Conferência Nacional mobiliza escolas da região em defesa do meio ambiente

Conferência Nacional mobiliza escolas da região em defesa do meio ambiente

Com o tema “Vamos transformar o Brasil com Educação e Justiça Climática”, estudantes do ensino fundamental e médio de Guarapuava e região têm se engajado em pesquisas e apresentado propostas voltadas à preservação ambiental. As atividades integram a etapa regional da 6ª Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente. Na última semana, o Colégio Estadual Cristo Rei compartilhou sua iniciativa com a comunidade escolar. Já nesta terça-feira (24), foi a vez do Colégio Estadual Padre Chagas. Os trabalhos apresentados poderão avançar para as fases estadual e nacional, cuja final acontece em Brasília.

As ações contam com apoio direto da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), por meio de projetos que articulam ciência, educação e protagonismo juvenil: o Pacto Global de Jovens pelo Clima, a Rede Clube de Ciências e o Nós Propomos!Unicentro.

O Pacto Global de Jovens pelo Clima teve origem em 2014 em Paris, por iniciativa do professor pesquisador Alfredo da Pena Vega, do Instituto de Antropologia Política – École des Hautes Études en Sciences Sociales. De abrangência internacional, no Brasil envolve 11 estados, e na região 12 escolas, sendo seis delas em Guarapuava, supervisionadas pela Unicentro. A coordenadora nacional e professora do Departamento de Ciências Biológicas da instituição, Adriana Massaê Kataoka, destacou a importância da universidade no apoio técnico e formativo às escolas. Segundo ela, a parceria entre a Unicentro, as escolas públicas e os programas governamentais têm potencializado a formação de uma nova geração: mais consciente, engajada e preparada para enfrentar os desafios climáticos do presente e do futuro. “Para nós, enquanto universidade, esse contato direto com as escolas é essencial, pois nos permite ver de perto como os jovens, desde cedo, estão se engajando em uma problemática tão séria, urgente e de dimensão planetária, que é a mudança do clima”, ressaltou.

Adriana apontou que esses projetos valorizam, sobretudo, o protagonismo estudantil. “Aqui, o aluno não é apenas um ouvinte. Ele investiga, pesquisa, levanta hipóteses e produz conhecimento. Isso contribui muito para o desenvolvimento intelectual, social e crítico desses estudantes. E tudo isso só é possível porque há professores e cientistas comprometidos, que atuam como mediadores entre os alunos e o conhecimento científico. Eles são fundamentais nesse processo”, completou.

As ações das conferências, que integram o projeto do Pacto, estão sendo realizadas nos Clubes de Ciências que fazem parte do Projeto de Pesquisa Rede Clube de Ciências, coordenada pela Unicentro em parceria com a Secretaria de Estado da Educação do Paraná, e com financiamento da Fundação Araucária. Oferece a estudantes do ensino fundamental II e do ensino médio a oportunidade de desenvolver pesquisas científicas dentro da escola, em horários e espaços dedicados exclusivamente a essa finalidade. “Os clubes permitem que os alunos vivenciem o fazer científico, estudando temas reais do seu território e propondo soluções. Isso dá sentido ao conteúdo aprendido em sala de aula e fortalece a cidadania e o pensamento crítico, como os temas de justiça climática abordado nestas conferências”, explicou a coordenadora da Rede na Unicentro, professora Marquiana de Freitas Vilas Boas Gomes.

Na área de abrangência da universidade, o projeto envolve 30 escolas, sendo 12 delas no Núcleo Regional de Guarapuava. Segundo Marquiana, um dos temas mais recorrentes entre os clubes é justamente a emergência climática. “No Colégio Estadual Padre Chagas, por exemplo, os estudantes investigam os impactos das inundações do rio Cascavel, que corta 80% da área urbana de Guarapuava. As chuvas intensas podem causar prejuízos materiais, sociais e psicológicos às famílias. Então, essa pesquisa vai contribuir não apenas com a escola, mas com toda a comunidade local”, apontou. Neste projeto do Clube, além do Pacto Global, integram-se ações do “Nós Propomos! Juventude Educando-se na Cidade”, também sob coordenação da professora Marquiana, iniciativa desenvolvida em parceria com a Universidade de Lisboa. A contribuição na conferência está em promover a cidadania territorial por meio do protagonismo juvenil, incentivando os alunos a investigarem problemas socioambientais reais em seus territórios. A partir desse diagnóstico, os estudantes propõem soluções que contribuem com a comunidade e fortalecem o vínculo entre escola e realidade local, que neste caso está relacionado aos desastres oriundos das inundações do rio Cascavel.

