Mulheres são maioria entre professores e estudantes da Unicentro
“Ser mulher nessa universidade é inspiração, é admirar e perceber nas mulheres que aqui trabalham e estudam como podemos ser além do que nos determinam. É uma vitória, porque antes nós, mulheres, não éramos permitidas nestes espaços, mas, hoje, estamos aqui aprendendo, produzindo, lutando e resistindo”. Essa é a definição da estudante do terceiro ano de Letras da Unicentro, Sabrina Markoski, sobre o que é ser mulher na universidade.
Como aluna, ela foi incentivada por dezenas de outras mulheres, que foram suas professoras até agora em sua caminhada como licencianda. Uma de suas experiências, durante a graduação, foi noPET Letras. O Programa de Educação Tutorial permitiu que ela agregasse conhecimentos sobre a docência – prática que é o centro de sua futura profissão. No PET, Sabrina conheceu a professora Níncia Borges Teixeira, que é tutora dos alunos participantes do Programa. A docente atua na Unicentro há 24 anos, vinculada ao Departamento de Letras do Campus Santa Cruz e ao Programa de Pós-Graduação em Letras. Reunindoteoria e prática, a professora também exerce o ensino em outrosprojetos paralelos, como oTrollendo, um canal no YouTube com o objetivo de auxiliar vestibulandos nas provas de Literatura e Redação dos processos seletivos para ingresso na universidade.
“Ser mulher, ser professora, ser mãe na sociedade em que vivemos, antes de ser um ato de resistência, é um ato de desobediência. Você precisa desobedecer muitas normas que são impostas pela sociedade que tem ainda o poder masculino como norma. É complicado, mas no dia a dia, você consegue que outras mulheres também enxerguem além daquilo que foi instituído como uma educação patriarcal. É muito importante termos mulheres na ciência, mulheres na universidade, para ensinar outras mulheres que elas podem, elas seguem e elas conquistam”, sentencia Nincia.
Questões de gênero ensinadas pela professora Níncia que reverberam na fala de alunas como a Sabrina, que, tocada pelo discurso da docente nas aulas, decidiu ampliar o conhecimento sobre o tem e desenvolver pesquisa como uma aliada em sua formação universitária. “Ser mulher na Unicentro pode nos permitir pesquisar os mais variados temas e problemáticas. Nossas pesquisas colaboram com o desenvolvimento da sociedade, a desafiam e pensam o que é ser mulher neste mundo – o que não é fácil, mas, aqui recebemos reconhecimento. Porém, sendo mulher na Unicentro e sendo a Unicentro parte desse mundo dos homens, ser mulher aqui também é ser maioria em vários cursos nos quais poucos dos teóricos utilizados são mulheres, é resistir em cursos dominados por homens mesmo quando dizem que ali não é nosso lugar, é lembrar que nós, humanos, ainda temos um longo caminho até a igualdade”, ressalta a estudante.
No Brasil, as mulheres representam 46% dos docentes e 55% da comunidade universitária. Na Unicentro, segundo a Diretoria de Avaliação Institucional, entre todo o corpo docente, as mulheres são maioria, representando 57,6% dos professores. Entre os estudantes, essa parcela é ainda maior, com 64,4% de alunas mulheres na Unicentro. Mesmo assim, em algumas áreas, a representatividade feminina ainda é pequena, principalmente nas profissões tidas no imaginário social como masculinas. É o caso da Ciência da Computação que, como conta a professora Angelita de Ré, mesmo sabendo do ambiente majoritariamente masculino, resiste e não desiste em incentivar que mais mulheres ocupem espaço nesta área. “Quanto a ser mulher dando aulas, ministrando disciplinas, é um desafio, que na área das Exatas é ainda maior. Nós quase não temos alunas meninas – no curso inteiro, de 110 alunos, nós temos 10 meninas, no máximo. É um desafio captar mais alunas para as Exatas”.
Angelita é docente na Unicentro há 20 anos, vinculada ao Departamento de Ciência da Computação do Campus Cedeteg. Para a professora, ensinar Ciência da Computação nesta grande era da tecnologia é um desafio que a move a buscar sempre mais para transmitir aos estudantes. “Nesses últimos anos, a Unicentro tem se adaptado as mudanças e novas realidades. Nosso aluno, hoje, chega na graduação com um conhecimento maior sobre internet, computação e tecnologias. Como ele vem com essa bagagem maior, ele também vem com mais questionamentos nessa área, vem com uma ânsia maior de informações. Isso nos fortalece bastante para que a gente possa modificar as aulas e intensificar algumas coisas para suprir essa necessidade dos alunos”, conta a docente.
Todo esse esforço da professora Angelita reflete na formação de estudantes como aacadêmica do quarto ano deCiência da Computação, Thais Amanda Santos, que prestes a finalizar o curso, compreende como o conhecimento adquirido na Unicentro pode transformar a realidade em que vive, a partir do exercício de sua futura profissão. “Eu consegui ver que eu posso ajudar as pessoas com o meu conhecimento na Ciência da Computação – ajudar pessoas com deficiência auditiva, como foi estudado no meu TCC. Então, a Ciência da Computação se tornou uma parte muito importante da minha vida, pois me tornou uma pessoa mais madura e me ensinou muita coisa além da parte técnica – me ensinou também sobre crescimento pessoal, sobre amizade, sobre carinho”.
Crescimento pessoal, carinho e amizade são também incentivados pelos professores da instituição, como a Joyce Jaquelinne Caetano, docente da Unicentro há27anos, vinculada ao Departamento de Matemática do Campus Irati e ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Naturais e Matemática. “Posso resumir o meu trabalho em amor ao que eu faço. Amo ser professora. Amar o que fazemos faz de nós profissionais melhores, porque nunca paramos de tentar fazer o nosso melhor a cada dia. Os desafios são muitos, iniciando com o desafio de ser professora para esses novos tempos, depois o de ser mulher, mãe e esposa e, ainda conciliar todas as tarefas que exigem essas funções. Sem dúvida alguma, as mulheres já são fortes – é de nossa natureza. Mas a nossa força, a nossa resistência vem do amor e, por isso, a nossa resistência pode ser transformadora. Acredito que as mulheres de nossa instituição são inspiração e exemplos que podem sim, contribuir para uma sociedade mais humana e justa”, afirma.
Para as estudantes, como a Luana Pedrozo, acadêmica do terceiro ano de Matemática do Campus Irati,o ambiente educacional também pode ser um espaço de transformação para as que exercem a função do ensino, reforçando a luta das mulheres por igualdade em todas as atividades.“Eu tive a oportunidade, junto com alguns colegas, de ministrar um minicurso que envolvia programação computacional, jogos e matemática. Então, é a mulher inserida nessas áreas, mostrando que é possível, sim, a mulher dominar esses assuntos e fazer isso”, avalia. A estudante, assim como muitas na Unicentro, reconhece a importância das mulheres para a construção do conhecimento científico e para a sua formação enquanto cidadãs e cidadãos éticos e qualificados para as mais diversas profissões. “É inegável a importância da participação das mulheres na ciência e dentro das universidades. Nós temos exemplos de professoras, mestres e doutoras, que nos mostram e nos incentivam que nosso lugar também é dentro da ciência e das licenciaturas, fazendo o que gostamos”, finaliza Luana.