Peça ‘Murro em Ponta de Faca’ traz a Guarapuava discussão sobre exílio e ditadura

Peça ‘Murro em Ponta de Faca’ traz a Guarapuava discussão sobre exílio e ditadura

Minutos antes da peça começar, a movimentação em frente ao Auditório Francisco Contini era grande. 39 anos após a primeira encenação, “Murro em Ponta de Faca” retorna aos palcos brasileiros e chega a Guarapuava para apresentação única. Na primeira montagem, realizada em 1978, o destaque era para a mensagem política do texto, na nova encenação o foco é o drama dos casais exilados, que obrigados a dividir o mesmo espaço, enfrentam as diferenças e a falta de liberdade.

Conta-se uma história de seis exilados políticos que representam, de alguma forma, os brasileiros exilados. E falar de exílio, hoje, é falar de gente que perdeu tudo que tinha, por uma questão ideológica, ou religiosa, econômica ou/e tudo isso”, argumenta a atriz e produtora da peça, Nena Inoue.

Para compor a cena, nada além do essencial. O cenário é restrito a algumas malas que revelam a condição de transitoriedade dos personagens e o modo precário em que viviam. E se na cenografia o teor simplista chama atenção, os diálogos marcados por referências ao golpe de 1964 e a Ditadura no Brasil tornam a peça um verdadeiro instrumento para reflexão. “A gente está numa época política muito difícil, uma situação política muito difícil. Então, esse texto é muito atual, muito contundente. É uma peça política, não no sentido de partidos, mas de se pensar politicamente”, salienta o ator Gabriel Gorosito.

A peça tem apoio do Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura (Profice). Depois de temporadas em São Paulo e no Rio de Janeiro, “Murro em Ponta de Faca” passa por 11 cidades paranaenses e após cada apresentação a plateia é convidada a participar de um bate papo com o elenco e convidados. Uma conversa informal, para fazer perguntas e saber um pouco mais sobre a experiência dos atores.

Cenário singelo da peça chama a atenção para o texto político (Foto: divulgação)

O professor aposentado da Unicentro, Ariel José Pires foi um dos debatedores convidados e enfatizou a importância da atividade cultural, principalmente para o público jovem. “Esse debate, essa apresentação, procura trazer luzes a esse processo todo, não só analisando 1964, mas também pensando no momento presente, porque é uma questão que nunca morre. Então, é necessário, sobretudo, a população mais jovem ter interesse, é preciso que ela conheça, historicamente, esse processo”, avalia.

Em Guarapuava, o debate rendeu depoimentos emocionantes como o da professora Telma França. “O tempo todo que eu trabalhei como professora, o cerceamento das nossas atitudes, do nosso trabalho. Achei que tinha que dar esse tipo de depoimento, fiquei um tempo indecisa se faria ou não, mas depois eu achei que deveria e meu depoimento foi bem recebido”.

E para quem não viveu aquele período, depois de acompanhar o debate, fica a certeza da importância do direito à memória. “Esse assunto ainda é atual, é necessário, precisa ser debatido e acho que por muito tempo vai precisar ser mostrado, para as pessoas saberem como foi e comparar com o hoje”, explica a acadêmica de Serviço Social, Maria Milena Mendes.

Para além da atualidade e da relevância da peça, Rita Felchak, produtora local, destacou o fato de Guarapuava estar incluída no roteiro de apresentações. “A gente acha importante que grupos e companhias desta qualidade venham para Guarapuava e nos escolham nos seus roteiros. Então, a gente fica super feliz, o público maravilhoso, lotamos a casa e eu tenho certeza que todos levam uma mensagem daqui”, declara.

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