Saúde Mental, Políticas Sociais e Democracia em discussão no campus Irati
Quando se fala em saúde, logo pensamos nos cuidados com o corpo. No entanto, a Psicologia nos ensina que também precisamos prestar atenção na saúde da nossa mente. Por isso, a Unicentro promoveu a quarta edição do Congresso Internacional de Saúde Mental, que aconteceu no campus Irati da universidade. O coordenador do evento foi o professor Gustavo Zambenedetti, que é do Departamento de Psicologia da Unicentro.
“A gente vem no processo, desde a década de 1990, de ampliação da ideia de bem-estar social, a ideia da saúde como direito de todo cidadão e não como algo que quem tem dinheiro tem acesso e quem não tem, não tem acesso. O SUS traz isso – a ideia da saúde como direito de todos e a gente observa, nos últimos anos, justamente uma retração das políticas sociais como um todo, das politicas públicas de saúde, assistência. Então, isso tem nos preocupado.No nosso país quem tem acesso à saúde? Quem tem acesso à assistência? Como que a desigualdade social ou as desigualdades de gênero, as desigualdades sociais impactam no acesso à saúde?”, explica Gustavo sobre o por quê da temática desta edição, que relacionou três assuntos – “Saúde Mental, Políticas Sociais e Democracia”.
Simultaneamente ao Congresso de Saúde Mental, também foram realizados o oitavo Congresso de Psicologia da Região Centro-Sul do Paraná e a terceira Mostra de Práticas em Atenção Psicossocial. A professora Magda Dimenstein, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a UFRN, participou de uma das mesas-redondas dos eventos, contribuindo com o assunto de atenção primária e psicossocial às pessoas com transtornos mentais. “A gente está vivendo um retrocesso do ponto de vista da própria lógica da atenção psicossocial, ou seja, voltando com muita força a questão do modelo asilar, dos grandes manicômios, das comunidades terapêuticas, a própria politica de redução de danos que está sendo violentamente atacada. Acho que a gente tem que insistir nessa ideia de desmitificação da loucura, de que são processos que podem e devem ser abordados na rede de saúde como um todo e que, com cuidado e acompanhamento, essas pessoas podem ter suas vidas normalizadas, circular socialmente, ter seus trabalhos, viver uma vida como qualquer outra pessoa”.
A necessidade de quebrar preconceitos sobre as pessoas com problemas mentais também foi destacada pela egressa do curso de Fonoaudiologia da Unicentro, Néri Hellen Costa. Ela trabalha com educação no município de Cananéia, no litoral paulista, e veio para Irati especialmente para participar do Congresso de Saúde Mental. “A gente vem de uma sociedade que quer aprisionar e segregar o que é diferente, e as pessoas com transtornos mentais, questões psicossociais e psicológicas, elas vão sendo estigmatizadas e colocadas à margem. Tem um senso comum que reforça que essas pessoas deviam ser excluídas. E a gente vive esse momento politico que querem voltar as internações, querem voltar com os hospitais psiquiátricos”, avalia.
A programação do Congresso de Saúde Mental contou com palestras, mesas-redondas, comunicações orais, minicursos, mostras práticas e lançamento de livros. A filósofa e escritora Djamila Ribeiro participou e lançou o livro “Lugar de Fala”, da Coleção Feminismos Plurais, durante o Congresso. Djamila relacionou sua abordagem sobre a questão racial com a da saúde mental. “Acho que é fundamental fazer a discussão racial no congresso de saúde mental porque a gente sabe o quanto o racismo é um mecanismo de opressão que adoece psiquicamente e que, muitas vezes, esse debate acaba ficando de lado”.
De acordo com o coordenador do evento, professor Gustavo Zambenedetti, evidenciar a relação da saúde mental com outras áreas do conhecimento foi um dos principais objetivos do Congresso. “A saúde mental pode ser entendida enquanto um campo de produção de saber. A princípio ela tem um caráter interdisciplinar. Então, ela não é exclusiva da psicologia, mas a psicologia é reconhecida como uma profissão que tem muito a contribuir e que tem muita inserção no campo da saúde mental”.
O Congresso de Saúde Mental também contou com a presença de Ana Marta Lobosque, que foi protagonista da implantação da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Ela enfatizou a importância da inclusão social dos portadores de sofrimento mental. “Todas as pessoas têm direitos e os portadores de sofrimento mental também e principalmente, na medida, como a gente pontuou, que são mais frágeis, mais vulneráveis.Nós temos que ter políticas públicas, nós temos que assegurar direitos humanos e nós não podemos admitir grosserias, violências e nenhum tipo de ato e atitudes anticivilizatórias”, finaliza a convidada.