Egressa da Unicentro vence o Prêmio Capes de Tese 2024 com pesquisa sobre hanseníase

Egressa da Unicentro vence o Prêmio Capes de Tese 2024 com pesquisa sobre hanseníase

A egressa da Unicentro, Sthefane Valle de Almeida, conquistou o Prêmio Capes de Tese 2024 na área de Química, com um trabalho que apresenta avanços significativos no diagnóstico da hanseníase, uma das doenças mais antigas e negligenciadas ainda em circulação. A pesquisa, desenvolvida durante o doutorado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), propõe métodos inovadores para detectar a doença precocemente, antes mesmo do surgimento dos sintomas.

O tema da tese, intitulada “Desenvolvimento de um magneto-imunoensaio microfluídico com detecção eletroquímica para o diagnóstico de hanseníase”, surgiu da necessidade de superar as limitações dos métodos de diagnóstico tradicionais, que ainda dependem majoritariamente de exames clínicos. “Embora a hanseníase seja uma doença muito antiga, pouco se avançou no sentido diagnóstico, feito majoritariamente por exame clínico. Como é uma doença que demora muito para se desenvolver, o diagnóstico só é feito quando há sintomas muito aparentes. Além disso, um método que seja capaz de diagnosticar a hanseníase é de suma importância para o controle da doença, impedindo que indivíduos infectados transmitam para outras pessoas”, explica Sthefane.

A pesquisa desenvolveu dois métodos baseados em dispositivos microfluídicos descartáveis que utilizam peptídeos sintéticos, pequenas cadeias de aminoácidos fabricadas em laboratório que imitam partes de proteínas naturais, mapeados pelo Laboratório de Imunoquímica da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Quando comecei o doutorado, em 2019, a professora Juliana de Moura (UFPR) havia mapeado peptídeos sintéticos com alto potencial para serem usados no diagnóstico de hanseníase. Em parceria com meu orientador, professor Ronaldo Censi Faria, conseguimos aplicar dois desses peptídeos na detecção eletroquímica de anticorpos específicos de hanseníase usando dispositivos microfluídicos totalmente descartáveis”, detalha.

“Com ambos os peptídeos, conseguimos diferenciar amostras de pacientes positivos para hanseníase e negativos. Inclusive, conseguimos identificar pacientes paucibacilares, que são os que apresentam menos sintomas e, consequentemente, são mais difíceis de detectar”, destaca. Além disso, o estudo também permite classificar os casos entre paucibacilares e multibacilares, informação essencial para determinar o tempo de tratamento adequado: seis meses para os primeiros e doze meses para os segundos.

A relevância do trabalho ultrapassa os limites acadêmicos. A pesquisa gerou um artigo publicado na revista internacional Biosensors & Bioelectronics, um depósito de patente já licenciado e rendeu a Sthefane o Prêmio DASA de Inovação Médica 2021 na área de Medicina Diagnóstica. Mais recentemente, o projeto atraiu a atenção do Ministério da Saúde, que atualmente colabora na validação e implementação do método no Sistema Único de Saúde (SUS).

Trajetória iniciada na Unicentro

Sthefane iniciou sua carreira acadêmica na Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), onde cursou a graduação em Química e o mestrado em Química Aplicada. Foi durante o mestrado, sob a orientação da professora Andressa Galli, que ela começou a trabalhar na área de biossensores, desenvolvendo um imunossensor para monitoramento de células cancerosas.
“A Unicentro desempenhou um papel fundamental na minha formação. Sou muito grata aos professores do Departamento de Química, especialmente à professora Andressa, que me deu todo o apoio para continuar nessa linha de pesquisa, mesmo que em outra universidade”, ressalta.

Reconhecimento e impacto

O Prêmio Capes de Tese é considerado um dos maiores reconhecimentos da ciência brasileira e evidencia a excelência do trabalho de Sthefane e a relevância de sua pesquisa para a sociedade. “A notícia do prêmio foi uma ótima surpresa, pois sei que todos os trabalhos avaliados são de máxima excelência. É extremamente importante pra mim ter o trabalho reconhecido, em especial devido a complexidade da hanseníase, que é uma doença negligenciada. É importante não só pra mim, mas também foi o primeiro Prêmio Capes do Programa de Pós-Graduação em Química da Ufscar”, comemora.

Sthefane acredita que o prêmio também fortalece sua trajetória profissional e ressalta a importância de pesquisas voltadas para problemas de saúde pública. “Fico muito feliz pelo prêmio, que tanto valoriza minha experiência na área. Também vejo com bons olhos o reconhecimento de um trabalho que trata de hanseníase, trazendo destaque para um problema de saúde pública do Brasil”, conclui.

Por Giovani Ciquelero

    

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