Simpósio Internacional de Estudos Eslavos reúne, virtualmente, público de onze países
Na última semana, a Unicentro realizou o VI Simpósio Internacional de Estudos Eslavos. O evento é promovido pelo Nees, que é o Núcleo de Estudos Eslavos da Unicentro, e este ano, devido à pandemia de covid-19, ocorreu inteiramente de modo virtual, reunindo mais de 400 inscritos – entre professores, pesquisadores, extensionistas, estudantes e profissionais, oriundos de 31 diferentes instituições de ensino, de 11 países.
Segundo a professora Mariléia Gärtner, coordenadora do Nees, desde a institucionalização do Núcleo, em 2011, o grupo vem desenvolvendo ações de ensino, pesquisa e extensão, sendo o Simpósio Internacional de Estudos Eslavos um evento de referência nacional e internacional dentro da temática eslava. “Desde então são desenvolvidas, por professores-pesquisadores vinculados ao Nees de vários departamentos, projetos de extensão que promovem a cultura e o ensino de línguas polonesa e ucraniana, e projetos de pesquisa que investigam e constroem o conhecimento acerca da temática eslava, como também fomentam parcerias nacionais e internacionais. O Simpósio Internacional de Estudos Eslavos é um espaço consolidado no meio acadêmico, diante de um histórico de diversas ações realizadas na área pelo Núcleo de Estudos Eslavos”.
O VI Simpósio Internacional de Estudos Eslavos rememorou e refletiu os 130 anos da imigração ucraniana no Brasil e os 150 anos da imigração polonesa no Paraná. O evento contou com participações de renome nacional na temática, como a escritora gaúcha de descendência polonesa Letícia Wierzchowski, autora do livro A Casa das Sete Mulheres, conhecido amplamente após sua adaptação como minissérie televisiva exibida em 2003. Durante sua fala no simpósio da Unicentro, em uma mesa-redonda sobre a imigração polonesa no Brasil em romances históricos contemporâneos, Letícia contou que boa parte de suas obras são inspiradas em suas memórias de infância e em dezenas de cartas escritas pelo seu avô, em polonês, a partir de 1945, nas quais ele narra as dificuldades que passou ao migrar para o Brasil.
“Quando eu encontrei esse passado eu pensei que se eu que sou polonesa não sei disso, imagina o resto das pessoas. A gente tinha uma imigração que é, aqui no Brasil, a terceira maior imigração e a história do povo polonês é tão pouco conhecida. Então, eu pensei que, se eu sei fazer alguma coisa, que é contar histórias, eu tenho a obrigação de iluminar um pouco esse silêncio, de trazer um pouco da luta e das palavras. Foi assim que comecei a escrever. E quando eu escrevo um romance, eu não escrevo para um outro descendente de polonês; eu escrevo para todas as pessoas. Eu escrevo para todo mundo mas, com a consciência que estou deixando um registro de uma gente que teve muita importância no tecido humano do nosso país e que não teve ainda, na literatura, o espaço que outras imigrações tiveram”, discorre a escritora.
A programação do simpósio contou, ainda, com outras quatro mesas-redondas, 11 oficinas, lançamento de livros e 13 simpósios temáticos com apresentação de trabalhos sobre a temática eslava. O evento buscou trazer as diversas formas de manifestação da cultura desses povos, como a língua, a culinária, o folclore, a poesia e o cinema. Durante a oficina Curtas Eslavas Cinematográficas, por exemplo, o diretor de cinema Guto Pasko destacou o papel das produções audiovisuais na manutenção da história de povos migrantes. “O papel do cinema e o audiovisual como um todo têm, dentro deste escopo, é muito grande e importante, porque a gente consegue fazer as mensagens chegarem nos lugares e a muito mais pessoas do que só a narrativa oral, ou só um livro, que as vezes é algo limitado, com uma tiragem específica. E o filme é perene, fica para o resto da vida, um filme que você faz agora, daqui a cem anos ainda estará disponível. Com isso, a gente vai poder entender como foi a nossa história nesse momento, olhando para o passado”, defende Guto.
Ministrando a oficina junto com Guto, a produtora e diretora de cinema Andreia Kaláboa contou algumas de suas experiências profissionais, observando a perspectiva de ser uma das poucas mulheres na liderança da indústria cinematográfica. “Quando eu comecei, fui uma das primeiras cineastas mulheres do Paraná. Teve desafios, porque o mercado cinematográfico ainda é majoritariamente masculino, de como conseguir espaço e colocar a voz da mulher não só sobre o ponto de vista que é meu, mas colocando personagens femininas. A gente ainda escreve os personagens sob o ponto de vista masculino. Então, foi muito interessante levar essa troca e essa reflexão, porque às vezes a gente não pensa sobre quem está retratando nossas histórias no audiovisual, quem está retratando as histórias das mulheres no audiovisual”.
Acompanhando todos os dias do Simpósio Internacional de Estudos Eslavos, a estudante de Letras Eduarda Farias viu seu interesse nas comunidades eslavas aumentar, visto que, para ela, estar informada sobre as culturas polonesa e ucraniana pode ajudar na sua relação com seus futuros alunos de língua, caso eles sejam oriundos de famílias descendentes dessas etnias. “Nós, enquanto futuros professores de língua, é não só importante saber quais são as origens de uma determinada fala, mas saber que vamos encontrar alunos que falam polonês e ucraniano e vão sofrer interferências da língua, que são os alunos bilíngues. Quanto mais contato com a língua eslava, seremos professores e pessoas na sociedade com um papel ativo de entender as variedades linguísticas”, acredita a estudante.