1º Alvoroço Cultural apresenta histórias e memórias da terceira idade
Na última segunda-feira (9), os alunos da Universidade Aberta à Terceira Idade de Irati (Uati) protagonizaram um grande espetáculo. O 1º Alvoroço Cultural contou com apresentações teatrais e musicais, além de uma exposição de livros e de esculturas. A noite reuniu familiares e comunidade universitária para prestigiar o trabalho desenvolvido pelos uatianos no Câmpus de Irati da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro).
Durante a peça, Nelsi mostrou fotos do filho em diversas fases da vida (Foto: Coorc)
Coordenadora da Uati, a professora Cinthia Lucia de Oliveira Siqueira conta que cada aluno foi incentivado a utilizar a arte para registrar experiências pessoais. “Esse evento traz um pouco das histórias e das memórias de cada um. Então cada apresentação, cada roteiro, foi construído a partir daquilo que eles trouxeram e fomos conversando, lapidando nas aulas”, destaca Cinthia.
Uma das apresentações foi uma homenagem que Nelsi Ferreira da Silva, de 78 anos, fez ao filho Lucas Mateus Ferreira. Em um monólogo, ela falou sobre a maternidade e dividiu com o público lembranças da vida familiar. “Eu sempre conversava com o professor Ernani sobre o meu filho, então ele deu a ideia de fazer essa peça. Foi uma surpresa para o Lucas”, comenta. No final, o filho também a surpreendeu, subindo ao palco com um buquê de flores para a mãe. “Eu não imaginava que ela era uma grande atriz também. Foi muito bonita a homenagem, ela tem a memória e a energia de uma pessoa jovem. Fico sem palavras, só tenho a agradecer pela mãe que ela é”, compartilha Lucas.
“A bruxa tá solta” foi uma das histórias interpretadas pelo grupo da Cidade do Idoso de Irati (Foto: Coorc)
Já outro grupo resolveu se aventurar na comédia. Intitulada ‘Armadilhas da vida’, a peça reúne pequenos causos do cotidiano. Adão Ferreira de Lima, de 66 anos, trouxe uma história da juventude dele, quando foi assistir a um filme ‘de bruxa’ no cinema com os amigos, em Foz do Iguaçu. “Nesse dia, quando voltei sozinho para casa, tomei um susto com um gato que ficava no telhado. E eu já morria de medo, porque na infância os pais assustavam muito a gente com histórias de bruxa”, relata.
Misturando música e teatro, a apresentação dos uatianos de Rebouças falou sobre as adversidades e as alegrias que surgem com o passar dos anos. “A parte em que cantamos ‘Mãezinha do Céu’ me toca muito. Esse canto é lindo e me lembra de quando nos despedimos do meu marido, quando ele estava muito doente”, revela Helena Maria Lunkes de Melo, de 67 anos.
De acordo com o professor de teatro Ernani Sequinel, cada grupo vivenciou um processo para dar vida às produções. “A gente deu o pontapé inicial, mas fui observando sobre o que eles gostariam de falar. A Nelsi, por exemplo, sempre falava sobre o filho. O grupo da Cidade do Idoso de Irati já queria algo mais cômico, mais leve. E muitos não tinham referência nenhuma de teatro, mas mesmo assim fizeram um espetáculo. As histórias, a criação, é tudo deles”, enfatiza.
Grupo de Rebouças misturou música e teatro na apresentação (Foto: Coorc)
Entre os integrantes, o sentimento é de gratidão por viver essa experiência e poder compartilhar os resultados. “Hoje toda a minha família está aqui: minha esposa, meus filhos, genro, nora, netinho… E esses três meses foram muito bons, sabe? Eu estava estressado em casa. Depois que comecei a vir, até minha saúde melhorou”, ressalta Adão. “Tem sido muito bom para nós. Hoje eu estou com 75 anos, mas me sinto renovada, parece que voltei no tempo”, complementa Maria da Conceição Bernardo.
“É muita vida, muita história. Me sinto agraciado por eles confiarem em mim. Alguns são grupos fechados, que já se conhecem de outras atividades, então conseguir criar esse vínculo com eles e fazer parte disso me deixa muito emocionado”, conclui Ernani.
Por Paula Claro
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