Projeto “Produzindo História ” 2019 – Por Iasmim Iaci dos Santos Beranger
Manifesto sobre a luta das Mulheres Russas contra a prostituição e dominação masculina no início do século XX.
Na atualidade as discussões sobre gênero estão fervorosas. Podemos ter uma profundidade teórica sobre essas questões ao analisarmos a Rússia no início do século XX. Diversos foram os textos, artigos e movimentos em prol do sufrágio universal e a busca por uma igualdade plena entre os sexos. Durante o I Congresso de Mulheres de Toda a Rússia, a autora Maria I. Pokróvskaia, responsável por artigos populares sobre higiene e direitos das mulheres, escreveu no ano de 1908 um item chamado “Como as mulheres devem lutar contra a prostituição”.
A autora investiga os motivos das mulheres recorrerem à prostituição, identificando como causas principais: a ignorância, o abandono na infância, a vulnerabilidade social e principalmente a necessidade econômica. De acordo com Pokróvskaia, o que levava a mulher realizar essa prática tinha motivos diferentes dos homens, esses que se envolviam unicamente por desejos fisiológicos, desejos que a autora indica nunca serem restringidos. Descreve a autora:
“A satisfação do instinto sexual dos primeiros é considerada tão primordial que eles se concedem o direito de sacia-lo como for. Já no caso das mulheres, exige-se que elas saciem seu instinto sexual apenas no casamento” (POKRÓVSKAIA, 1908).
Em seguida a autora constrói toda uma linha de argumentos para mostrar que os saberes populares, juntamente com uma moral patriarcal, aliado a dogmas religiosos e uma educação repressiva ensinaram as mulheres a conterem seus impulsos e se satisfazer unicamente em determinados momentos no casamento, se esse ocorrer.
Se mostrando contraria a esse pensamento dominante que oprimi os desejos femininos, Maria I. Pokróvskaia afirma que alguma coisa precisa ser feita para acabar com a dominação dos homens sobre as vidas das mulheres, para que sua liberdade sexual seja igual independente do sexo.
A autora expõe fortemente em seu texto que os maiores usurpadores da liberdade feminina e feitores da prostituição são os homens, esses que nunca são punidos por essa prática. Legalmente se alguém é julgado pelo comercio do corpo, esse alguém é um intermediário do processo, como os cafetões, no qual dentro desse sistema falho, o homem em geral continua se safando de seus atos.
Para finalizar sua argumentação a autora acredita que os homens devem ser penalizados pela prática de compra dos corpos femininos, eles também devem ser reconhecidos como participantes do crime e punidos, só assim a prostituição seria eliminada. O último problema que ela aponta, seria que o legislativo, esse que deveria punir os homens por seus atos são compostos por homens, que não estão dispostos a abrir mão de seus privilégios, como solução a autora coloca a importância de mulheres terem vidas políticas ativas e se inserirem no poder, sendo parte também do legislativo e lutando pelo seu próprio interesse.
Esse trabalho apresentado no I Congresso de Mulheres Russas, em 1908, representa a modificação da mentalidade das mulheres nessa sociedade, essas que se identificam não só mais como donas de casa, mas também como intelectuais e trabalhadoras dos campos e cidades. A partir desse momento, as mulheres se mostram como um sexo autônomo, falando sobre seu corpo e universo, mostrando seus anseios e sonhos.
Referências Bibliográficas:
SCHNEIDER, Graziela.org. Trad. Cicília Rosas. A Revolução das Mulheres: emancipação feminina na Rússia Soviética.1.Ed. Boitempo. São Paulo. 2017