Pesquisa sobre biocombustível está entre as melhores inovações da América Latina

Pesquisa sobre biocombustível está entre as melhores inovações da América Latina

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Unicentro e UFFS produziram etanol e biodiesel a partir do resíduo da semente de seringueira

Uma pesquisa da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) foi considerada uma das mais inovadoras da América Latina. O projeto “Produção de etanol a partir do resíduo da semente de seringueira” teve duas patentes classificadas entre as dez melhores do Concurso Innovación Verde, promovido pela Associação Interamericana da Propriedade Intelectual (ASIPI). O prêmio contempla as iniciativas sustentáveis mais interessantes entre países latino-americanos.

“Foi algo bem interessante para o nosso grupo de pesquisa e a gente quer continuar desenvolvendo mais pesquisas nessa área. É sempre bom ter esse reconhecimento”, comentou o coordenador da pesquisa, professor André Lazarin Gallina, do Departamento de Química e do Programa de Pós-Graduação em Bioenergia da Unicentro.

Após descascadas, a equipe extrai o óleo para produzir biodiesel e os carboidratos para produzir etanol (Foto: acervo pessoal)

O projeto acontece desde 2019 em parceria com o Câmpus de Realeza da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). A UFFS contribui com análises químicas e testes experimentais. Os pesquisadores de ambas as instituições discutem juntos os processos, resultados e encaminhamentos, garantindo um desenvolvimento integrado da pesquisa.

“A parceria entre a UFFS e a Unicentro é essencial para o avanço do projeto, unindo esforços na pesquisa e inovação. Esse trabalho colaborativo permitiu que recebêssemos reconhecimento e financiamento para ampliação. Com isso, o projeto se destaca ainda mais na valorização de resíduos agroindustriais e na promoção da sustentabilidade na produção de biocombustíveis”, pontua a professora Fernanda Oliveira Lima, integrante da equipe da UFFS.

A proposta de pesquisa surgiu quando a empresa Kaiser Agro buscou a ajuda da Unicentro para achar uma solução para a destinação de resíduos produzidos em suas atividades no ramo de conservação de solo e preservação de florestas nativas.

Segundo gestor da Kaiser Agro, Fábio Tonus, no plantio da seringueira, as sementes acabam não tendo utilidade para os produtores. “Simplesmente a árvore produzia as sementes, que caíam no solo e ali elas apodreciam. A gente observou a necessidade de fazer um melhor aproveitamento dessa semente, até para poder gerar recurso tanto para o proprietário que plantou a árvore, como para o próprio seringueiro que trabalha extraindo látex”, contextualiza.

A seringueira é uma espécie nativa do Brasil, cujo látex extraído dela é utilizado para a produção de borracha. As sementes que caem da planta podem deixar o solo ácido, gerando a necessidade de correção de seu pH – escala numérica que mede a alcalinidade do solo. A pesquisa contribui para reduzir o impacto ambiental desses resíduos.

Os pesquisadores perceberam que as sementes poderiam virar insumo para a produção de biocombustíveis, que são menos poluentes do que os combustíveis convencionais. “Em um primeiro momento a gente se propôs a fazer três projetos: um deles era para a produção de etanol, o outro para a produção de biodiesel e também um para a produção de antioxidantes”, relata o coordenador André Gallina.

São necessários 5,7 quilos de sementes de seringueira para produzir um litro de etanol (Foto: acervo pessoal)

Um projeto, várias pesquisas

As etapas de produção dos biocombustíveis começam com o recebimento da matéria-prima enviada pela empresa Kaiser Agro. Depois, a equipe universitária descasca as sementes de seringueira, extrai o óleo para produzir biodiesel e o que sobra de carboidrato, vira etanol através de um processo de segunda geração. “Fazemos, assim, dois biocombustíveis de uma semente só”, resume Gallina.

Entre as várias frentes dessa pesquisa, durante o seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Bioenergia da Unicentro, o químico Giovano Tochetto focou nos carboidratos da semente de seringueira para produção de etanol, utilizando todo o potencial desse insumo.

“A semente de seringueira não é usada como alimento, ao contrário da cana-de-açúcar e do milho, sendo que o uso dessas matérias-primas alimentícias para produção de etanol cria conflitos de mercado e aumenta o custo do combustível. Como a semente de seringueira é efetivamente um resíduo, ou seja, de baixo custo, o preço do etanol produzido será reduzido”, relaciona o pesquisador.

Com a eficiência atual do processo, cada 5,7 quilos de sementes de seringueira são transformados em um litro de etanol. “Dentre as fontes de energia renováveis, o etanol é especialmente interessante, pois é capaz de substituir a gasolina por completo em motores de combustão interna, muito usados em carros, com poucas mudanças nas características dos motores”, salienta o pesquisador.

Em outra pesquisa dentro do projeto, a partir do óleo extraído da semente de seringueira, cada 3,29 quilos da matéria-prima tem capacidade de produzir um litro de biodiesel. O combustível pode substituir o óleo diesel comum, utilizado em caminhões, ônibus e outros veículos.

“Ainda existem muitas outras matérias-primas para serem descobertas, muitos métodos para produção a serem desenvolvidos e muitos métodos e processos existentes a serem melhorados”, finaliza Giovano, que pretende continuar com essa linha de pesquisa no doutorado.

O projeto também foi premiado no Programa de Propriedade Intelectual com Foco no Mercado, em outubro do ano passado (Foto: Seti)

Colecionando premiações

O projeto recebeu, ainda, outras duas premiações: uma da Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha e outra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Em outubro do ano passado, a pesquisa recebeu outro destaque, com a premiação em R$ 200 mil no Programa de Propriedade Intelectual com Foco no Mercado (Prime), uma iniciativa de fomento científico e tecnológico da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), em parceria com a Fundação Araucária e o Sebrae/PR.

Com o recurso, a equipe vai custear bolsas de pesquisa e adquirir insumos para testes que permitam avançar da escala laboratorial para a industrial na produção do etanol. “Estamos aguardando o recurso ser liberado. Já temos uma empresa parceira aqui em Guarapuava, que vai nos receber para fazer todos os testes de escalonamento desta tecnologia para que, o mais breve possível, esse projeto esteja no mercado e as pessoas possam consumir esse etanol”, adianta o coordenador André Gallina.

Por Amanda Pieta

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