Conflitos, migrações e história da Ucrânia são destaque em Ciclo de Palestras no Câmpus Irati
A Ucrânia, os conflitos envolvendo o país e os deslocamentos da sua população nos séculos XX e XXI foram tema de um ciclo de palestras no Câmpus Irati. O evento – organizado pelo Programa de Pós-Graduação em História (PPGH), pelo Núcleo de Estudos Eslavos (Ness) e pelo Departamento de História de Irati (Dehis/I) – promoveu discussões sobre o cenário atual e suas repercussões sociais e culturais. “É um incentivo para gente se aproximar ainda mais desse país, que teve também uma influência na história do Brasil com a imigração”, destaca uma das organizadoras, professora Méri Kramer.
A programação iniciou com uma palestra da professora Svitlana Kryvoruchko. A docente ucraniana tem desenvolvido atividades de pesquisa na Unicentro desde outubro do ano passado. Em sua fala, ela buscou explicar a mentalidade ucraniana através de referências da literatura e história do país e, mais especificamente, de Kharkiv – um importante centro cultural da Ucrânia, a cidade é berço de grandes filósofos, escritores e artistas. Um exemplo é o filósofo Hryhorii Skovoroda, cujo nome batiza sua universidade de origem – a Universidade Pedagógica Nacional de Kharkiv Hryhorii Skovoroda. “O que eu quis mostrar é que uma cidade que tem uma tradição intelectual tão vasta, tão antiga, hoje, está destruída”, lamenta.
Além de fontes históricas, Svitlana apresentou referências contemporâneas da Ucrânia, como as canções de Nastia Kamenskikh e Svyatoslav Vakarchuk, que, segundo ela, demonstram a beleza, a cultura e a identidade do país. “O Vakarchuk não é propriamente de Kharkiv, mas, nas suas músicas, ele traz essa emoção, esse sentimento que permeia a mentalidade ucraniana”, explica. A oportunidade de conhecer outras narrativas sobre o país foi evidenciada pelo estudante Marcel Cândido. “É uma história muito abafada pelas outras histórias do continente europeu, no geral. Foi muito importante, pois permitiu uma visão nova sobre uma população que, neste momento, está sendo atacada e oprimida”.
No segundo dia de evento, o público acompanhou a palestra e lançamento de livro dos pesquisadores Anderson Prado e Henrique Vitchmichen. Os historiadores abordaram o fenômeno da violência coletiva perpetrada pelo Estado a fim de subsidiar as discussões sobre o conflito atual e o processo de migração compulsória. Segundo o professor Anderson, a Guerra na Ucrânia envolve fatores que antecedem aos acontecimentos da história recente, sendo necessário contrapor a desinformação que se criou em torno do conflito. “É importante que a gente compreenda que a crise no leste europeu não é uma crise que aconteceu há um ano. São vários processos, não se pode dar apenas um motivo, é uma dinâmica e é importante que nós, da História, tenhamos participação nesse tipo de informação”, pontua.
O Ciclo de Palestras encerrou com o lançamento do livro “A fortaleza de Wira”. A obra conta a trajetória da ucraniana naturalizada brasileira e sobrevivente de dois massacres – o de Holodomor, que causou a morte pela fome de milhares de ucranianos na década de 1930 – e do Nazismo, que culminou na migração de Wira para o Brasil, em 1947. A publicação é resultado de seis anos de entrevistas e materiais historiográficos coletados pelos pesquisadores. O professor Henrique destaca que, apesar de se tratar de uma biografia, o livro contextualiza a submissão da Ucrânia durante regimes totalitários. “Ele retrata uma conjuntura histórica muito peculiar e delicada, que é a conjuntura da Ucrânia naquele período em que estava no dilema da ocupação nazista e, ao mesmo tempo, vivendo sob a égide do regime soviético”, conta o professor.
De acordo com o professor Clodogil dos Santos, que é coordenador das atividades extensionistas de pesquisadores ucranianos na Unicentro, a acolhida a docentes ucranianos propiciará que a comunidade universitária participe de outros eventos como este. “Possibilita que eles continuem o seu trabalho em um ambiente mais pacífico e também beneficia a nossa instituição por conta do processo de internacionalização. Além disso, temos planejado um evento com exibições de filmes ucranianos que abordam questões sobre a identidade nacional”, conclui.