Comunicação como arma no combate à violência contra a mulher
A violência contra a mulher está presente, de modo significativo e quase sempre velado, na sociedade brasileira e sua ocorrência não está ligada à classe social, à faixa de renda, nem tão pouco à escolaridade. Não são poucos os lares e famílias que experimentam a agressão que pode ser, segundo a Lei Maria da Penha, física, psicológica, moral, sexual e patrimonial.
O Paraná, por exemplo, estado considerado desenvolvido, com oportunidades razoáveis de escolarização e emprego, registrou um crescimento no número de feminicídios, isto é, o assassinato de mulheres pelo simples fatos de serem mulheres, da ordem de 15,1% entre os anos de 2003 e 2013, segundo o Mapa da Violência 2015, produzido pelo Instituto Sangari. Em média, no período analisado, foram 5,3 homicídios contra mulheres para cada grupo de 100 mil pessoas do sexo feminino. Índice superior à média nacional que, de acordo com a mesma sistematização, é de 4,8 feminicídios para cada 100 mil mulheres. Taxa que coloca o Brasil, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), na 5. posição entre os 83 países que mais matam mulheres, ficando atrás apenas de El Salvador, da Colômbia, da Guatemala e da Federação Russa. Em termos comparativos, o Brasil registra 16 vezes mais homicídios femininos que o Japão, 24 vezes mais que a Irlanda ou a Dinamarca, e 48 vezes mais que o Reino Unido.
Na cidade de Guarapuava, no ano de 2013 foram registrados na cidade 511 boletins de ocorrência de violência contra a mulher pela Política Militar. No ano seguinte, esse número caiu para 479 e voltou a aumentar em 2015, quando foram registrados 526 BOs. Em 2016 foram 536 atendimentos e 472 no ano passado. Já a Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres de Guarapuava, criada em março de 2013, atendeu 389 mulheres vítimas de violência em naquele ano, 608 casos em 2014 e 363 no ano de 2015 e 329 em 2016. Dados que, segundo a professora Ariane Pereira, do Departamento de Comunicação Social da Unicentro, evidenciam a necessidade de trabalho continuado no combate à violência contra a mulher.
“Diante desse cenário de brutalidades, onde a mulher não é respeitada, e mais que isso, é tratada com violência, é evidente que vivemos em uma sociedade desigual, onde há sobreposição e dominação de um gênero sobre o outro, onde a relação entre homem e mulher – por centenas ou milhares de vezes em Guarapuava, no Paraná e no Brasil – foi mediada pela violência, gerando o assassinato de muitas vítimas do sexo feminino. Mas em meio a tantas relações conflituosas, ainda há muitas mulheres que não se perceberam como vítimas de violência, e homens que não consideram agressão alguns atos praticados contra a mulher”, afirma a docente que é coordenadora do projeto de extensão “Florescer: a Comunicação na efetivação de políticas públicas para mulheres”.
Segundo a professora, a ação extensionista pretende consolidar-se como um instrumento de sensibilização social para o problema da violência contra a mulher. Para isso, nos anos de 2018 e 2019 dará continuidade ao trabalho iniciado em 2017. “Os dois projetos foram pensados e desenvolvidos a partir das necessidades apresentadas pela Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres de Guarapuava e, também, pela Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher da cidade. Então, se em 2017, nós trabalhamos na produção de materiais de conscientização da mulher, agora nós vamos trabalhar com todos os envolvidos no atendimento à mulher vítima de violência na rede de saúde – da própria vítima até os profissionais. Além disso, nós também queremos trabalhar na produção de materiais para as crianças das escolas municipais, porque a gente acredita que a violência é um produto social e só vai ter fim, no longo prazo, se começarmos a conversar com as crianças desde cedo”.
Para o desenvolvimento das atividades, o projeto “Florescer: a Comunicação na efetivação de políticas públicas para mulheres” vai receber um aporte financeiro de 82 mil reais da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (Seti), por meio do programa Universidade Sem Fronteiras (USF). Dinheiro, que de acordo com a professora Ariane, será empregado no pagamento de bolsas, pelo período de 12 meses para dois recém-graduados em Jornalismo ou Publicidade e Propaganda e um estudante de graduação nas mesmas áreas. “Além disso, nós também vamos adquirir alguns equipamentos que nos possibilitarão produzir os produtos seguindo as necessidades da Secretaria e da Rede”, salienta a coordenadora do projeto.