Professor da Unicentro vence prêmio do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo
O professor David Livingstone Alves Figueiredo, do Departamento de Medicina da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), recebeu destaque e reconhecimento por uma pesquisa inovadora no campo da oncologia. A contribuição para o diagnóstico preciso de câncer tireoidiano foi agraciada com o Prêmio Octávio Frias de Oliveira, oferecido pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e patrocinado pelo Grupo Folha.
A pesquisa realizada por um grupo de 15 cientistas, médicos e cirurgiões, incluindo David, focou na resolução de um desafio clínico: o diagnóstico de nódulos tireoidianos, que muitas vezes apresentam resultados indeterminados em testes convencionais. Essa situação levanta preocupações sobre cirurgias desnecessárias e sublinha a necessidade de ferramentas de diagnóstico mais precisas. “Os nódulos de tireoide em grande parte são doenças benignas, mas uma parte deles tem indicação cirúrgica, por se tratar de câncer. O teste padrão é uma pulsão aspirativa que se faz nesses nódulos, mas 30% dessas pulsões vêm inconclusivas. Então a gente tem em torno de 200 a 300 mil casos por ano no Brasil que a biópsia é inconclusiva e esses casos acabam submetidos a cirurgia. E depois da cirurgia a gente identifica que, pelo menos, 70% não precisaria ter operado. Então, o mundo inteiro tem pesquisado marcadores pré-operatórios que ajudem a definir ‘isso não é câncer, eu não preciso operar’ ou ‘isso é um câncer’ e eu vou de maneira mais assertiva ”, afirma David.
O grupo de pesquisadores desenvolveu um inovador classificador molecular baseado em microRNA, chamado mir-THYpe, que demonstrou alta sensibilidade e especificidade na identificação de nódulos benignos e malignos. O teste permite um diagnóstico mais preciso e menos invasivo. “Essa pesquisa envolveu um grupo grande de pesquisadores. O líder do projeto foi o Marcos Tadeu Santos e uma startup nasceu a partir dessa pesquisa. A gente conseguiu identificar um perfil de marcadores por microRNA que faz essa classificação ‘câncer/não-câncer’ e consegue classificar em risco, o que me dá um preparo maior para a cirurgia”, destaca o professor da Unicentro.
A pesquisa não se limitou a resultados laboratoriais. O estudo prospectivo avaliou o desempenho do mir-THYpe em situações reais de atendimento médico. “Depois desse classificador testado, a gente ofereceu esse marcador como um produto para endocrinologistas e cirurgiões de cabeça e pescoço no Brasil inteiro. E eles começaram a utilizar sem mudar a conduta, eles faziam o marcador e operavam o paciente. E confirmou que o valor preditivo é gigante”, declarou David. Ao longo de dois anos, 435 pacientes com nódulos tireoidianos foram acompanhados. Os resultados foram surpreendentes: uma taxa de cirurgias evitadas de 52,5% para todas os tipos de intervenção cirúrgica, e de 74,6% para aquelas consideradas “potencialmente desnecessárias”.
O Prêmio Octávio Frias de Oliveira, na categoria Inovação em Oncologia, reconheceu o impacto significativo do trabalho dos pesquisadores. A pesquisa, que foi publicada na revista científica The Lancet Discovery Science, é uma contribuição notável para a área e um passo importante rumo a um diagnóstico mais preciso e menos invasivo para pacientes com nódulos tireoidianos indeterminados. “Esse é o maior prêmio em oncologia, especialmente em inovação em oncologia, no Brasil. Para nós, é um reconhecimento do trabalho feito pela equipe toda e, mais do que pesquisa, é mostrar pesquisa aplicada. Esse é o grande objetivo nosso. Esse prêmio vem reconhecer essa ideia. A gente está fazendo pesquisa que traz uma resposta prática. Dá muito mais reconhecimento sabendo que um paciente se beneficiou, imagina milhares de pacientes”.
No mercado há quase cinco anos, o exame mir-THYpe já beneficiou milhares de pessoas no mundo todo e almeja chegar ao sistema de saúde pública. “Hoje é um produto que está no mercado, que o Brasil inteiro usa. Eu uso no meu consultório, países da América Latina usam, alguns países da Europa já usam. Pelo menos 1,6 mil cirurgias de tireoide foram evitadas já no Brasil pelo uso do marcador. A Onkos [startup que nasceu a partir da pesquisa] tem lutado para incluir no SUS, com acesso amplo da população”, completa David.