O papel das abelhas na preservação do clima e da biodiversidade

No Colégio Estadual Cristo Rei, os alunos do Clube de Ciências “Velozes e Curiosos” desenvolveram um projeto voltado à conservação de abelhas nativas, que foi apresentado à comunidade escolar como parte de uma ação de divulgação científica. A professora Crissiane Loyse Luiz, coordenadora do clube e também participante do Pacto Global de Jovens pelo Clima, destacou que o trabalho busca romper a visão limitada que muitos ainda têm sobre as abelhas. “As pessoas acham que as abelhas servem apenas para produzir mel, mas elas são fundamentais para a polinização e para a manutenção das florestas”. Segundo a docente, a proposta do clube é justamente levar esse conhecimento à população, despertando a curiosidade e promovendo reflexões sobre os impactos das mudanças climáticas.

Além do suporte pedagógico, a Unicentro também desempenha um papel essencial no apoio científico às escolas participantes. A pesquisadora do Departamento de Ciências Biológicas e do Programa de Pós-Graduação em Biologia Evolutiva da universidade, professora Maria Luisa Tunes Buschini, atua como cientista orientadora nos projetos. Ela explica que as abelhas estão diretamente conectadas a diversas espécies de plantas — tanto cultivadas para alimentação quanto nativas — e que, por sua vez, essas plantas mantêm relações com outros organismos, como os animais responsáveis pela dispersão de sementes. “É fundamental que os jovens compreendam a importância das abelhas. Sem elas, não há polinização. Sem polinização, não há reprodução das plantas. E sem essa reprodução, toda a rede de interações entre fauna e flora entra em colapso, colocando também em risco a própria sobrevivência humana”, alertou.

A coordenadora do clube no colégio reforçou o papel transformador do projeto na vida dos estudantes. “O mais importante é o alerta que está sendo construído por eles. Os alunos estão se apropriando do conhecimento, levando para suas famílias, envolvendo a comunidade e aprendendo, na prática, como cada um pode atuar como cidadão na preservação do meio ambiente”, acrescentou a professora Crissiane.

A estudante Luiza Mazur, de 11 anos, participou da exposição ao lado dos colegas, explicando como as abelhas interagem com o ambiente e contribuem para o equilíbrio ecológico. Encantada pelo tema, ela compartilhou o que aprendeu durante as atividades do clube. “Eu sempre tive curiosidade sobre abelhas e, depois de participar do clube, passei a gostar ainda mais. Aprendi que elas não são só insetos que picam. Elas ajudam a produzir alimentos como café, mamão, cacau. E sem elas, tudo isso pode acabar”, relatou.

Justiça climática a partir de problemas reais da comunidade

No Colégio Estadual Padre Chagas, os estudantes do Clube de Ciências “Ecocientistas Visionários” mergulharam em temas diretamente ligados ao cotidiano da comunidade escolar, com foco em eventos climáticos extremos e seus impactos nas cidades. A partir disso, são trabalhados subtemas diversos, escolhidos pelos próprios estudantes, relacionados à justiça climática, como saneamento básico, drenagem urbana, segurança alimentar, descarte correto de resíduos sólidos e qualidade da água. A iniciativa faz parte do Nós Propomos! e do Pacto Global de Jovens pelo Clima.

Segundo o coordenador do clube, professor Emerson de Souza Gomes, a proposta é que os alunos estudem a fundo cada problema, identifiquem como ele se manifesta no entorno da escola e elaborem propostas de mitigação. O trabalho também irá envolver entrevistas com a comunidade e visitas a órgãos como Defesa Civil, Sanepar e Prefeitura, para entender sobre o processo. “A ideia é que essas propostas resultantes do trabalho desenvolvido pelos alunos possam ser levadas aos órgãos de decisão, mas também compartilhadas com a comunidade. Queremos transformar esse conhecimento em ações educativas, ampliar o debate e alcançar, principalmente, quem já sofre com esses problemas e muitas vezes não tem noção da gravidade ou das causas por trás deles”, explicou o docente de Geografia.

Ao levar essas discussões para o espaço escolar, o projeto contribui para formar uma geração mais consciente, ativa e preparada para enfrentar os desafios. Os adolescentes têm se envolvido ativamente no clube e compartilhado o que aprendem com outras turmas. “A ideia é que essa nova geração tenha acesso a informações que talvez nós não tivemos, e que isso desperte neles a esperança e a capacidade de encontrar soluções que ainda não conseguimos. Ou, ao menos, que eles adquiram instrumentos, começando pelo conhecimento, para lutar por mudanças. Nosso objetivo é justamente esse: que deixem de ser apenas espectadores e se tornem agentes ativos na transformação da realidade”, defendeu Emerson.

 

Por Poliana Kovalyk


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