Semana de História apresenta resultados recentes de pesquisas sobre povos tradicionais
Para debater História e Cultura dos Povos Tradicionais e sua relação com o momento atual do país, foi realizada a XI Semana de História do campus Irati da Unicentro. O evento integrou também a IV Jornada de Integração Graduação e Pós-Graduação e o VI Seminário de Estudos Étnico-Raciais.
A coordenadora da Semana, professora Alexandra Lourenço lembra que em uma reunião envolvendo o Departamento de História, composto também por sociólogos e filósofos, cada um em sua linha de pesquisa, e aqueles que pesquisam povos tradicionais, em especial, indígenas, quilombolas, faxinalenses, os professores trouxeram os resultados das suas últimas pesquisas e visitas a campo. Segundo Alexandra, o que se percebeu é que devido as novas configurações do cenário político brasileiro estas comunidades começavam a vivenciar uma série de pressões.
“São comunidades que têm alguns direitos garantidos, muitos conquistados através de movimentos e lutas sociais. E no momento em que a sociedade começa a questionar os direitos delas, das minorias, dos movimentos sociais e todas essas conquistas desses povos que durante tanto tempo ficaram esquecidos, foram silenciados, eles começam a ser colocados em xeque e questionados”, ressalta a professora.
Alexandra cita como exemplos visitas que fez com alunos ao Quilombo Paiol de Telha e, também, situações vivenciadas por outros professores junto a comunidades faxinalenses e indígenas. Ela explica que este é um fenômeno social, ou seja, sempre que os direitos de determinados grupos sociais começam a ser questionados, não apenas a sociedade à volta começa a olhar esses grupos com olhar desconfiado, mas dentro do próprio grupo ao ver suas conquistas sendo questionadas, cresce a insegurança, e até mesmo a possibilidade de conflito interno. Por isso, a Semana de História se prestou a discutir a realidade efetiva desses grupos.
“É pensar quem são esses povos, não permitir que eles fiquem no silêncio. Trazer visibilidade, mas também, os últimos diagnósticos das pesquisas mais recentes que mostram a realidade efetiva desses grupos no momento atual. Porque entre o que sai em um artigo ou em um livro publicado, e o que está acontecendo no dia de hoje, no mês passado, há uma distância relativa pois aquilo que foi publicado há um ano atrás sobre o Paiol de Telha, não correspondia minimamente com a realidade que constatamos esse ano do que eles estavam vivenciando. Então entre as pesquisas, de um ano atrás e o que eles estão vivendo há uma distância”, afirma.
Segundo Alexandra, a integração dos três eventos possibilitou uma troca de conhecimentos ainda mais rica. Professores e alunos de pós-graduação de outros municípios também participaram, o que ajudou numa espécie de mapeamento da realidade desses povos no estado. Para a professora, as comunicações orais trouxeram os resultados mais recentes das pesquisas, o que contribuiu muito para perceber a realidade sob um aspecto mais imediato.
“Com certeza as comunicações promoveram momentos interessantes. Para além dos alunos de outras universidades que vieram, também houve situações no campus, como alunas do primeiro ano de Fonoaudiologia que desenvolveram um trabalho na disciplina de Antropologia e se inscreveram e apresentaram uma comunicação. Então promoveu uma certa interlocução entre cursos também. O principal destaque da nossa programação foi a conferência de abertura com o professor Dimas Floriani da UFPR [Universidade Federal do Paraná]. Ele nos propôs uma reflexão epistemológica, científica mesmo, para pensar o eixo sobre o qual nós olhamos esses povos e a necessidade de sair inclusive de um eixo, de uma perspectiva científica europeizante, e pensar a realidade desses povos segundo a nossa própria realidade científica”, conclui Alexandra.