Primeiro dia da Grande Feira Agroecológica destaca discussões sobre gênero e decolonialidade

Primeiro dia da Grande Feira Agroecológica destaca discussões sobre gênero e decolonialidade

Partilhar saberes e sabores. Na celebração dos 11 anos do projeto em Irati, a Feira Agroecológica da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) preparou uma programação especial para toda a comunidade da região. Na quinta-feira (30), o evento contou com oficinas, exposições, apresentações culturais, roda de mate e debate, e um café (de)colonial.

“O pensamento decolonial tem essa proposta de ir às nossas raízes. A partir disso, uma alimentação decolonial vai valorizar a cultura alimentar brasileira, dos povos originários, tradicionais. Então, nós queremos compartilhar uma comida natural, feita pelas próprias pessoas, pelas famílias, com parcimônia e cuidado”, explica a professora Fernanda Keiko Ikuta, coordenadora do projeto no Câmpus de Irati.

As crianças das comunidades quilombolas participaram ainda de uma oficina de leitura na Biblioteca do Câmpus de Irati. (Foto: Coorc)

Seguindo a perspectiva de resgatar conhecimentos ancestrais, no período da tarde, a oficina “Ginecologia natural” trabalhou com a importância de conhecer ervas e outras plantas que podem ajudar na saúde da mulher. De acordo com a fitoterapeuta Cyntia Marconato de Toledo, a ideia não é substituir tratamentos médicos e exames ginecológicos, mas orientar sobre um primeiro cuidado que pode ser feito com o que está disponível no quintal da própria casa.

“Uma erva que todo mundo tem – e que muitos acham que é uma praga – é a tanchagem. Essa planta é um anti-inflamatório muito bom, que pode ser usado para fazer um chazinho para as crianças e para várias situações como dor de garganta, dor de ouvido, gripe, resfriado, infecção de bexiga e intestino preso. É uma erva que está ali fácil para um primeiro alívio e que muitas vezes a pessoa não conhece e não valoriza”, comenta a fitoterapeuta.

O coletivo Soma apresentou a performance “Encanto de Ser Livre” durante o evento. (Foto: Coorc)

Já à noite, foram apresentados os resultados de duas pesquisas. A primeira delas foi desenvolvida junto às comunidades quilombolas de São Roque e Rio do Meio, ambas em Ivaí. No último ano, a iniciativa da Unicentro buscou entender o papel das mulheres na cultura e na soberania alimentar dessas comunidades no decorrer do tempo.

“A gente levantou que hoje a maior parte delas trabalha fora. Ou seja, elas têm outra fonte de renda, outro emprego. Porém, em praticamente todos os quintais ainda há horta, elas ainda plantam a maior parte das hortaliças para consumo, enquanto o resto dos alimentos é comprado”, detalha Sofia Gonzales Kochem, acadêmica de Psicologia, responsável pelo trabalho feito sob a orientação da professora Fernanda Ikuta.

Os moradores das comunidades quilombolas inclusive estiveram presentes durante todo o dia, participando das atividades e contribuindo com as discussões. “A gente que tem filho, que com certeza logo vai ter neto, queria que toda a comida viesse dali, como era antigamente, com o alimento do cultivo próprio, mas hoje a rotina é outra”, comenta Janete do Santos Ferreira, do quilombo Rio do Meio. “E como integrante da comunidade, é uma honra estar aqui na universidade e ser reconhecido”, complementa Janete.

No café decolonial, foram partilhados alimentos produzidos por agricultoras da região. (Foto: Coorc)

Na sequência, a 34ª edição da “Roda de Mate e Debate” destacou a pesquisa “Caderneta Agroecológica e Quintal-Semente”. Promovido pela AS-PTA, entidade de assessoria técnica para agricultura familiar e agroecologia, o projeto envolveu 15 produtoras rurais de Palmeira, Teixeira Soares e Rio Azul. 

Como pontua Luiza Damigo, integrante da AS-PTA, foram as próprias agricultoras que assumiram o papel de pesquisadoras, ao anotarem em uma caderneta tudo o que elas consumiam, vendiam, trocavam ou doavam. Só em um ano, elas movimentaram uma produção total equivalente a mais de R$ 255 mil.

“Das quatro relações levantadas, a venda representa cerca de 65%, o que é natural, pensando que o acesso a mercados é fundamental e nós produzimos muito alimento para vender. Por outro lado, consumo familiar, doação e troca – que são as relações que não envolvem dinheiro e as quais a gente queria trazer para a visibilidade – correspondem a quase um terço da produção”, ressalta Luiza.

“Nesse período, 15 produtoras rurais movimentaram quase R$ 67 mil só com consumo familiar. Segundo elas mesmas, se fossem comprar tudo no mercado, não comprariam nem em diversidade, nem em quantidade e, principalmente, nem em qualidade, porque são agricultoras que não usam venenos, não usam insumos químicos, que trabalham na perspectiva da agroecologia”, reforça a assessora técnica da AS-PTA. “E a gente tem ainda doação e troca – que somam quase 11% – que são relações comunitárias, de reciprocidade, características da agricultura familiar camponesa e que fogem dessa lógica individualista perpetrada”, avalia.

 

Próximo evento da Grande Feira Agroecológica será no dia 13 de novembro

Na continuidade da celebração do aniversário do projeto, no dia 13 de novembro, também no Câmpus de Irati, será promovida a Feira da Agrobiodiversidade e Economia Solidária. Das 14h às 21h, serão comercializados alimentos e artesanatos, além da realização de oficinas, exposições e apresentações artístico-culturais.

“Vai ser uma grande feira e uma grande festa, porque a gente tem a participação de outros feirantes externos ao projeto, para mostrar a diversidade de alimentos e de artesanatos da nossa região e, assim, ter esse momento de partilha do que é produzido, de troca de saberes e sabores”, salienta a professora Fernanda Keiko Ikuta.

Acompanhe atualizações sobre a Feira e faça pedidos de produtos pelo perfil do projeto no Instagram.

 

Todas as fotos da evento estão disponíveis no Banco de Imagens da Unicentro

Por Wyllian Correa


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