Luiz Mott fala sobre homofobia e sua relação com a Inquisição Portuguesa

Luiz Mott fala sobre homofobia e sua relação com a Inquisição Portuguesa

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O Campus Irati sediou na última quarta-feira (12), a palestra “A Inquisição Portuguesa e a homofobia no Brasil”, ministrada pelo antropólogo e historiador Luiz Mott, um dos fundadores da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT). A dedicação à análise histórica fez de Mott um dos principais pesquisadores acerca de temas como escravidão, Inquisição, religiosidade e sexualidade no Brasil.

O coordenador do Programa de Pós-Graduação em História da Unicentro, professor Helio Sochodolak ressalta que Mott é um exemplo de militância pelos direitos das minorias e pelo respeito a diversidade sexual. “A sociedade brasileira precisa dar um salto qualitativo na questão dos direitos humanos e do respeito com as diferenças. Temos condição de fazer isso, o Brasil tem uma certa aptidão para as diferenças, mas é preciso exercitar. Percebe nas práticas cotidianas que isso ainda não acontece na sua plenitude, e iniciativas como as de Mott contribuem para melhorar a questão das boas relações humanas”, acrescenta Sochodolak.

Mott conta que a Inquisição Portuguesa foi encarregada da perseguição aos sodomistas, que eram os gays, e a homossexualidade era considerada um pecado e um crime. “A Igreja reprimiu o adultério, os bígamos e os padres imorais mas também, os praticantes da homossexualidade. Durante os 300 anos em que funcionou a Inquisição em Portugal e no Brasil, foram perseguidos e presos centenas de homossexuais”, explica.

A Inquisição criou um clima de terror na medida em que os homossexuais poderiam ser presos, açoitados, terem bens sequestrados, ou ainda, serem degredados para a África ou para regiões remotas. Os que eram considerados como “mais culpados” eram queimados na fogueira. Segundo Mott, foi a Inquisição que criou no Brasil a homofobia cultural, fornecendo a ideologia que justifica a intolerância contra os homossexuais.

O termo homofobia é um conceito recente, cunhado por um psicólogo dos Estados Unidos em 1966, e significa o ódio e a intolerância aos homossexuais. Para o antropólogo, a homofobia é um tipo de racismo anti-homossexual e incluiu os gays, as lésbicas e os travestis. Quando existem discriminações específicas para algumas dessas minorias então pode-se falar em lesbofobia e transfobia, embora a homofobia seja um conceito chave que engloba todos esses segmentos.

“A homofobia se manifesta através da cultura, quando a sociedade considera que o gay é inferior, que não merece confiança. Existe a homofobia institucional quando o Governo não garante a segurança da comunidade gay, e ainda, a homofobia individual quando como o Freud diz que as pessoas que não resolveram a sua própria sexualidade não conseguem ver tranquilamente um homossexual e querem agredir, bater e matar”, frisa

Atualmente, o Brasil é o campeão mundial de assassinatos a homossexuais. A cada 28 horas um gay ou um travesti é assassinado no país, esse ano já são 255 casos registrados. No Paraná, nos últimos 30 anos foram 219 assassinatos de gays, travestis e lésbicas, um número que conforme Mott, certamente é maior porque muitos não são documentados. Somente em 2014, já são 14 assassinatos no estado.

“Espero que essa minha palestra aqui na Unicentro represente um momento de reflexão para todos aqueles que ainda têm preconceito possam se libertar dessa ignorância, e que possam ter relações mais solidárias e tolerantes com a população homossexual que representa 10% da população brasileira. É fundamental que o Governo garanta políticas públicas para que todos sejam tratados com igualdade, mas também, que as próprias pessoas, os professores e a universidade ensinem a verdade: que ser gay não é crime, não é pecado e que todos somos cidadãos humanos. O que os gays querem é direitos iguais”, finaliza.

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