Extensão amplia impacto da universidade nas comunidades
Três vezes por semana, Candida Cristina Bertão passa a tarde com crianças internadas no Hospital São Vicente, em Guarapuava. A estudante do terceiro ano de Pedagogia da Universidade do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro) faz recreação e acompanhamento escolar, para que uma possível internação longa não atrapalhe o rendimento escolar das crianças. Nos outros dois dias da semana, Candida, de 20 anos, prepara as atividades que vai desenvolver no hospital.
Em Londrina, o engenheiro de computadores Marcos José de Barros descobriu que fazia tudo errado na loja de confecções que possui com a mulher. Aprendeu a planejar no curso para empreendedores Bom Negócio Paraná, que o governo oferece em quase todos os municípios do Paraná em parceria com as universidades, salvou a loja e lembra-se do lamento do colega de curso, Carlos, que afirma “se eu tivesse o Bom Negócio quando eu abri meu negócio, não teria apanhado tanto”.
Tanto o Bom Negócio Paraná como a atividade de Candida com crianças hospitalizadas fazem parte de programas de extensão realizados pelas universidades estaduais públicas do Paraná, ampliando o impacto e a presença das instituições nas comunidades em que estão inseridas. As sete universidades estaduais estão presentes, fisicamente, em 40 dos maiores municípios do Estado e mantêm mais 50 polos de ensino a distância.
Injeção de recursos – Enquanto o mundo procura formas de mensurar o impacto das instituições de ensino superior no desenvolvimento econômico de Estados e municípios, estudo preliminar da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) revela que o impacto financeiro na região em que atua é maior que o de uma empresa de grande porte. Apenas a presença física da instituição foi responsável, no primeiro semestre de 2013, pela injeção de mais de R$ 132 milhões na economia do Oeste paranaense entre salários e investimentos em bolsas de pesquisa, ensino e extensão.
Boa parte dos recursos que movimentam as economias regionais chega por meio de bolsas estudantis, tanto de iniciação científica e monitoria. Em média, R$ 2 milhões são injetados anualmente nos cinco municípios que têm campus da Unioeste, por essas bolsas que, também em grande parte, são pagas a estudantes e orientadores de programas de extensão.
De acordo com dados da Unioeste, em 2012, os projetos de pesquisa e extensão, que também contribuem no crescimento econômico da região, injetaram em torno de R$ 15 milhões nas cidades em função de termos de cooperação com organismos federais, estaduais e organizações privadas.
“É muito difícil avaliar esse impacto sem um estudo adequado”, explica o presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Gilmar Mendes Lourenço, “mas é visível que as universidades e as faculdades estaduais representam um flanco muito importante para o desenvolvimento regional”. O Paraná investe cerca de R$ 1,3 bilhão por ano nas sete universidades, onde circulam mais de 120 mil estudantes. Só isso bastaria para afirmar-se que se trata de uma movimentação econômica bastante expressiva. Mas Lourenço lembra que um novo foco, o empresarial, vem agregar-se em função da Lei da Inovação, que tende a aproximar o setor produtivo das instituições de ensino superior, transformando a “escala laboratorial em escala empresarial”, avalia. Lourenço afirma vislumbrar “grande vetor de desenvolvimento” a partir das universidades nos próximos anos.
Grande parte dos programas e projetos de extensão é financiada pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), a quem as universidades são vinculadas. Uma média de R$ 12 milhões por ano é investida na presença de alunos e professores nas regiões mais remotas de municípios de pequeno porte, em especial, levando assistência social e jurídica a populações menos assistidas; assim como atividades culturais, como o Cine Fecilcam, que leva filmes a pequenas comunidades da região de Campo Mourão; ou o ensino de artesanato com materiais locais para complementar a renda familiar de mulheres de Guaraqueçaba que trabalham o chamado couro de peixe.
É difícil mensurar o número de pessoas atingidas e beneficiadas pelos programas de extensão das sete universidades estaduais. Para se ter uma ideia, no entanto, basta dizer que a Universidade Estadual de Maringá (UEM) mantém projetos em 158 municípios; na Universidade Estadual de Londrina (UEL), cerca de 2,1 mil alunos estão envolvidos em projetos em execução, que se estima atinjam cerca de 400 mil pessoas.
