Estudantes da Unicentro levam debates sobre equidade a centenas de profissionais de saúde da região de Irati
Acadêmicos do Câmpus de Irati da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) estão promovendo ações formativas e preventivas nos nove municípios da 4ª Regional de Saúde. As atividades são desenvolvidas pela equipe do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde, o PET-Saúde Equidade, e já atingiram centenas de profissionais da região.
A iniciativa busca sensibilizar e qualificar profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) para serem mais equitativos. Para isso, os alunos levam conteúdos sobre questões de gênero, raça, classe, sexualidade, deficiência, entre outros marcadores sociais, e incentiva a adoção de práticas inclusivas para que todas e todos tenham acesso a serviços de saúde de qualidade, independentemente de suas características.

Cartilhas informativas também foram entregues aos profissionais de saúde contemplados com as ações do PET na região de Irati (Imagem: reprodução)
“Essas ações se constituem em uma exposição dialogada sobre conceitos e temas tratados nesta edição do PET. Na sequência, acontecem rodas de conversa, momentos de escuta e oficinas interativas. Também são disponibilizadas cartilhas e materiais de apoio sobre diferentes temáticas”, detalha a professora Maria Angélica Binotto, coordenadora do PET-Saúde Equidade em Irati.
O grupo da Unicentro conta com 27 integrantes, entre estudantes de Psicologia, Fonoaudiologia, Educação Física e História, professores tutores e profissionais da 4ª Regional. As atividades na comunidade vêm sendo realizadas desde abril em Irati, Inácio Martins, Fernandes Pinheiro, Guamiranga, Imbituva, Mallet, Rebouças, Rio Azul e Teixeira Soares. Cada município recebeu, pelo menos, duas visitas da equipe.
As intervenções foram organizadas por dois Grupos Tutoriais de Aprendizagem (GATs): enquanto o GAT 1 focou na prevenção à saúde, o GAT 2 fez ações formativas.
Prevenindo a saúde e combatendo violências
No GAT 1, “cuidar de quem cuida” foi a frase motivadora das ações, pensando sempre na relação entre saúde e equidade. “A gente propôs uma prática de atividade física, falamos da sua importância, das barreiras que estão ligadas à falta de tempo, de dinheiro. Puxamos também a questão de gênero, por exemplo: as mulheres quando vão se exercitar, às vezes, se sentem mal por fazer isso na rua e correr o risco de ser assediada”, contextualiza a estudante de Psicologia Luana Gaioski, integrante do PET-Saúde.

GAT 1 promoveu atividades de prevenção à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras da 4ª Regional de Saúde (Foto: arquivo pessoal)
A equipe também expôs dados sobre violências contra as mulheres e informações sobre a saúde de trabalhadores e trabalhadoras. Tudo para, ao final, pensar soluções em conjunto com os 300 profissionais atendidos pelo GAT 1. “Criamos estratégias junto com eles para ajudar nessa prática de atividade física, nesse cuidado com a saúde no dia a dia”, conta a professora Edina Camargo, tutora do GAT 1.
Durante os encontros, o grupo salientou que intervir em casos de violências contra as mulheres também é uma forma de cuidar da saúde. “Esse é um problema de saúde pública. A gente tem que conversar sobre isso e saber quais estratégias o município utiliza quando alguém chega relatando violência ou quando eu percebo que tem uma mulher sofrendo violência”, discorre Edina.
A chefe da Vigilância Sanitária, Ambiental e Saúde do Trabalhador em Irati, Ana Clara de Andrade Jorge, é preceptora do PET-Saúde Equidade nos serviços da 4ª Regional. Ela conta que o programa têm feito profissionais da área repensarem o atendimento a populações vulnerabilizadas. “Os trabalhadores têm relatado que os momentos proporcionados pelo PET têm ampliado sua percepção sobre o papel do serviço público na garantia de direitos e no enfrentamento das desigualdades”, pontua. “Com o apoio do grupo, os profissionais passaram a refletir mais criticamente sobre suas práticas, identificar situações de racismo, preconceito e barreiras de acesso, e buscar abordagens mais humanizadas e respeitosas”, completa Ana Clara.

Entre as intervenções, acadêmicos da Unicentro incentivaram a realização de atividades físicas como cuidado com a saúde (Foto: arquivo pessoal)
Unindo teoria e práticas
No segundo grupo, o foco da atuação foi formar cerca de 250 profissionais da 4ª Regional para conhecer e praticar a relação entre saúde e equidade. “Os alunos fizeram apresentações dos conceitos relacionados aos temas. Eles idealizaram e decidiram qual era a vivência que ia ser feita e depois ajudaram a conduzir rodas de conversa”, detalha a professora Perla Martins, tutora do GAT 2.
“O cuidado na saúde precisa ser mais humanizado e favorecer a inclusão e o respeito às pessoas, suas escolhas de vida e diversidades”, justifica a docente sobre a necessidade desse processo formativo.
A estudante de Psicologia Aldilana Rafaelly Maia Bona ressalta que essas experiências contribuem muito para a sua formação. “Desde estudar as temáticas e pensar sobre elas, até poder planejar formas de dialogar a respeito delas, que por vezes acabam sendo tabus ou temas difíceis de serem conversados”, discorre. “Também é muito importante ter esse contato com profissionais que estão atuando no cotidiano do serviço, em contato com a realidade da população”, complementa a aluna.

GAT 2 focou na formação em saúde e equidade para quem trabalha no SUS (Foto: arquivo pessoal)
Além dos benefícios para estudantes da Unicentro, essas iniciativas têm transformado quem atua na 4ª Regional. “O PET contribuiu para uma mudança de olhar sobre o atendimento às populações em situação de vulnerabilidade. O projeto proporcionou um espaço de acolhimento, escuta e construção, sensibilizando quanto aos temas da equidade”, avalia Paola Emiliano de Morais, que é chefe da Vigilância Epidemiológica de Irati e orienta as ações do PET nos serviços de saúde.
O trabalho continua
Com intuito de conhecer e dialogar melhor com quem atua no SUS, a equipe do PET aplicou um questionário durante os encontros nos municípios. O intuito é mapear perfis e experiências de profissionais em relação à saúde mental e física e a eventuais violências. A pesquisa contribui para levantar demandas e dar subsídios para que o PET aperfeiçoe suas próximas intervenções.
As atividades continuam no segundo semestre com a oferta de conteúdos de maneira online. “Vamos fazer a indicação de leituras, de filmes e estamos idealizando atividades de fixação, para que essas ações do PET se tornem ações formativas, com uma certificação”, antecipa a tutora Perla.
Para a coordenadora do PET-Saúde Equidade em Irati, o programa é uma ponte entre a universidade e a comunidade, qualificando atuais e futuros profissionais da área. “Tem sido um tema desafiador, mas, ao mesmo tempo, tem contribuído para o debate sobre essas temáticas e, certamente, para uma formação mais qualificada para os estudantes, futuros profissionais da saúde que atuarão nesses espaços”, finaliza a coordenadora Maria Angélica.
Por Amanda Pieta