Práticas de aventura na educação física de crianças é tema de pesquisa na Unicentro

Práticas de aventura na educação física de crianças é tema de pesquisa na Unicentro

Summary

Tirolesa, escalada e outras atividades foram aplicadas por professores universitários nas escolas

A Educação Física costuma ser uma das disciplinas favoritas de crianças em idade escolar. E um estudo desenvolvido por um professor da Unicentro mostra que, além de promover saúde e bem-estar, ela pode despertar o espírito aventureiro, colaborando para a consciência corporal e a superação de medos. O objetivo da pesquisa é analisar a viabilidade das práticas corporais de aventura (PCAs) em aulas dos anos iniciais do ensino fundamental.

Desenvolvida pelo docente Alderenik Antonio de Oliveira, do curso de Educação Física do Câmpus de Irati, a pesquisa se inspirou em uma situação durante o estágio supervisionado de um aluno da graduação que incluiu o slackline, esporte de equilíbrio que utiliza uma fita de nylon esticada entre dois pontos fixos, no planejamento das aulas que ministrava para crianças de oito e nove anos. “Eu mantive o plano do aluno e quis ver se daria certo. E estava dando certo. Então objetivamos aquela prática, envolvendo elementos corporais do movimento, as capacidades motoras como equilíbrio, autocontrole, que estavam sendo trabalhados com as crianças”, conta Alderenik.

Anos depois, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) incluiu as PCAs no conteúdo da Educação Física a partir do sexto ano escolar. “Eu fiquei pensando, se estávamos trabalhando slackline com o terceiro ano, por que não contemplaram os anos iniciais?”, questionou o docente. Para responder essa pergunta, Alderenik ingressou no doutorado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Comunitário (PPGDC) da Unicentro e estuda esse tema desde 2021.

Alunos tiveram experiências com práticas de aventura como a tirolesa, que foi montada dentro das escolas

O local escolhido para a investigação foi a cidade de Prudentópolis, devido ao potencial turístico para as práticas de aventura. Em conversa preliminar com professores do município, o pesquisador e seu orientador descobriram que as PCAs não estavam sendo aplicadas nas aulas. “É um conteúdo obrigatório nas aulas de Educação Física e deveria ser ensinado. É um desafio e é uma coisa inédita na região e no Paraná estudar essa viabilidade”, enfatiza o orientador da pesquisa, professor Cláudio Shigueki Suzuki, vinculado ao PPGDC e também colega de Alderenik no Departamento de Educação Física.

“Aí começamos a perguntar para um e para outro e o motivo era porque eles não tinham conhecimento, não tinham capacitação para isso. É um conteúdo legal que a BNCC trouxe para a disciplina de Educação Física, mas tem que ser melhor trabalhado, tem que capacitar professores”, pontua Alderenik.

Portanto, a dupla de docentes universitários decidiu atender essa demanda com a oferta de um curso de formação teórico-prática voltada para professores da rede municipal de ensino, que foi ministrado pelo professor Suzuki. “Sempre foi também uma preocupação minha a aplicabilidade de todo o conhecimento que a gente gera na comunidade acadêmica e o quanto ela reflete a realidade da nossa população”, contextualiza o orientador.

Formando professores para levar aventura para as escolas

Com 96 horas-aula, o curso sobre práticas corporais de aventura na Educação Física contemplou dez professores da disciplina, que dão aula em nove escolas urbanas de Prudentópolis. De cara, professores tiveram algumas experiências radicais, como um rapel no Salto Sete e uma escalada em um paredão de 20 metros de altura, ambos localizados no próprio município. “Conversando com o orientador Cláudio, eu falei que esse trabalho seria mais para os professores adultos vencerem seus medos e entenderem as crianças quando elas tiverem os medos delas”, esclarece Alderenik.

“Durante um ano, a gente trabalhou com esses professores normas técnicas, equipamentos, procedimentos – tanto na parte teórica, quanto na parte prática. O que a gente buscou trabalhar na parte prática da formação dos professores foi a questão da segurança, mostrando, prioritariamente, que são atividades seguras e que podem ser elaboradas, desde que bem montadas”, descreve Suzuki.

Crianças também tiveram a oportunidade de fazer escaladas durante as aulas

Em um segundo momento, foi a hora de intervir diretamente nas escolas. “Nós trabalhamos com tirolesa, que conseguimos montar nas quadras das escolas e ficou muito legal. Montamos slackline, montamos um boulder, que é um paredão na horizontal, mais baixo, onde você coloca colchonetes embaixo e a criança tem essa experiência de escalar, sem precisar da cadeirinha ou da corda. Basta que o professor fique embaixo para direcionar a queda, que é de apenas um metro e forrada com colchonetes”, detalha o pesquisador.

Um dos participantes do curso foi o professor Jessey James Michalouski, que ministra aulas de Educação Física nas escolas municipais Canuto Guimarães e Coronel José Durski. “Pude vivenciar atividades que nunca tinha vivenciado e também não tinha passado pela minha cabeça que poderia desenvolver com segurança”, relatou. O profissional destacou a tirolesa como a atividade mais marcante do curso, pelo grande interesse despertado nos alunos. “Eles adoraram poder participar e, com certeza, isso eles levarão para sempre em suas memórias”, completa.

Foram cerca de 1350 alunos prudentopolitanos contemplados direta ou indiretamente com as práticas corporais de aventura que os professores de Educação Física passaram a ser habilitados a conduzir nas aulas. Segundo o Alderenik, a proposta foi bem-aceita pelos profissionais, que viram na prática, o quanto a inclusão das PCAs nos anos iniciais do ensino fundamental é possível. “Eu percebi que não tem nada a ver as crianças não participarem de práticas corporais de aventura na escola. Elas fazem tranquilamente, inclusive na educação infantil”, salienta.

Pesquisa acadêmica e ampliação de horizontes

A pesquisa do professor Alderenik pode ainda render mais frutos. Isso porque há uma expectativa de aumentar a atuação com as práticas corporais de aventura para toda a região. A ideia é plantar uma semente em cada cidade da região através de alunos de graduação em Educação Física durante os seus estágios supervisionados. “Eu quero abrir frente de estágios nessas outras cidades para tentar implementar isso – em Rebouças, Teixeira Soares e cidades vizinhas de Irati, para que depois, no futuro, alguém lá do Estado veja e quem sabe não implantamos isso no Paraná todo”, projeta.

Professores de Educação Física aprenderam, dentre outras coisas, sobre a importância de equipamentos de segurança para as práticas de aventura nas escolas

Para que as atividades sejam ministradas nas aulas das escolas é necessária a aquisição de materiais próprios. Segundo o orientador da pesquisa, isso é um desafio pois equipamentos como capacetes, cadeirinhas, mosquetes e cordas não são considerados didáticos, mas de segurança, o que torna complexa a compra para fins educacionais. Alderenik e Suzuki seguem em contato com a Secretaria da Educação de Prudentópolis para acharem alternativas para concretizar mais essa etapa da implementação das PCAs nas escolas.

Caso os materiais sejam disponibilizados, professores como Jessey poderão adotar as práticas de aventura em suas aulas. “Não dá para desenvolver sem os equipamentos, mas, com certeza, seria muito importante e divertido para nossos alunos se tivéssemos condição de desenvolver”, salienta o docente.

Por Amanda Pieta

Fotos: Acervo pessoal


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