Implementação do Plano Real
O Plano Real trouxe uma nova perspectiva para a economia brasileira. “O Plano Real foi elaborado a partir de um diagnóstico realista e profundo da situação brasileira. A equipe econômica liderada por Fernando Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda buscou soluções eficazes para conter a inflação e estabilizar a economia.” (Goulart, 2016, p. 45) Em 1993, foi desenvolvido com a colaboração dos renomados economistas Pérsio Arida, Gustavo Franco, Edmar Bacha, André Lara Resende e Pedro Malan. Apresentando uma abordagem inovadora e distinta dos planos anteriores, o Plano Real priorizou a transparência e a atualização contínua ao longo de seu processo, garantindo também uma melhor compreensão de seus objetivos pela população. Sua implementação ocorreu em três etapas principais.

Reportagem sobre o lançamento do plano real
A implementação da Unidade Real de Valor (URV) foi uma estratégia inovadora para o controle inflacionário. Segundo Ribeiro (2023, p. 45), “foi essencial para a transição monetária, evitando os impactos negativos de planos de choque anteriores”. Não focou no congelamento de preços, destacando-se por ser uma solução gradual e temporária, com o objetivo de romper a indexação que dominava a economia brasileira desde 1980.
No período pré-Plano Real, a inflação não resultava apenas do descompasso entre oferta e demanda, mas também da instabilidade dos preços, salários e contratos, formando um ciclo vicioso. Surgindo justamente para romper essa lógica, atuando como um padrão de valor virtual, sem existência física. Os preços e salários eram expressos em URV, mas pagos em cruzeiros, baseando-se na taxa de conversão das moedas, atualizada diariamente. Essa metodologia acostumava os agentes econômicos à estabilidade, garantindo um ambiente mais equilibrado.
Mesmo que o cruzeiro continuasse inflacionando, o valor da URV permanecia estável, o que gerava confiança no sistema. “A URV foi importante para que não fosse necessário corrigir os preços depois da mudança da moeda. Na verdade, criou-se um ajuste de preços que variava conforme o dólar, mas sem a dolarização da moeda” (Barbosa, 2023, p. 18).
Essa estabilidade foi essencial para que a população acreditasse na possibilidade de controle da inflação. “Permitiu uma transição suave entre a moeda antiga e o real, evitando os efeitos colaterais típicos de planos de choque, como o desabastecimento e a quebra de contratos” (Goulart, 2016, p. 22). O governo garantiu o engajamento da sociedade por meio de uma comunicação clara e transparente, facilitando a adaptação ao novo sistema.
A transição para o Real, em julho de 1994, ocorreu de forma organizada, sem os choques econômicos habituais dos planos anteriores. “O Plano Real reconheceu que a inflação brasileira possuía caráter inercial, ou seja, os preços continuavam a subir não por pressões de demanda, mas pela expectativa de que subiriam” (Varaschin, 2024, p. 6). A URV pavimentou o caminho para a estabilização da moeda, restaurando a confiança na economia e possibilitando a construção de uma base sólida e previsível.
Reais de 1994




Fonte: Banco Central do Brasil disponível em https://www.bcb.gov.br/cedulasemoedas/moedasemitidas
Confira o comercial oficial do lançamento da URV (Unidade Real de Valor), marco inicial do Plano Real, que foi fundamental para o controle da hiperinflação no Brasil: Comercial do lançamento da URV – Plano Real (1993)
O Real foi rapidamente aceito pela população, representando um alívio após anos de instabilidade econômica. Para assegurar sua estabilidade, o governo adotou políticas rigorosas, como juros elevados para atrair investimentos estrangeiros, controle de gastos públicos e manutenção de taxas de câmbio inicialmente valorizadas. Goulart (2016) observa que o lançamento do Plano Real foi apenas a primeira etapa do processo de estabilização monetária. Para preservar o valor da nova moeda, tornou-se essencial a implementação de uma política econômica estruturada, incluindo taxas de juros altas para captação de capital estrangeiro, restrição de despesas públicas e valorização cambial temporária, garantindo a solidez conquistada. Essas medidas foram decisivas para o início da estabilidade econômica no Brasil.
Entretanto, o plano também enfrentou desafios. A valorização do Real prejudicou as exportações, tornando o mercado menos competitivo e aumentando a dependência de investimentos externos. Em 1999, diante da influência do mercado global, o Brasil abandonou a âncora cambial que mantinha o Real próximo ao dólar e adotou o regime de câmbio flutuante. Como observam Serrano, Santos e Quintino (2023, p. 75), “o tripé macroeconômico implementado em 1999 consolidou um novo modelo de política econômica baseado na estabilidade fiscal, no câmbio flutuante e no controle da inflação, permitindo ao país enfrentar crises internacionais sem desorganizar o mercado interno.”
Nesse período, foi implementado o tripé macroeconômico, um conjunto de três pilares que busca a estabilidade da política econômica do Brasil desde 1999. Os três componentes são:
Todas essas práticas desenvolvidas e planejadas vieram com o intuito de trazer uma resistência e fortalecimento para a economia, o Plano Real transformou a forma de pensar e administrar a economia brasileira e permitiu que a sociedade possa planejar melhor suas finanças, aos empresários investir com maior previsibilidade e ao país crescer com mais equilíbrio.
O Plano Real destacou-se significativamente dos planos anteriores ao priorizar uma abordagem estrutural e de longo prazo para estabilizar a economia. A atenção às políticas monetárias, o apoio político e social, bem como a real correção das causas subjacentes da inflação, foram fatores determinantes para o sucesso e a sustentabilidade desse plano em comparação aos seus predecessores (Ribeiro, 2023, p.10).

Moedas e cédulas atuais




Fonte: Banco Central do Brasil disponível em https://www.bcb.gov.br/cedulasemoedas/moedasemitidas
Indica-se como material complementar para a compreensão do surgimento da moeda o eBook produzido em 2024 pela 28ª turma do curso de Ciências Econômicas da UNICENTRO, que aborda a história da moeda no cenário mais amplo, apresentando, de forma didática e interativa, a trajetória da moeda desde as origens do comércio até a sua invenção. A combinação dos dois materiais oferece uma base sólida para um entendimento amplo sobre o tema.