Pesquisa paranaense analisa as modificações genéticas do novo coronavírus
Um estudo inédito investiga as características genéticas do novo coronavírus relacionadas às diferentes manifestações clínicas em pacientes infectados, assim como os fatores de resistência e suscetibilidade à Covid-19. A pesquisa está vinculada ao Projeto Genoma Covid-19, que é conduzido pela Rede de Estudos Genômicos do Paraná, no âmbito do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação em Genômica (Napi Genômica). O projeto reúne mais de 200 pesquisadores de instituições de ensino e pesquisa, públicas e privadas.
Sob a supervisão do coordenador do curso de Medicina da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), o médico e professor David Figueiredo, a pesquisa tem como objetivo contribuir para a compreensão dos mecanismos genéticos que regulam essa infecção viral, auxiliando nas decisões médicas e nas condutas terapêuticas mais apropriadas para os pacientes com a doença. “Essa abordagem”, diz, “pode possibilitar, futuramente, uma análise mais acurada do impacto epidemiológico das cepas circulantes no território paranaense, assim como o impacto clínico, de acordo com aspectos genéticos de cada paciente”.
Até meados de outubro do ano passado, o Estado do Paraná havia sequenciado o genoma do novo coronavírus em 10 amostras de pacientes acometidos com a Covid-19. Com o desenvolvimento da pesquisa foi possível ampliar a investigação, aumentando esse número para 78 amostras, inicialmente sequenciadas. O estudo revelou que 11% dessa amostragem pertencem à linhagem identificada como P.2 (B.1.1.28.2), detectada oficialmente no mês passado, no Rio de Janeiro. Com ampla circulação no Brasil, as alterações genéticas dessa cepa podem potencializar a velocidade de transmissão do vírus. As amostras analisadas nessa primeira fase são oriundas de Curitiba e Londrina. Nas próximas etapas, a pesquisa deve contemplar amostras de pacientes de Cascavel, Foz do Iguaçu, Maringá e Ponta Grossa, com possibilidade de alcançar até 300 pessoas.
“Uma das mutações identificadas, a E484K, característica na linhagem P.2, pertence a uma amostra coletada em outubro de 2020, enquanto as demais são de pessoas acometidas pela doença em janeiro de 2021. Esse dado aponta que a circulação dessa linhagem do novo coronavírus já estava ocorrendo no Paraná, antes mesmo da primeira notificação no país”, pontua o pesquisador Wilson Araújo Silva Júnior, geneticista e diretor científico do Instituto para Pesquisa do Câncer (Ipec), em Guarapuava, onde o estudo está sendo desenvolvido.
As mutações podem trazer importante repercussão na evolução da doença, seja na gravidade, quanto na sua perpetuação. A pesquisa paranaense também revelou a presença da cepa inglesa, a VOC Variante SARS-CoV-2 emergente 202012/01, também chamada de B.1.1.7, em uma amostra de paciente com manifestação clínica grave. Essa variante, detectada tanto no Reino Unido quanto na África do Sul e no Brasil, tem sido caracterizada por uma disseminação mais rápida que as outras, cerca de 70% mais transmissível.
O Superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, professor Aldo Nelson Bona, afirma que os resultados desses estudos colocam o estado na vanguarda do conhecimento científico sobre o novo coronavírus e, em curto prazo, devem orientar protocolos de tratamento e prevenção da doença. “O Paraná está, de fato, está servido de uma robusta estrutura de pesquisa, em diversas áreas, demonstrando que nós temos capacidade de atuar na fronteira do conhecimento e de apresentar respostas que ajudem na condução de políticas públicas que ajudem no enfrentamento de situações limite, como é o caso da pandemia da Covid-19. É este o trabalho que nós estamos fazendo, buscando criar condições para que, nas diversas áreas do conhecimento, redes articuladas de pesquisa apresentem respostas aos problemas locais e, assim, ajudem a melhorar as condições de vida da população paranaense”, salienta o superintendente, que atua como articulador da Rede de Estudos Genômicos, em nível estadual.
O Projeto Genoma Covid-19 dispõe de recursos financeiros da ordem de R$ 800 mil, sendo a metade desse montante viabilizado pelo Fundo Paraná, operacionalizado pela Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Governo do Estado do Paraná. O restante do aporte financeiro, R$ 400 mil, tem como fonte o Município de Guarapuava, por meio da Secretaria Municipal de Saúde.
* com informações da Assessoria de Comunicação da Seti