Bloomsday chega a sua 12ª edição em Irati com noite repleta de cultura, arte e poesia
O público que lotou o Empório São Luiz na última sexta-feira (16) é mais uma prova de que o Bloomsday é um evento consolidado em Irati. Comemorada no mundo todo no dia 16 de junho, a data é uma homenagem a Leopold Bloom, protagonista de “Ulysses”. Publicada em 1922, a obra do escritor irlandês James Joyce é um marco na literatura mundial e considerada por muitos como o grande romance do século XX.
Em um primeiro momento, a premissa do livro parece simples: acompanhar as andanças de Leopold Bloom por Dublin, capital da Irlanda, até que ele retorne para a sua casa, começando em 16 de junho de 1904 e terminando na madrugada do dia seguinte, em uma jornada de cerca de 18 horas. Só que essa banalidade é apenas aparente. Como destaca o organizador do Bloomsday em Irati e professor do departamento de Letras da Unicentro, Edson Santos Silva, a estrutura do texto, as inovações linguísticas e a abordagem do cotidiano por Joyce foram revolucionárias e uma influência definitiva para os escritores contemporâneos. “’Ulysses’ dá uma reviravolta na literatura no sentido de trazer o grandioso lá de Homero, lá do mundo grego, daquele período de super-heróis, de semideuses, e fazer isso se casar com as coisas pequenas do dia a dia de pessoas comuns. A grandeza do James Joyce está em nos provar que o grandioso pode habitar nas coisas diminutas”.
Feriado na Irlanda e celebrado nas mais variadas cidades do mundo, o Bloomsday é realizado em Irati desde 2012. Organizado pela Unicentro e pela Academia de Letras, Artes e Ciências do Centro-Sul do Paraná (ALACS ), o evento tem o apoio da Secretaria de Cultura e da Prefeitura do município. A 12ª edição na cidade é a primeira presencial depois de três anos de pandemia, retorno muito celebrado por pessoas como André Moschetta, acadêmico do 5ª ano de Psicologia da Unicentro. “É um espaço muito legal, muito aberto. Eu participei em 2019 e falei muito pra galera que era pra vir, que é um dos melhores eventos que tem aqui em Irati”, ressalta o estudante.
Depois de participar do formato online adotado pelo projeto durante a pandemia, a professora de inglês Andreia de Lima pode pela primeira vez estar “ao vivo” no Bloomsday de Irati. Para ela, a iniciativa é excelente. “Eu acho que isso só vem a contribuir com o desenvolvimento da cultura iratiense. Trazer a literatura como uma forma de representação artística para a população, permitir esse acesso para que todos tenham oportunidade de desfrutar esse momento, isso é muito enriquecedor”, salienta.
Como já é tradição, a noite foi marcada por uma grande variedade de apresentações culturais. Além da leitura de trechos da obra homenageada – tanto no inglês original, como também em português, espanhol e ucraniano – a programação trouxe a declamação de poemas, interpretações de diálogos e muita música e dança. Professora do departamento de Letras da Unicentro, Eduarda Batista foi uma das pessoas que se apresentaram, o que no caso dela incluiu ler, dançar e cantar. “O Bloomsday sempre acolheu a arte de maneira muito completa. Para mim, essa é a parte mais bonita do evento. Não se restringe só à obra, mas abrange muitas coisas, dá abertura a muitos artistas, a muitas apresentações, é uma diversidade muito grande”, enfatiza.
Assim como outros que estiveram presentes, a vice-diretora do Câmpus Irati, professora Adriana Queiroz Silva, ressaltou a importância da realização de atividades culturais que envolvam a população da cidade como um todo. “Estamos aqui em um evento lotado, transpirando cultura, com apresentações maravilhosas. E nós temos visto além da comunidade interna da universidade – alunos, professores, agentes universitários envolvidos – a comunidade externa no evento. Irati precisa de mais eventos assim, que tragam cultura para a nossa cidade”, reforça Adriana.
De acordo com o reitor da Unicentro, professor Fábio Hernandes, o projeto estabelece um diálogo essencial ao promover a literatura para além da universidade. “Eu estou muito feliz em ver essa interação da nossa comunidade universitária com a comunidade de Irati, com artistas, mostrando essa integração entre universidade, comunidade e cultura. E o Bloomsday representa tudo isso. É uma alegria muito grande estar fora dos muros da universidade, falando em literatura, falando em cultura, respirando diálogo. O Bloomsday é um orgulho para a nossa universidade”, festeja o reitor.
Para o professor Edson Santos Silva, divulgar a literatura e ter esse trabalho reconhecido na cidade fazem do evento sempre algo muito especial. “A nossa alegria é saber que quando se fala em Bloomsday, muita gente de Irati não só sabe o que é, mas já participou. E mais do que isso, a cada evento nós estimulamos as pessoas a lerem a obra. Isso é muito importante: divulgar a literatura. Porque dizem que nós somos um país que não lê e eu não concordo com isso. Se nós somos um país que não lê, vamos fazer eventos que tragam para as pessoas a literatura, que tragam a palavra. Não dá pra quantificar a grandeza de um momento como esse. Reunir alunos, professores, alunos do fundamental, do médio, pais, isso é maravilhoso”, conclui o organizador.