32 indígenas fazem curso superior, atualmente, na Unicentro
A presença de indígenas no ensino superior do Brasil cresceu nos últimos anos. Em 2004, a estimativa era de 1.300 indígenas ocupavam os bancos escolares das instituições de ensino superior no país. Em 2016, esse número saltou para 10 mil. E a Unicentro faz parte dessa estatística. Atualmente, 32 indígenas, de diversas tribos, estão matriculados na Instituição.
A professora Juliane Agnes, do Departamento de Secretariado Executivo da Unicentro, é presidente da Comissão Universidade para os Índios (CUIA) na instituição. Segundo a docente, a criação de políticas específicas, em 2001, pelo Governo do Estado do Paraná foram de extrema importância para o acesso dos povos indígenas à universidade. “Na época que o programa foi estabelecido, eles não tinham nem segundo grau dentro das terras indígenas. O Estado do Paraná foi o primeiro a colocar um vestibular específico e com políticas de permanência para esses estudantes nas universidades. Então, isso dá maior visibilidade, tendo em vista que o jovem indígena tem uma necessidade da demanda de formação superior”, explica.
O Campus Avançado de Chopinzinho é a unidade da Unicentro que possui o maior número de estudantes indígenas matriculados. São 24 no total – dois da etnia Guarani e 22 kaingangs. Com o acesso dos indígenas, as universidades incrementaram as discussões. Se antes elas estavam focadas no ingresso, agora voltam-se também para a inclusão, a permanência e o acompanhamento desses estudantes.
A estudante de Pedagogia Carla Cipriano integra a CUIA. Ela é da etnia Kaingang e acredita que o acolhimento proporcionado pela Unicentro permite a formação e o fortalecimento de uma identidade indígena dentro do ambiente universitário. “Fomos bem acolhidos pelos nossos colegas e isso fortalece mais a gente a continuar trabalhando, continuar mostrando nossa cultura. Então, nosso grupo está muito bom e esperamos mais acadêmicos indígenas aqui no campus de Chopinzinho para mostrar que a nossa mobilidade está forte agora e, mais para frente, pretende ficar mais forte ainda”, ressalta.
Só em 2017, a Unicentro matriculou 11 novos estudantes índios. Seis deles ingressaram pelo vestibular específico dos povos indígenas e cinco foram recebidos após processo de transferência externa da Faculdade Unilagos. Esse é o caso de Vanessa Neres, que também cursa Pedagogia. Para a acadêmica, ser recebida por um grupo de indígenas facilitou a adaptação na nova universidade. “Lá, a gente era em quatro no meio de um monte de alunos não indígenas. E aqui a gente já chega, se sente mais em casa, com bastante amigos que a gente já conhece da aldeia, ou, que até estudou junto e aí a gente se sente mais acolhido”, conta.
Os povos indígenas também tem a possibilidade de ingressar na Unicentro através do processo seletivo regular. Esse foi o caso da guarani Sara Katu, que está no último ano de Pedagogia. Ela explica que a formação superior era uma necessidade para continuar trabalhando na escola da aldeia. Por isso, decidiu fazer o vestibular indígena, mas a aprovação só se tornou uma realidade quando Sara optou pelo teste seletivo tradicional. “Concorri com os meus parentes e não consegui passar. Então, como precisava mesmo da formação para continuar trabalhando na aldeia eu pensei assim: vou fazer o vestibular normal, concorri com os não indígenas que a gente chama de uá”, relembra a estudante.
Para o vice-prefeito de Chopinzinho, Vanderlei Carlos Verdi, a política de acesso, permanência e inclusão dos estudantes indígenas promovida pela Unicentro é significativa para o município, que é cercado por duas grandes reservas indígenas. “A gente fica muito feliz de poder observar que um bom número de alunos da Unicentro, em Chopinzinho, são alunos das aldeias indígenas. Penso que é momento sim de eles estarem ocupando os espaços, tendo oportunidades e dando retorno também a sociedade desse curso, dessa formação que eles terão de forma gratuita estudando numa Universidade Estadual”, destaca Verdi.
Para a diretora do Campus Avançado de Chopinzinho, professora Suzete Terezinha Orzechowski, a Unicentro tem por função a democratização do acesso à educação pública e é nesse contexto que acontece o acolhimento dos estudantes indígenas. “Esse trabalho articulado, e cada vez mais próximo deles, garante uma possibilidade maior de desenvolvimento, de transformação e de aquisição do conhecimento. Então, a gente vê agora os estudantes indígenas fazendo mobilidade estudantil, Iniciação Científica. Sempre a comunidade indígena sendo atingida com todos esses programas que a Universidade oferta”.
E de possibilidades a acadêmica Letícia Gabriel entende muito bem. Foi através da Unicentro que a estudante conheceu o México. Em 2016, ela fez mobilidade internacional na Universidade Vera Cruzana. A kaingang acredita que a sua experiência abre novas possibilidades para outros estudantes indígenas. “É bom para a comunidade, é bom para o aluno indígena porque a gente está conquistando o nosso espaço. Eu estou nessa luta indígena dentro da Universidade, fora da Universidade e sempre estou incentivando, porque todos pensam que o índio tem que ficar lá na sua casa, ficar lá na sua aldeia. Não, os índios tem que sair para fora, o índio tem que conquistar seu espaço”, pondera.
Outra kaingang que também vislumbra novas possibilidades no ensino superior é a acadêmica de Secretariado Executivo, Alana Santos. A convite da professora Juliane Agnes a estudante vai fazer Iniciação Científica e desenvolver uma pesquisa sobre as vantagens do Secretariado Executivo para a comunidade indígena. “Que benefícios o Secretariado vai trazer dentro da aldeia? Lá tem muitos jovens, muitos adolescentes que não estudam, que pararam de estudar e eu acho que isso pode ajudar”, explica sobre a pesquisa.
A Unicentro ocupa o terceiro lugar no ranking das universidades estaduais que mais formam estudantes indígenas no Paraná. Em 16 anos de oferta no estado da política de acesso e inclusão dos povos indígenas no ensino superior, a Instituição já formou 11 profissionais. E por falar em profissionais já graduados, o objetivo de atuação dos indígenas depois de formados é unânime: voltar para as aldeias e ajudar a comunidade com aquilo que aprenderam na universidade. O guarani Oséias Poty Mirim é acadêmico de Pedagogia e conta que, depois de terminar a graduação, o objetivo é atuar na gestão escolar, não apenas em sua aldeia, mas também em outras comunidades indígenas. “Eu penso bastante na comunidade, mas não só na minha comunidade. Eu penso mais na questão itinerante mesmo. Eles retratam o indígena como seminômades e, aí, eu penso nessa questão, de ir para outras aldeias para ajudar eles”.