244 dos 478 pesquisadores cadastrados na Unicentro são mulheres
Vanessa Batista de Lima é acadêmica do terceiro ano do curso de Secretariado Executivo na Unicentro. Por meio da pesquisa na área de Ciências Sociais Aplicadas, encontrou uma forma de explorar o tema “Assessoria Aberta em Organizações Sem Fins Lucrativos pelo olhar do profissional de Secretariado Executivo”. A temática veio como possibilidade de estudo quando Vanessa ingressou no Programa de Iniciação Científica. A experiência de ter trabalhado em uma organização que ajudava crianças em situação de vulnerabilidade foi, então, um ponto de partida para evidenciar que a atuação profissional de secretariado não se restringe às organizações convencionais. Somado a isso, a admiração pela carreira de sucesso construída pelos professores e o conhecimento adquirido nas disciplinas que focam em metodologias de pesquisa também serviram como inspiração para colocar a acadêmica no caminho da pesquisa científica.
“Eu fico muito feliz quando vejo mulheres ocupando espaços que antes pareciam impossíveis de se alcançar. Quando isso acontece, todas nós estamos quebrando barreiras históricas. Ao passo que uma mulher conquista seu lugar na pesquisa, outras são incentivadas a trilhar esse caminho também e isso é muito importante. Conheço mulheres incríveis que se tornaram grandes pesquisadoras e isso me alegra e me inspira”, conta Vanessa.
A visibilidade feminina na construção do conhecimento científico mencionada por Vanessa tem avançado, mas, ainda a passos lentos. No Brasil, de acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq, as mulheres correspondem a 55% da comunidade universitária. Elas representam ainda 54,5% dos estudantes de pós-graduação; 46% dos professores de ensino superior; 59% dos bolsistas de Iniciação Científica; e 35,5% dos bolsistas produtividade em pesquisa. Na Unicentro, apenas duas docentes integram esse programa. A professora Rubiana Mainardes, do Departamento de Farmácia, é uma delas. O trabalho desenvolvido pela pesquisadora é voltado à nanotecnologia farmacêutica e consiste em desenvolver sistemas nanoestruturados que sirvam de veículo para fármacos e outros compostos que apresentam atividade biológica com a finalidade de melhorar o desempenho de remédios já consagrados, mas que ainda apresentam algum tipo de limitação. Esses sistemas, de acordo com a professora, podem tanto melhorar a eficácia e a efetividade, quanto reduzir aspectos negativos relacionados a efeitos adversos, toxicidade e limitações que a medicação oferece. Dessa forma, as nanoestruturas permitem que o fármaco permaneça um tempo superior no organismo em relação aos medicamentos convencionais e que, também, seja mais abrangente, alcançando mais locais e maior concentração.
O envolvimento da professora Rubiana com a pesquisa, durante os 16 anos em que atua na Unicentro, vem rendendo bons frutos. Em 2007, por exemplo, dois projetos da docente, aprovados pelo CNPq, possibilitaram o início da estruturação do Laboratório de Nanotecnologia Farmacêutica. A partir daí, conta a professora, ela e outros professores do Departamento de Farmácia montaram uma comissão para propor um Mestrado em Ciências Farmacêuticas, que foi aprovado em 2009. Durante a caminhada na pesquisa, a docente já orientou 17 trabalhos de mestrado, quatro de doutorado, um de pós-doutorado, e mais de 30 iniciações científicas. Atualmente, ela orienta quatro doutorandos, quatro mestrandos e outros dois alunos de IC.
Apesar dos resultados expressivos obtidos por ela na ciência, Rubiana destaca que a desigualdade de gênero ainda é uma realidade na área da pesquisa. Para a docente, é preciso estimular a presença das mulheres no mundo da ciência e valorizar o trabalho que é executado por elas. “Vemos que, mesmo não sendo incentivadas a ocuparem esses espaços, as mulheres participam ativamente da ciência e são responsáveis por grandes descobertas. Então, precisamos de ações educacionais que busquem esse tratamento mais igualitário entre homens e mulheres. É muito importante incentivar desde cedo as meninas a entrarem na pesquisa, entrarem no mundo da ciência e também visibilizar mais as pesquisas que são realizadas pelas mulheres, as conquistas que essas pesquisadoras obtêm e acabam passando despercebidas pelo públ
ico geral”, avalia Rubiana.
