Pesquisadores da Unicentro coletam fósseis de Mesosaurus em Irati

Pesquisadores da Unicentro coletam fósseis de Mesosaurus em Irati

Summary

Espécie viveu há 280 milhões de anos. Universidade está fazendo intensa divulgação científica sobre os achados.

Imagina encontrar vestígios de animais pré-históricos ao lado da universidade em que você atua? Foi o que aconteceu com pesquisadores da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), que estão coletando fósseis de Mesosaurus brasiliensis em Irati. Essa é uma espécie de lagarto aquático que viveu cerca de 280 milhões de anos atrás. A descoberta aconteceu durante a execução de uma obra na BR-153, sob coordenação do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), em um trecho que fica a poucos metros do Câmpus de Irati da instituição.

“Quando chegaram no nível dos fósseis, eles nos reportaram e nos trouxeram algumas peças. No início, foram oito peças de fósseis. Eles escolheram a universidade como fiel depositária desse material”, contextualiza o professor de Geografia da Unicentro, Luiz Carlos Basso.

Uma das pérolas entre os achados: uma pata de Mesosaurus que ficou marcada no folhelho

Após esse contato, o docente solicitou autorizações do DER, da empresa construtora e da Agência Nacional de Mineração para poder coletar mais fósseis no local. A partir de então, professores e estudantes da Unicentro foram a campo em busca de mais materiais. “A universidade está em cima de um sítio paleontológico que é muito importante para a comunidade científica municipal, nacional e internacional. Os fósseis são importantes para a geologia de Irati e para o mundo científico paleontológico de um modo geral”, destaca Basso, que é especialista em estudos sobre o patrimônio geológico de Irati.

Os fósseis estão impressos em camadas de folhelho betuminoso, que é uma rocha abundante na região e que funciona como uma esponja, absorvendo matéria orgânica. O Mesosaurus brasiliensis é a espécie que mais aparece nas rochas analisadas pelos pesquisadores. “Ele é um réptil já extinto. Pela literatura que nós conhecemos, ele media em torno de 40 centímetros, é mais antigo do que os dinossauros, e é como se fosse uma lagarto. Você encontra nas patas deles como se fosse uma película. Naquela época, a predominância de seres vivos estava nos oceanos”, descreve Basso.

Professores e estudantes de Geografia participaram da coleta, catalogação e armazenamento dos fósseis

A coleta dos fósseis inclui recolher, separar, catalogar e preparar as peças para conservação, visto que esses materiais são frágeis por conta da ação do tempo e do clima. “Estamos procurando preservá-los, para catalogação, para exposição, e quem sabe os nossos acadêmicos se interessem pela paleontologia local. De repente a partir desse material saem novas pesquisas, novas descobertas”, vislumbra o docente. Essas tarefas estão sendo feitas no Laboratório de Geologia da Unicentro, no Câmpus Irati.

Essa espécie foi essencial para a comprovação da teoria da Deriva Continental, quando, em 1908, foi reforçada a ideia de que os continentes já estiveram unidos. “O Mesosaurus é um exemplo típico e comprovatório disso, porque é encontrado lá na África e aqui também”, afirma Basso.

Para o professor João Anésio Bednarz, que também tem participado da coleta do material, os fósseis contam a história da região. “Muitos pensam que fósseis são apenas alguns fragmentos de ossos, mas, na verdade, eles vão trazer evidências do histórico evolutivo da vida na Terra. Quando a gente olha para um fóssil, a gente tem todo um aparato e uma possibilidade de saber como eram esses ambientes passados”, explica o docente do Departamento de Geografia.

Fósseis estão sendo tratados, catalogados e armazenados no Laboratório de Geologia da Unicentro, no Câmpus Irati

A equipe da Unicentro já coletou cerca de 30 peças com fósseis e segue realizando buscas no local. “Nós pretendemos, antes de retomarem a construção, pelo menos na área onde estão os cascalhos, coletar o máximo possível. Todo e qualquer fragmento é importante para nós”, projeta o professor Basso. Durante esse processo, a Unicentro conta com a parceria do professor Elvio Bosetti, do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), que tem pesquisas na área da paleontologia e deu dicas de como realizar a extração dos fósseis de Irati. A coleta também tem a supervisão do paleontólogo da empresa responsável pela obra.

O Mesosauro no ensino, na pesquisa e na extensão

Vários estudantes de Geografia estiveram no local junto com os professores do curso e puderam experimentar a sensação de achar esses fósseis. “É muito importante, para nossa formação enquanto acadêmicos, encontrar esses materiais. Poder catalogar isso significa a materialização de tudo aquilo que a gente vê na teoria”, relaciona a aluna Karina Ludvichak. “Tudo isso que a gente está vendo aqui são coisas que foram teorizadas há mais de 100 anos e a gente pode ver acontecendo hoje, indo além da sala de aula”, completa a acadêmica.

Espinha dorsal é o fragmento que mais aparece impresso nas rochas coletadas

Os fósseis que agora estão na Unicentro também podem render pesquisas instigantes para a universidade. “Temos muitas perspectivas de estudos. A paleontologia vem sendo desenvolvida a todo momento com a descoberta de coisas novas. A esperança é que a nossa instituição, mesmo simples e jovem, possa se tornar, futuramente, uma referência no estudo do Mesosaurus brasiliensis”, projeta o professor Basso.

O docente dá um exemplo de uma das abordagens possíveis para os estudos sobre os Mesossauros. “Estudando eles, podemos descobrir coisas sobre o passado que poderão ser evitadas nos dias de hoje, como o clima e a relação do porquê eles desapareceram. Os fósseis são um exemplo de como nós, seres humanos, podemos tomar certos cuidados para que não percamos mais espécies vegetais ou animais”, conscientiza Basso.

Além de pesquisas, o Departamento de Geografia quer fazer exposições do material, abrindo as portas da universidade para uma visitação de toda a comunidade. Outra via para difundir o conhecimento sobre os Mesosaurus é levar ele até o público jovem. É o que tem feito o professor João Anésio, que além de docente da Unicentro, também atua no ensino fundamental e médio em Irati. “Tenho divulgado a coleta, esses exemplares e conscientizado os alunos sobre a importância da preservação do sítio paleontológico que a gente tem aqui, bem como também a importância que tem dentro desse processo histórico”, conta João.

Mascote do Mesosaurus está sendo desenvolvido por pesquisadores da Unicentro e da UEPG, em parceria com a startup Virtwell.

Também como estratégia no âmbito escolar, a professora Juliana Thaisa Rodrigues Pacheco está desenvolvendo uma mascote do Mesosaurus brasiliensis, através do projeto de extensão “Proj 3D”, numa parceria entre a UEPG e a startup Virtwell. “Eu e o professor Basso vamos trabalhar com a temática nas escolas. Para isso terá a confecção de material didático e podcast sobre o assunto, desenvolvido em conjunto com os nossos alunos no âmbito da extensão universitária”, antecipa a docente de Geografia.

“A nossa prioridade é o jovem, é a criança. Então, temos que falar a língua que eles entendam, para compreenderem, criarem gosto e depois irem construindo a ciência deles. As crianças são os nossos pesquisadores do futuro, então temos que alimentar isso e incentivá-los”, completa Basso. A ideia é usar a tecnologia a favor dessas descobertas, aliando passado, presente e futuro. “Nós estamos pensando também nas impressoras 3D e 4D. Nós temos uma impressora aqui e pretendemos colocá-la para funcionar. A ideia é trabalhar o ensino, a pesquisa, a extensão e, por que não, a inovação também”, projeta o professor Basso.

 

Por Amanda Pieta

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