Simpósio discute reflexos do pós-pandemia nas políticas públicas de saúde mental
Até amanhã (08), o Câmpus de Irati da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) sedia o “1º Simpósio de Práticas e Pesquisas sobre Processos Institucionais, Saúde e Subjetividade”. O evento é promovido pelo Laboratório de Psicologia Social e Processos Institucionais (LAPPI) e pelo Grupo de Pesquisa em Processos Institucionais, Saúde e Subjetividade, ambos vinculados ao Departamento de Psicologia (Depsi) e ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Comunitário (PPGDC) da Unicentro.
Coordenador-geral do encontro, o professor Gustavo Zambenedetti conta que o objetivo é ampliar as discussões que são feitas no âmbito dos projetos trazendo pesquisadores, profissionais de saúde e a comunidade interna e externa para o debate. “A gente tem discutido, principalmente, temas em torno da questão da pandemia e do pós-pandemia e os impactos na saúde mental, assim como a medicalização e a patologização da vida”, detalha o docente.
Durante três dias, palestras e rodas de conversa vão ser promovidas no Bloco I do câmpus (Antigo PDE) trazendo diferentes aspectos sobre esses e outros tópicos, com cerca de 40 trabalhos inscritos para apresentação.
Um dos convidados para contribuir na análise desses temas foi o psiquiatra Marcelo Kimati Dias. Participante da mesa de abertura na quarta-feira (06), o também professor da Universidade Federal do Paraná explica que a “medicalização” diz respeito à transformação de fenômenos que não são usualmente médicos em questões médicas, a partir de uma série de processos culturais, econômicos e políticos.
“O processo de medicalização que a gente conhece é bem descrito e discutido desde a década de 1970. Mas a partir da década de 1990, por conta de uma série de mudanças na forma como se faz diagnóstico em psiquiatria, ele começa a se aprofundar bastante. E um outro fenômeno que acontece no final do século passado é o surgimento de novas medicações, tanto antidepressivas quanto antipsicóticas, e uma proliferação do número de diagnósticos”, relata Marcelo.
Segundo ele, isso tem uma série de desdobramentos nas políticas públicas de saúde mental, efeitos que também acabaram se acentuando durante a crise da pandemia da covid-19. “Tanto em relação à carga assistencial que o sistema de saúde sofre, já que cria um número de usuários crônicos [de medicamentos] bastante grande, como também isso se aprofunda na medida em que a gente tem dificuldade de criar outras estratégias, que não as medicamentosas, para fazer a abordagem desse fenômeno do sofrimento mental de uma forma geral”, pontua.
Entre os dados que reforçam essa perspectiva, o professor Gustavo Zambenedetti destaca os resultados preliminares de uma pesquisa que o grupo coordenado por ele vem desenvolvendo em um município da região de Irati. A proposta do projeto é observar o volume de medicamentos que foram retirados na farmácia municipal de uma cidade de pequeno porte, como forma de analisar o contexto do sofrimento psíquico no pré, durante e pós-pandemia. “Um dado que a gente encontrou, por exemplo, e que surpreendeu é que o maior aumento da dispensação de psicotrópicos foi em 2022, quando tem uma certa disparada já no contexto de flexibilização sanitária”, comenta.
A programação completa do simpósio pode ser conferida no site do evento.
Por Wyllian Correa
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