Pesquisa sobre semente da seringueira terá continuidade graças a parceria universidade-empresa
A Unicentro recebeu representantes da Universidade Federal da Fronteira Sul e da empresa Kaiser Agro para formalizar a renovação de um Acordo de Cooperação para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. A parceria entre as três instituições, conta a diretora de Propriedade Intelectual da Agência de Inovação Tecnológica da universidade, Cláudia Crisóstimo, iniciou em 2019 com o desenvolvimento de pesquisas e o depósito de patentes. “Algumas patentes, com o apoio da empresa, foram depositadas em âmbito internacional. Dessa mesma patente, nós conseguimos publicar um artigo em uma revista internacional, que rendeu um prêmio na área da indústria. Com todo esse desdobramento, a empresa quis conhecer a Unicentro”.
O prêmio mencionado por Cláudia foi conferido a um artigo produzido pelo professor André Gallina, do Departamento de Química da Unicentro, e será apresentado em um congresso internacional sobre borracha, que vai ocorrer no ano que vem, na Malásia. O docente explica que o trabalho é resultado do projeto desenvolvida com a empresa Kaiser Agro e com a UFFS. A pesquisa trata da produção de biodiesel a partir da semente de seringueira. Com o novo acordo de cooperação será possível dar continuidade às pesquisas que tem a semente de seringueira como matéria-prima.
“A partir desse novo acordo, teremos algumas otimizações daquilo que já foi desenvolvido e novos campos de aplicação da semente de seringueira, porque não tem, hoje em dia, muitas aplicações para ela”, projeta André. Claudia complementa afirmando que a continuidade das pesquisas podem se dar em vários caminhos. “A meta é buscar que esses resultados possam sair da universidade e ir para o mercado, que possam ser utilizados pela sociedade. É importante o apoio da empresa para que a gente busque sair do laboratório. Esse é o principal ponto dessa nova parceria”.
Essa fase da cooperação envolve três pesquisadores da Unicentro e três da Fronteira Sul, além de egressos da UFFS que estão cursando o mestrado na Unicentro. Para os pesquisadores Letiére Cabreira Soares, da UFFS, e Roberta Kruger, da Unicentro, a parceria deve refletir positivamente no desenvolvimento das atividades científicas. “Esse convênio é bastante interessante porque busca a solução de um problema de um ramo da indústria, que seriam as florestas comerciais. A gente tenta resolver esse problema deles e solucionar problemas de outras áreas, principalmente na área de combustíveis e alimentos. Ainda tem bastante coisa para ser desenvolvida”, diz ele. “A parceria com a empresa”, prossegue, Roberta, “sempre vem a agregar, tanto na forma de você poder aplicar de uma forma mais real a pesquisa, quanto também na forma de recurso. Acho que é a realização de todo pesquisador é ver a coisa acontecer como é o caso dessas parcerias com a empresa”.
O gerente da Unidade de Agronegócios do grupo Kaiser Agro, Fábio Tonus, destaca que muito avanço foi alcançado já na primeira fase da parceria, tendo em vista que gerou pesquisas que têm ajudado a encontrar uma forma de aproveitamento para a semente de seringueira, principalmente no ramo de combustíveis. “Os resultados foram extremamente surpreendentes, essa é a grande verdade. Um fruto que caía no solo e trazia problema para o solo, uma acidificação muito grande ao solo, hoje, por pesquisa e por patente, que nós temos já, é um produto que vai produzir biodiesel. O problema tornou-se uma grande solução”.
De acordo com o gerente, a produção de biodiesel no país, hoje, é proveniente de alimentos como soja ou milho e, a semente de seringueira, por não ser um alimento, abre um importante viés para a produção do combustível. Ele conta, ainda, que o biodiesel já foi certificado e, agora, em conjunto com a Unicentro e a UFFS, a empresa entrou em uma concorrência pública, junto à Finep, que é a Financiadora de Produtos e Projetos, que visa a construção da primeira usina desse tipo de biodiesel do Brasil e, possivelmente, do mundo. “A patente brasileira já saiu e a patente internacional está sendo finalizada. Já houve um aceite, dizendo que é uma coisa inovadora e inédita”, conjectura.
Para Kelvin Kaiser, CEO da Kaiser Agro, a parceria entre as universidades e a empresa é fundamental para expandir as possibilidades de pesquisa. “A gente entender que a academia foi fundamental para que se apareça uma nova oportunidade de mercado. Ter a parceria com a Finep realizada e começando a produção de biodiesel de semente de seringueira é o primeiro passo para uma escala maior. Além dos outros produtos, porque não estamos falando apenas do biodiesel, agora já têm quase oito níveis de escalas, que vai desde cosméticos à alimentação bovina, ou seja, o projeto com a universidade vai ampliar”.
Fábio ainda complementa ressaltando que a parceria permite a realização da pesquisa aliada ao viés empreendedor. “As pesquisas são feitas em conjunto entre a empresa e as universidades e, todas elas têm um viés para artigos científicos, para patentes e para ter aplicabilidade. Isso faz com que a pesquisa saia dos laboratórios, permeie pelo meio acadêmico e vá até a indústria” defende.
As expectativas, a partir da renovação do convênio, reforça Fábio, são de crescimento e consolidação do trabalho que já vem sendo realizado. “Para os próximos cinco anos, os projetos são ousados. A ideia é viabilizar tudo isso em uma planta industrial, internacionalizar. As expectativas foram realizadas nesses primeiros cinco anos, mas para os próximos são muito arrojadas”, finaliza.