Palestra destaca trabalho de atenção à crise em urgências psicológicas

Palestra destaca trabalho de atenção à crise em urgências psicológicas

Um assalto, uma separação traumática, uma tragédia. Acontecimentos que rompem com a normalidade e podem levar alguém sem qualquer histórico de transtorno psicológico grave a encarar um quadro de profundo desamparo. A importância do atendimento imediato desses casos foi o tema da palestra “Atenção à crise: urgências psicológicas e o dispositivo clínico”, apresentada por videoconferência, nessa semana, no câmpus Irati da Unicentro.

O evento, promovido pelos docentes do Departamento de Psicologia, reuniu os alunos do curso no Auditório Denise Stoklos para acompanhar a fala do psicanalista Volnei Dassoler, que é co-gestor do Acolhe Santa Maria – um serviço de atenção psicossocial criado em 2013 para atender às vítimas diretas e indiretas do incêndio na Boate Kiss, tragédia que deixou 242 mortos e mais de 600 feridos na cidade gaúcha. “Depois de dois anos, a gente observou que não havia mais uma demanda contínua associada ao desastre. Entretanto, havia uma demanda contínua relacionada ao desamparo, ao luto, ao suicídio, à violência do cotidiano. Então, esse serviço se transformou e hoje é um dos poucos que existem no Brasil especificamente para situações de crise”, ressalta o psicanalista. 

Dassoler reforça que episódios como esses podem levar a um cenário de perda de sentido ou de desestabilização das referências que servem para que as pessoas se sustentem no mundo e elaborem a experiência pela qual passaram. “A urgência diz respeito ao fato que ela já conversou com os amigos, já foi na igreja, já tomou medicação, já viajou, já fez diferentes reflexões, mas ainda assim ela não consegue dar conta. Então, ela se vê, em síntese, despedaçada e desamparada”. 

Segundo o psicanalista, normalmente, a busca por atendimento não ocorre de forma espontânea, o que revela ainda mais a dificuldade da pessoa em lidar com a angústia. “Nesse primeiro momento, a resposta clínica tem mais a ver com a forma que essa pessoa é recebida, do que propriamente sobre o que fazer, o que interpretar”. Ele enfatiza que quem atende a crises precisa estar muito interessado pelo caso e preparado para escutar as coisas mais difíceis. “Essa é uma questão que a gente sempre trabalha na atenção básica. Os profissionais ficam bastante assustados quando os pacientes dizem coisas complicadas, complexas e, para nós, isso é um indicativo que o acolhimento está funcionando. Ele está nos incluindo para tentar reativar esse processo”, afirma. 

O objetivo da intervenção em urgência de saúde mental, segundo o palestrante, é produzir uma ‘pausa’ que permita processar, de alguma maneira, a experiência. “Nós temos muitos casos que vêm duas ou três vezes e que, ao se restabelecer, voltam para sua condição ‘normal’. Não é que a pessoa foi curada do seu trauma, do seu luto, das suas perdas, não se trata de voltar ao estado de antes, se trata de, pela presença do terapeuta, recompor a potência do processo de elaboração”.

A professora do Departamento de Psicologia Michele Cervo destaca que, além de ser importante para a formação dos alunos, trazer o assunto para discussão envolve uma preocupação em fornecer subsídios para o atendimento de casos que se apresentam na própria comunidade acadêmica. “Nós observamos, nos últimos anos, uma demanda muito grande aqui na universidade de solicitações para atender situações que envolvem crises, o que remete a uma atenção para pensar esse fenômeno do sofrimento psíquico e como ele se agudiza”. 

Ela lembra que, na Unicentro, a Coordenadoria de Apoio ao Estudante (Coorae) oferece o Serviço de Apoio Psicológico, para atender aqueles que enfrentam algum tipo de sofrimento intenso. A solicitação para agendamento de atendimento psicológico pode ser realizada pelo e-mail assistenciaestudantil@unicentro.br.

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