
Unicentro integra pesquisa sobre estudantes autistas no Paraná
Summary
Universidades estaduais fizeram o mapeamento de alunos no ensino básico e no superior.
As estatísticas de pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) têm aumentado. Um dos lugares onde essa população recebe tal diagnóstico é na escola, onde a equipe pedagógica percebe particularidades em alguns estudantes que precisam de um pouco mais de atenção no processo de ensino-aprendizagem. De acordo com dados do Censo Escolar de 2023, são cerca de 636 mil estudantes do ensino básico com autismo no Brasil. No Paraná, esse quantitativo está sendo atualizado pelo Núcleo de Estudos, Pesquisas e Ações frente à Diversidade Educacional (Neade), por meio da coleta de informações e produção de conhecimento desenvolvidas pelas sete universidades estaduais.
O objetivo principal do estudo é identificar o número de alunos com TEA em todos os níveis de ensino: infantil, fundamental, médio e superior. As estatísticas poderão contribuir para a elaboração de políticas públicas que melhorem o suporte a estudantes autistas nas escolas e nas universidades.
“Quando a gente não conhece a demanda, fica difícil a gente propor um projeto com ações assertivas, se você não sabe pra quem está direcionando. Esse estudo, na minha interpretação, é a base de tudo. Com o estudo da demanda – quem são, onde estão, em que série estão – eu tenho como prever ações”, pontua a professora Ana Aparecida de Oliveira Machado Barby, do Departamento de Pedagogia, que representou a Unicentro na pesquisa estadual. Cada universidade estadual integrou o estudo com um docente e um bolsista pesquisador. Além da professora Ana, a pedagoga Paloma Ratuchne também fez parte da equipe da Unicentro dentro do Neade.

Pesquisadores das sete universidades estaduais se reuniram virtualmente para formular o projeto do estudo sobre estudantes autistas
Antes desse estudo sobre TEA, cada universidade desenvolvia ações locais voltadas para o apoio a estudantes autistas. Foi então que, junto à Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), foi proposta a criação de um grupo com todas elas para unir esforços na causa. “Nós percebemos que as ações pontuais são muito relevantes, mas que, quando trabalhamos em equipe, nós conseguimos atingir um público maior, temos uma visibilidade maior e a nossa ação é potencializada. Alguns desafios são comuns e nessa troca a gente consegue ir sanando e encontrando respostas”, observa Ana Barby.
Números do autismo no ensino paranaense
A primeira etapa do estudo envolveu dados quantitativos. No âmbito da educação básica, a equipe de pesquisadores coletou informações junto à Secretaria Estadual de Educação do Paraná (Seed), que tem acesso ao número de estudantes autistas por meio do Sistema de Registro Escolar (Sere). Segundo a chefe do Departamento de Educação Inclusiva (Dein) da Seed, Maíra Tavares de Oliveira, entre um milhão de estudantes de educação infantil, ensino fundamental e médio, oito mil deles são identificados com TEA. “Alguns grupos de pesquisa já nos acionaram para estudos. Destaca-se que estamos à disposição para o fortalecimento da pesquisa científica”, salienta Maíra.
Para a professora Ana, ter mapeado a quantidade de alunos autistas no ensino médio, por exemplo, é uma forma de as universidades se anteciparem para recebê-los de forma inclusiva enquanto futuros acadêmicos. “Sabemos que nos próximos anos, provavelmente, a Unicentro trabalhará com um percentual expressivo desses alunos. Começamos a pensar quais estratégias podemos construir para atendê-los melhor, seja em ações pedagógicas ou nas políticas”, relaciona.
Para o panorama do autismo nas universidades, foram consultados os setores de apoio aos acadêmicos de cada universidade para a coleta de informações. Na Unicentro, de acordo com a Pró-Reitoria de Apoio aos Estudantes (Proae), 28 alunos com laudo de TEA são acompanhados pela equipe da universidade atualmente, sendo 14 no Câmpus Cedeteg, oito no Santa Cruz e seis no Câmpus de Irati.

Professoras do Neade apresentaram a proposta à Seti, que financiou a realização do estudo
Por estar dentro de um espectro muito amplo, as características e necessidades entre os autistas são muito variadas. Nesse sentido, o diálogo com os estudantes também é uma das estratégias para conhecer como o autismo tem sido tratado na educação. “Por isso a importância de eles participarem das ações, nos contarem sobre suas demandas pessoais, profissionais, acadêmicas”, enfatiza a professora Ana.
Produzindo conhecimento e inspirando mudanças
Além da parte quantitativa, o Neade também estudou o TEA em uma perspectiva qualitativa, investigando como tem sido feito o diagnóstico e o encaminhamento desse público. “Nós discutimos os critérios de avaliação, estudamos sobre como são identificados dentro das universidades, porque, em geral, eles são autoidentificados, então nós conhecemos as demandas de alunos que se identificaram por vontade própria, e não porque tivéssemos acesso aos laudos, de início”, conta Ana Barby.
Os pesquisadores do Neade repararam diferenças nítidas entre a quantidade de estudantes autistas no ensino básico e no ensino superior. “Percebemos que esses alunos não chegam em grande número nas universidades como chegam nos anos iniciais. Precisamos melhorar e oferecer mais estratégias assertivas para que esses alunos cheguem à universidade em maior quantidade”, salienta a docente da Unicentro.
A iniciativa estadual, que foi coordenada pela professora Rosangela Trabuco, da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), teve a Seti como financiadora, por meio de recursos oriundos da Unidade Gestora do Fundo Paraná (UGF). “O financiamento é fundamental e relevante para que os melhores pesquisadores do estado possam se debruçar sobre o tema e apresentar resultados que inspirem a adoção e a implementação de políticas públicas”, destaca o secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, Aldo Nelson Bona.
Durante a realização da pesquisa, também foram feitas algumas ações dentro das universidades para a divulgação do conhecimento sobre o TEA, incluindo eventos e a distribuição de materiais informativos.
Agora, a pesquisa está em um segundo momento que é o da publicização do conhecimento produzido pelo grupo. Os dados do mapeamento serão apresentados nos próximos meses por meio de atividades extensionistas, produções acadêmicas e um e-book compilando todas as informações trabalhadas pelo Neade.
Por Amanda Pieta
Fotos: acervo pessoal