual. “Nesse caso, produtor também tem que obedecer a toda legislação e são órgãos registrados no Ministério da Agricultura que certificarão essa produção. Há um auditor que passa, faz toda a checagem para ver se a pessoa está realmente fazendo a produção conforme a legislação permite”, explicou o professor Jackson.
As auditorias são feitas por profissionais do Tecpar, o Instituto de Tecnologia do Paraná. Jefferson Zamboni é um dos auditores responsáveis pela avaliação das propriedades que estão pleiteando a certificação. “Avaliamos a documentação da propriedade, vemos os registros do produtor e encaminhamos ao Tecpar para avaliação da documentação. Seguimos todas as instruções normativas da produção orgânica, para ver se o agricultor está cumprindo a legislação e mandamos a nossa avaliação para que seja definido se o produtor está apto a receber a certificação. Depois de seis meses, fazemos a auditoria de supervisão para ver se o produtor continua estando apto, cumprindo o combinado feito na auditoria inicial”.

Emanuel e Jackson comemoram a certificação de mais uma propriedade (Foto: Fagner Busmayer)

Na certificação auditada, o programa também tem novidades. Recentemente, uma produção de cogumelos foi certificada. “É o primeiro cogumelo certificado pelo nosso projeto em todo o Paraná. Então, é uma satisfação a gente ter o primeiro produtor certificado dentro do nosso projeto, dentro do nosso estado, em termos de produção orgânica de cogumelo”, contou o professor Jackson.
Essa conquista ocorreu na propriedade do Emannuel Sanchez. Ele trabalha com a produção de cogumelos desde os anos 1980. Para atender a demanda dos mercados da região, ele quis o selo para oficializar a produção como orgânica. “O nosso mercado está se culturalizando, os seja, as pessoas estão começando a ver que o selo realmente certifica um produto. Hoje as pessoas já sabem que se uma empresa, uma certificadora de renome bota seu selo naquele produto, aquilo realmente não tem contaminação. Devido as pessoas estarem se voltando muito para a qualidade de vida, elas estão vendo que não consumir produtos químicos e agrotóxicos é sinônimo de saúde”, disse Emmanuel.
Ao longo dos oito anos de trabalho, o Núcleo Guarapuava do Programa Paranaense de Certificação de Produtos Orgânicos já obteve muitas conquistas. A expectativa, agora, é que o número de produtores certificados na região continue crescendo. “Nós estamos crescendo, estamos ganhando experiência e, o que é mais importante, nós estamos devolvendo para a sociedade o dinheiro que é investido através dos seus impostos, em última instância na certificação do produtor, na fixação dele no meio rural, na produção de alimentos de boa qualidade e na preservação ambiental”, destacou o professor Jackson.

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