Pesquisa analisa a representação do corpo humano no ensino da anatomia

Pesquisa analisa a representação do corpo humano no ensino da anatomia

A professora Bettina Heerdt, da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), vem desenvolvendo desde seu doutorado, iniciado em 2011, pesquisas dedicadas ao estudo do corpo, gênero, sexualidade e questões raciais e étnicas no ensino de ciências e biologia. Seu projeto, intitulado “Reiterações discursivas de licenciandas/os em Ciências Biológicas em relação ao corpo humano no ensino de anatomia”, recentemente foi contemplado com a Bolsa Produtividade em Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Fundação Araucária.

A professora Bettina Heerdt desenvolve estudos na área desde 2011

O anúncio foi recebido por ela como um marco. “Receber essa notícia é extremamente gratificante, mas também é um ato político. As mulheres ainda são minoria nesta condição acadêmica – entre as bolsistas produtividade, e aprovar uma pesquisa sobre essa temática é um ato de resistência. Ampliar a noção de corpos para além do binário é uma disputa discursiva”, afirma Bettina.

O projeto propõe uma reflexão: quais corpos importam no ensino de anatomia humana? De acordo com a pesquisadora, o ensino básico e superior, especialmente no que se refere à anatomia, é marcado por um modelo muitas vezes discriminatório. “Quando olhamos as imagens em livros técnicos e didáticos, que corpos são esses? São corpos reais? Muitos corpos são desconsiderados ou apagados, sendo que os corpos representados como modelos predominantes são masculinos, brancos, magros e sem deficiência”, explica.

Segundo Bettina, há consequências práticas dessa falta de representatividade. “O ensino de um modelo binário de corpo não é apenas cientificamente incorreto, mas causa prejuízos como a negação e negligência ao acesso à saúde a indivíduos intersexuais”. Ela cita, por exemplo, o caso de Henrietta Lacks, uma mulher negra cujo corpo foi utilizado sem seu consentimento em pesquisas científicas. Também cita que, em 2021, 42% dos jovens LGBTQ+ entre 13 e 24 anos nos Estados Unidos relataram ter considerado o suicídio, segundo o The Trevor Project.

A pesquisa de Bettina busca entender como os estudantes da licenciatura percebem o corpo humano e como essas percepções podem influenciar suas práticas pedagógicas. “Quero trazer essas discussões para os estudantes de Biologia, que serão os professores do futuro. A ideia é ampliar os discursos sobre os corpos possíveis no ensino de biologia e nas pesquisas de ensino e educação”, comenta a professora.

Por Poliana Kovalyk

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