Concurso literário premia poemas escritos por detentos da Cadeia Pública de Irati
Poemas sobre liberdade e prisão. São as vivências pessoais que servem de inspiração para os 22 detentos que participaram da edição deste ano do “Círculo de Leitura: dialogando a literatura no cárcere”, projeto de extensão promovido pela Seção de Relação Comunitária do Câmpus de Irati da Unicentro (Serecom), em parceria com o Conselho da Comunidade da Comarca de Irati. Realizada com os condenados que cumprem pena na Cadeia Pública de Irati, a ação conta também com o apoio do Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná (Deppen).
Nesta quinta-feira (14), os privados de liberdade ganharam brindes doados por empresários da região, como toalhas, chinelos e itens de higiene, e receberam certificados de participação no concurso literário. Além disso, uma comissão formada por professores da Unicentro e por representantes da Secretaria de Assistência do município avaliaram os escritos e escolheram os três melhores em cada categoria.
Na competição, os poemas foram divididos de acordo com os projetos desenvolvidos pelo Conselho no local. O primeiro deles, “Pedagogia da Inclusão: Letramento e Escrita”, promove aulas semanais para os presos com baixa escolaridade, enquanto o segundo, “Liberdade pela Leitura”, trabalha com a produção da resenha dos livros que são lidos pelos detentos. As duas iniciativas permitem a remição de parte da pena dos participantes. “Neste ano, tivemos 13 participando da ‘Pedagogia da Inclusão’, enquanto 40 fizeram resenhas, maior número no projeto até hoje. Ou seja, cerca de 50% dos privados de liberdade aqui da cadeia pública participaram de projetos de remição da pena através da educação”, salienta Bruna Mendes, estagiária de Letras no Conselho da Comunidade.
“O estudo é muito bom. Desenvolve a gente e passa o tempo também”, responde A.F., um dos participantes do projeto de letramento.
Coordenador do concurso literário, o agente universitário Nelson Susko ressalta o reconhecimento que as ações educativas junto à unidade prisional iratiense têm alcançado. Ele lembra que a iniciativa já recebeu os selos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Nações Unidas, pelo cumprimento de três deles: Educação de Qualidade; Redução das Desigualdades; e Paz, Justiça e Instituições Eficazes. “Então a ideia que nasceu lá em 2008, com a professora Anízia Costa Zych, se tornou um projeto já conhecido a nível de estado e nós estamos muito orgulhosos de ter esse reconhecimento não apenas pela sociedade civil, mas também por toda a estrutura do Ministério Público, do Judiciário. É ainda um projeto muito bem aceito dentro do sistema carcerário aqui em Irati”, complementa.
A leitura dos poemas vencedores emocionou não só os seus autores e colegas, mas também quem organizou a atividade. “É indescritível o fato de pessoas que chegaram aqui na unidade sem saber ler e escrever finalizarem o ano escrevendo poesias. Para nós é algo fantástico e para eles é mais ainda. A gente não consegue mensurar a grandeza desse trabalho pedagógico, educacional e desse fechamento de atividades com o concurso literário”, salienta a assistente social, Maria Helena Orreda. Ela destaca ainda que desde a sua fundação, em 1999, o Conselho da Comunidade vem desenvolvendo projetos educacionais em parceria com a Unicentro. “Todas as ações educativas proporcionam oportunidade de reflexão sobre a vida passada e sobre a vida futura que eles desejam ter”, enfatiza.
Pedagoga do Conselho, Jaline Gura Filipaki reforça o sentimento mútuo de gratidão. “Toda aula nós falamos que a gente está ensinando para a vida. Trazemos trabalhos para eles, para quando eles saírem do espaço prisional, levarem o que aprenderam. Também prezamos pelo respeito à trajetória deles. Este ano é uma turma em que a grande maioria é de idosos. Então para a gente é gratificante ver essa troca de experiências e sempre trazer coisas novas para eles”, pontua.
Para A.L., assim como para outros presos, os textos também são resultado desse carinho das professoras. “Na forma que elas tratam a gente mesmo estando onde estamos, dão oportunidade para nos sentirmos humanos de novo”, agradece.