Unicentro sedia encontro que debate o ingresso de estudantes indígenas no Ensino Superior

Unicentro sedia encontro que debate o ingresso de estudantes indígenas no Ensino Superior

A Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), em Guarapuava, reuniu representantes da Comissão Universidade para os Povos Indígenas (Cuia), lideranças indígenas, Ministério Público e secretários de estado para discutir os desafios e as políticas de inclusão de estudantes indígenas no Ensino Superior.

Os pontos centrais da discussão foram o formato do processo seletivo (ingresso) dos povos indígenas à educação superior nas universidades estaduais e na federal do estado, e definir critérios mais uniformes para a inscrição e participação no vestibular.

Juliane Sachser Angnes, representante da Cuia na Unicentro, destacou a relevância histórica da universidade em sediar eventos como este. “Este evento já tem uma prática cultural da Unicentro sediar. Normalmente, cada mudança que ocorre no vestibular específico para os povos indígenas do Estado do Paraná, as comunidades indígenas, lideranças estudantis e egressos, têm que ser ouvidos por meio de uma consulta pública para verificar se aceitam determinadas mudanças”, explicou.

Um dos papéis da Cuia Estadual é atuar de forma contínua para garantir não apenas o acesso dos estudantes indígenas ao ensino superior, mas também sua permanência e integralização curricular. “A nossa função é fazer esse processo de ingresso muito bem feito, mas não deixar o estudante indígena abandonado na universidade. Temos que fazer um processo de acompanhamento também”, ressaltou Juliane.

O vice-reitor da Unicentro, Ademir Fanfa Ribas, afirmou ser um orgulho receber o evento na universidade, reconhecendo a importância das culturas indígenas e o trabalho das universidades estaduais. “Nós temos que entender as necessidades, entender o que é possível, entender o que é lei e tentar avançar juntos. Por isso, eu tenho certeza e convicção que esse evento vai ser um marco para as universidades públicas estaduais e para os povos indígenas”.

Importância do debate – A comissão de Relatoria da Consulta Pública foi composta pelos professores Wagner Roberto do Amaral (UEL); Lara Frutos González (Unioeste); Deborah Costa de Oliveira (Unespar); Cacique Walace Raulino Sampaio (T.I. Posto Velho) e a estudante indígena Ivone dos Santos Piraí.

Em sua fala, o Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), Aldo Bona, destacou a importância de enriquecer as políticas públicas de inclusão a partir de debates e diálogos com as lideranças indígenas. Bona sublinhou que a secretaria está comprometida em aperfeiçoar os processos de seleção e permanência dos estudantes indígenas, ouvindo suas dificuldades e sugestões.

O secretário destacou três pontos principais em seu discurso. “O primeiro ponto é sobre a necessidade de refletir sobre a adequação da prova de vestibular em relação ao domínio das línguas indígenas e seus diversos dialetos, considerando que os cursos são ministrados em português. Em segundo lugar, há a preocupação com o baixo número de formandos ao longo de 22 anos de políticas públicas para indígenas, algo que precisa ser também discutido pelas lideranças indígenas. Por fim, devemos ter igual atenção para a alta taxa de retenção, entender os motivos disso e como podemos melhorar esses números”, esclareceu.

Desafios e perspectivas das lideranças indígenas – Cacique e vice-presidente do Conselho Estadual Indígena do Paraná, Miguel Alves, uma das principais lideranças presentes, ressaltou a importância de encontros como este para nortear o futuro da inserção dos povos indígenas no ensino superior público do estado do Paraná. “Eu acho que esse tipo de encontro já deveria ter acontecido antes, porque a maioria dos indígenas não têm o conhecimento da importância que a universidade e a parceria com as universidades têm para eles”.

Ele também expressou preocupação com os desafios enfrentados pelos estudantes indígenas, especialmente em relação aos de ordem financeira. “Acho que o que mais preocupa eles é a questão do valor da bolsa, porque hoje o aluguel é muito caro, tem várias situações, o material que eles utilizam que tem que comprar é muito caro e o valor da bolsa, é muito pequeno. Nós temos que tentar melhorar para que não aconteçam essas evasões escolares”, aponta.

Ao fim dos dois dias de plenárias de discussões, uma sistematização dos resultados obtidos foi feita pela comissão de relatoria.

Por Caroline Albertini


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