
Pesquisas aplicadas da Unicentro geram soluções para setor produtivo empresarial
Desde 2020, a Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) desenvolve o Programa de Mestrado e Doutorado Acadêmico para Inovação (MAI/DAI). A iniciativa, vinculada à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp), tem impulsionado pesquisas aplicadas com foco em inovação, aproximando a produção científica das demandas concretas da indústria, da agricultura e de outros setores estratégicos.
De acordo com o coordenador de projetos estratégicos da Propesp e da Infraestrutura Multiusuária de Pesquisa (IMP), professor Marcos Ventura Faria, a Unicentro foi contemplada com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para execução de projetos que envolvem bolsas de mestrado, doutorado e iniciação tecnológica. “O foco é a pesquisa acadêmica, mas com um viés muito claro de alinhamento com as necessidades das empresas. Buscamos inserir o conhecimento gerado na universidade em contextos mais amplos, contribuindo diretamente com o desenvolvimento do setor produtivo empresarial”, explica.
Atualmente, o programa encerra sua primeira fase, iniciada em 2020, e começa um novo ciclo de projetos em 2025, com a renovação de parcerias importantes, como as firmadas com a Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (Fapa) e empresas do setor de bioinsumos e nanotecnologia. São mais de 40 bolsas do CNPq associadas a esses projetos. “Isso representa não só um avanço significativo para a pós-graduação, mas também evidencia a relevância e a qualidade das pesquisas que estão sendo desenvolvidas, com repercussão e resultados bastante positivos”. A iniciativa, segundo o docente, reforça o papel da universidade como agente de inovação e desenvolvimento regional.
Estudo traz alternativa promissora contra doenças que afetam a cultura do feijão
A doutoranda Simone Izidoro Morimitsu, do Programa de Pós-Graduação em Agronomia, integra o Programa MAI/DAI com uma pesquisa que busca alternativas mais eficazes ao uso de fungicidas químicos no controle da antracnose — doença que afeta a cultura do feijão, especialmente em regiões como o centro-sul do Paraná. O projeto é orientado pelo professor Jackson Kawakami, com coorientação das professoras Adriana Knob e Cacilda Marcia Duarte Rios Faria. Também foi realizado em parceria com a Fapa, atendendo a uma demanda real da cooperativa, vinculada à fundação, por soluções mais eficientes e ambientalmente adequadas.
De acordo com Simone, o estudo contribui diretamente para um dos segmentos mais promissores da agricultura atual: o controle biológico. “O uso de microrganismos cresceu muito nos últimos cinco anos na agricultura e, além de ser um nicho de mercado em crescimento, exige cada vez mais tecnologia”. Ela também destaca a importância da vivência prática com a dinâmica empresarial. “A cooperativa precisa apresentar resultados concretos aos cooperados, então a pesquisa precisa gerar impacto direto na produtividade. Isso nos dá uma nova perspectiva sobre como a ciência pode atender às necessidades do setor”, analisa.
O trabalho teve início em 2020, juntamente com a implantação do programa na universidade, a partir da prospecção de novos isolados de Trichoderma, fungo utilizado no controle biológico. Os microrganismos selecionados foram avaliados tanto em laboratório quanto na Fapa, com o apoio de pesquisadores da cooperativa. O objetivo era analisar o comportamento desses fungos em diferentes condições de cultivo: em ambiente laboratorial, em casa de vegetação e em campo experimental.
Os resultados foram promissores: três dos isolados apresentaram desempenho superior ao fungicida químico atualmente utilizado e até mesmo ao produto biológico já consolidado no mercado. Com esses dados, a doutoranda segue agora para a etapa final, que tem como objetivo transformar a pesquisa em um produto viável para aplicação comercial.
Segundo ela, o MAI/DAI tem sido essencial para esse processo. O programa contribuiu para que ela compreendesse as etapas necessárias para transformar sua pesquisa em uma solução comercial aplicável, desde os testes em laboratório e campo até a formulação final e a inserção no mercado. “Essa aproximação nos ajuda a entender que a pesquisa não termina com os dados tabulados. É preciso pensar em formulação enquanto produto, aplicação, escala e mercado”, observa a pesquisadora.
Pesquisa transforma resíduo da produção de cogumelos em solução agrícola

Estudante do 5º ano de Agronomia na Unicentro, Maria Eduarda Alves de Camargo participa do MAI/DAI há quase dois anos.
Estudante do 5º ano de Agronomia na Unicentro, Maria Eduarda Alves de Camargo participa do MAI/DAI há quase dois anos, por meio de uma bolsa de iniciação tecnológica. Sob orientação da professora Cacilda Marcia Duarte Rios Faria, ela atua em um projeto que propõe o reaproveitamento do substrato exaurido da produção de cogumelos — material que, normalmente, seria descartado — como base para o desenvolvimento de novos produtos biológicos. “No primeiro ano, fizemos o isolamento e a bioprospecção de bactérias para identificar seu potencial no controle de doenças de plantas. Agora, estamos testando os isolados mais promissores, observando também se ajudam no desenvolvimento das plantas”, explica Maria Eduarda.
A estudante destaca o caráter inovador da pesquisa, alinhado aos objetivos do programa MAI/DAI, que busca soluções sustentáveis com impacto real na sociedade. Para ela, o projeto representa uma importante contribuição ambiental e social. “O uso de produtos químicos na produção de alimentos ainda é inevitável, mas os biológicos surgem como uma alternativa importante, oferecendo uma forma mais sustentável de cultivo. Além disso, pragas e doenças têm desenvolvido resistência aos defensivos convencionais. Por isso, quanto mais alternativas tivermos no controle desses problemas, maiores são as chances de reduzir essa resistência e mitigar seus impactos”, apontou.
O projeto é conduzido em parceria com a doutoranda Daiane Lopes da Silva, que trabalha com a mesma linha de pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Agronomia (PPGA), também sob orientação da professora Cacilda. Maria Eduarda explica que, além de ter sua própria investigação, também colabora com as etapas mais avançadas do estudo conduzido pela colega.
A iniciativa tem o apoio da empresa Ballagro Agro Tecnologia, com sede em São Paulo, especializada em produtos biológicos para a agricultura. A parceria garante suporte técnico e contrapartida financeira para as pesquisas, além de abrir portas para uma vivência prática no setor produtivo. Como parte dessa colaboração, Maria Eduarda realizará seu estágio obrigatório na empresa, onde receberá bolsa e também dará continuidade às pesquisas iniciadas na universidade.
Para a estudante, essa experiência tem sido fundamental tanto para sua formação acadêmica quanto para seu desenvolvimento profissional. “Quando entrei no projeto, ainda estava me encontrando na graduação. Essa vivência me mostrou uma área que realmente me interessa e com a qual quero trabalhar no futuro. Sem o projeto, talvez eu nunca tivesse descoberto isso”, reflete.
Por Poliana Kovalyk