Com 199 projetos em andamento em 79 municípios, a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) leva atendimento e conhecimento a populações carentes especialmente nas áreas de Direitos Humanos e Justiça, Meio Ambiente e Saúde. A Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp) 250 alunos trabalham na prevenção da dengue, saúde da criança e na agregação de renda na agricultura familiar, entre outras áreas.
Eixos – Com a experiência de 34 anos como professor e 11 anos como reitor da UEPG, o secretário da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, João Carlos Gomes, afirma que a extensão tem papel importante no bem estar social e no respeito a populações menos assistidas, e, em muito casos, a garantia de valores e direitos dessas comunidades.
A Unioeste, por exemplo, oferece à comunidade atendimento odontológico e clínica de reabilitação. Em 2012, foram mais de 25 mil atendimentos no centro de reabilitação física e mais de 20 mil atendimentos na clínica odontológica. Isso revela o impacto social da instituição, o que acontece também com a Clínica Odontológica Universitária da UEL, que só em 2012 atendeu mais de 95 mil pacientes e realizou 225 mil procedimentos. A clínica é considerada referência no atendimento odontológico, a maior prestadora de serviços da área entre as Instituições de Ensino Superior do Estado (IES). Além disso, é a única do Brasil que mantém Pronto Socorro Odontológico 24 horas.
Já a Clínica de Especialidades Infantis (Bebê Clínica), realizou cerca de 6,5 mil atendimentos e 57,8 mil procedimentos odontológicos em 2012. Além do atendimento, os dois serviços são campo de estágio e atividades acadêmicas para estudantes do curso de Odontologia da UEL, servindo de suporte para o desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão.
A extensão universitária é um dos três eixos do ensino superior, ao lado do ensino e da pesquisa. É tão importante para a comunidade como para os alunos envolvidos. Como explica a pró-reitora de Extensão e Cultura da Unicentro, Marquiana Vilas Boas Gomes, não se trata de mão de obra barata – os estudantes recebem bolsas, embora às vezes apenas simbólicas –, mas é atividade que contribui fortemente para a formação do aluno em todos os sentidos, incluindo a tomada de consciência com relação ao comprometimento social e a percepção da responsabilidade pelo que é público, no caso das universidades estaduais.
Para Candida, a estudante de Pedagogia, a extensão também serviu para ampliar as oportunidades de trabalho que seu campo oferece e confirmar a vocação. “Eu não sabia da variedade de opções que a Pedagogia oferece, além da sala de aulas, como no hospital mas também em empresas”, explica, e ainda complementa: “descobri onde pretendo atuar”.
Projetos de sucesso – Levando em conta que projetos de extensão abrem caminho, muitas vezes, ao primeiro emprego e coloca estudantes das universidades públicas do Paraná em contato com a profissão e a comunidade, há alguns programas que se destacam pela repercussão social que obtêm. Um deles é o Núcleo de Estudos e Defesa dos Direitos da Infância e Juventude (Nedij), que mantém oito escritórios nas universidades estaduais para prestar assistência jurídica a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, o que inclui ações de guarda, alimentos e investigação de paternidade, entre outras ações. São mais de 5 atendimentos a cada mês, para uma equipe que inclui advogados, psicólogos, pedagogos e assistentes sociais, enviados ao Nedij, por exemplo, pelo próprio Conselho Tutelar, por delegacias e escolas.
O Programa Bom Negócio Paraná, por seu lado, já chegou a 95 municípios do Estado e pretende estar em 200 até o final deste ano. A ideia é evitar a morte de micro e pequenas empresas e fortalecer o empreendedorismo, com a criação de empregos e geração de renda. O programa oferece cursos e consultorias a micro, pequeno, médio e informais empreendedores, para melhor gerenciamento dos negócios, financiando projetos que venham promover o desenvolvimento local por meio de ações de capacitação e orientação.
Fonte: Seti