Corpo-documento e memória: projeto estuda as representações do holocausto na América Latina

Corpo-documento e memória: projeto estuda as representações do holocausto na América Latina

A professora Maria Cleci Venturini, do Departamento de Letras da Unicentro, é uma das contempladas na Chamada Pública 23/2023 do Programa de Bolsas de Produtividade da Fundação Araucária. Seu projeto intitulado “As noções corpo-documento/corpo-memória em funcionamento na discursivização de práticas autoritárias no Holocausto”, busca explorar a representação do corpo como documento e como memória em museus do Holocausto na América Latina, analisando como esses espaços contribuem para a ressignificação de um dos mais brutais capítulos da história humana. “Os museus não são apenas espaços para ver objetos, mas lugares onde a história se inscreve de forma discursiva e emocional, constituindo-se em corpos de memória e documentos”, explica a docente.

Durante seu estágio pós-doutoral em Coimbra, Maria Cleci desenvolveu uma visão sobre os locais de memória que inspirou sua pesquisa. Ela percebeu que alguns lugares, como a Quinta das Lágrimas em Portugal, assumem um papel de “museus a céu aberto”, onde objetos, monumentos e até o espaço geográfico carregam redes de memória, refletindo sobre passado, presente e o significado do que foi. A narrativa criada ao redor desses lugares, segundo a professora, ajuda a dar concretude a histórias esquecidas ou sub-representadas pela história oficial. 

Maria Cleci Venturini em fala sobre o projeto

Na pesquisa sobre o Holocausto, essa perspectiva ganha novos rumos. A docente investiga como museus na América Latina – desde os tradicionais com exibições de artefatos e documentários até os que usam a palavra falada dos sobreviventes para trazer o testemunho – dão corpo a memórias coletivas. Ela menciona o Museu do Holocausto de Curitiba e o Memorial do Holocausto no Rio de Janeiro, que buscam, por meio de exposições interativas e testemunhos diretos, fazer o visitante experimentar uma presença palpável das histórias e significados por trás do Holocausto. Esses locais materializam as memórias do sofrimento e da violência autoritária, dando continuidade à existência de um “corpo-documento” que, mesmo sem ser físico, carrega as narrativas de dor e resistência.

“Esses lugares se transformam em espaços de memória por tudo que ressoa a partir desses monumentos que não é um corpo físico, mas é um corpo constituído por redes de memória que vão significar e que, por sua vez, vão retornar outros discursos que vão transformar isso”, reflete a professora.

Maria Cleci acredita que o Holocausto continua ecoando nas sociedades contemporâneas, onde outras formas de violência e sacrifício de grupos vulneráveis – como minorias étnicas e sociais – refletem um processo contínuo de repetição da intolerância e das lutas pelo poder. Seu projeto visa estimular a reflexão sobre esses ecos atuais e contribuir para que esses erros não se repitam. “Há autores que defendem a existência de outros holocaustos hoje, como nas guerras de Israel e da Rússia, por exemplo. São pessoas que estão no local e que são mortas sem ter nada a ver com o conflito”, exemplifica.

Reconhecimento de uma vida dedicada à pesquisa brasileira

Ao todo, são mais de 20 anos dedicados à pesquisa e centenas de trabalhos orientados entre graduação, iniciação científica, mestrados, doutorados e pós-doutorado. Para Maria Cleci, a bolsa produtividade da Fundação Araucária vem para coroar uma vida dedicada à pesquisa científica brasileira. “Representa um reconhecimento e faz com que eu me sinta valorizada. Sinto que a minha pesquisa está ressoando em algum lugar e, claro, elas sempre ressoam naqueles que eu oriento”, pontua.

A professora reforça, ainda, que a bolsa é uma oportunidade para expandir sua pesquisa. Ela planeja visitar outros museus de memória, tanto nacionais quanto internacionais, aprofundando o entendimento sobre a maneira como diferentes culturas tratam suas feridas históricas. “Com essa bolsa eu posso visitar outros lugares e ver como eles organizam essas memórias para lembrar dos fatos e para que nunca essas situações nunca mais voltem a acontecer. Também para entender como eles relacionam esse passado e esse sofrimento com o contemporâneo e com a educação”, reflete.

Outros professores da Unicentro também foram contemplados pelo programa: Carla Luciane Blum (Deped); Daiana Novello (Denut); Edson Santos Silva (Delet); Geyso Dongley Germinari (Dehis); Juliane Sachser Angnes (Desec); Nincia Cecilia Ribas Borges Teixeira (Delet); Sueli Percio Quinaia (Deq); e Valdirlei Fernandes Freitas (Defis).

Por Caroline Albertini


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