Dos 478 pesquisadores da Unicentro, 244 são mulheres. A professora Maria Cleci Venturini é uma delas. A docente integra o Departamento de Letras há 15 anos e, durante esse período, já orientou 18 dissertações de mestrado, além de trabalhos de conclusão de curso e de especialização na nossa universidade. No momento, orienta dois trabalhos de doutorado e outros dois de mestrado. Para a professora, a importância da participação feminina na ciência recai em múltiplos aspectos. “A minha pesquisa está centrada na análise do discurso, em questões relacionadas ao espaço urbano, à história e à memória, incluindo museus e espaços públicos e, também, a questão do feminino. Eu vejo que a participação das mulheres na pesquisa, principalmente na pesquisa em Letras, é muito importante e produtiva em termos teóricos e metodológicos”, relata.
Na Iniciação Científica da Unicentro, a maioria dos projetos em andamento – 433 de um total de 667 – são desenvolvidos por estudantes mulheres. O caminho na pesquisa científica começou cedo para a Liana Kluger. Acadêmica do terceiro ano de Engenharia Ambiental, a estudante desenvolve o trabalho de IC intitulado “Parâmetros de toxicidade de efluente da indústria de laticínio”. Essa é a primeira IC da estudante, que avalia a participação da mulher na pesquisa como fundamental, representando benefícios também para a sociedade. “Demonstra que, mesmo com tantos desafios, com questões de desigualdade de gênero e tantas outras dificuldades encaradas por cada uma de nós no nosso dia a dia e até mesmo dentro do ambiente acadêmico, mesmo assim, são inúmeras as mulheres que se destacam com trajetórias acadêmicas e profissionais brilhantes. Dentro da nossa própria universidade, são inúmeros os nomes de mulheres que produzem ciência de excelência, da mais alta qualidade e que servem de inspiração para outras meninas, como eu, a acreditarem e persistirem em trilhar trajetórias igualmente bem-sucedidas”, defende Liana.
Trajetória de sucesso que já começou a ser escrita também pela acadêmica Lorena Ribeiro Ferri, do segundo ano de Ciências Biológicas, na modalidade Bacharelado. Na área de Genética e Evolução, a estudante desenvolve, desde o ano passado, o trabalho de Iniciação Científica que tem como título “Os efeitos da variação da temperatura na variabilidade da linhagem de Drosophila paranaensis”. O interesse pela área de genética acompanha Lorena desde o Ensino Médio e, na graduação, encontrou a oportunidade para se aprofundar na temática e endossar a participação feminina na produção do conhecimento científico. “É muito importante nós, mulheres, ocuparmos esses espaços de produção de conhecimento e tecnologia que, inevitavelmente, acabam causando transformações à sociedade, de forma que estejamos diretamente ocasionando tais transformações, melhorando nossa realidade e conquistando nossos direitos”.
Há 17 anos, a professora Andrea Nogueira, do Departamento de Engenharia Florestal, se dedica no desenvolvimento de pesquisas sobre a modelagem do crescimento e da produção de plantios florestais e florestas nativas. Nessas linhas, a docente orienta, atualmente, dois alunos de doutorado, um de mestrado, e três de iniciação científica. Já ao longo dos 17 anos atuando como pesquisadora, orientou 36 dissertações de mestrado, três teses de doutorado, 25 trabalhos de Iniciação Científica e 13 trabalhos de conclusão de curso de graduação.
Embora a participação na pesquisa científica nunca tenha sido equânime entre homens e mulheres e os desafios para o público feminino ainda sejam evidentes, pequenos avanços no sentido de incentivar o acesso e a participação delas no fazer científico estão ocorrendo. Exemplo disso é que, agora, como destaca a professora Andrea, é possível que as cientistas registrem o período de licença-maternidade na plataforma Lattes. “Oportunizou que, ao comparar os currículos das mulheres-mães, elas pudessem ter esse olhar específico de um período no qual houve uma queda na produção, talvez, por motivo de estar em licença-maternidade. Isso eu considero como uma valorização grande e uma grande oportunidade para as mulheres na pesquisa”.
A atuação de mais de dez anos como docente e pesquisadora na Unicentro também coloca a professora Luciana Rosar Fornazari Klanovicz, do Departamento de História, como protagonista na construção do conhecimento científico. Ao longo desse período, ela já orientou 34 trabalhos de iniciação Científica e 15 de mestrado. Atualmente, estão em andamento duas ICs, três mestrados e cinco doutorados. Com uma ampla caminhada já percorrida na carreira científica, a professora avalia que a participação das mulheres na área da pesquisa é um processo ainda marcado pela desigualdade de gênero, raça e classe social.
“A atuação das mulheres tem uma característica bastante grande, ou seja, elas têm uma atuação intensa, porém, elas não conseguem, de uma certa forma, alcançar os altos graus dos estratos da ciência. Digo isso do ponto de vista das bolsas de produtividade ou de atuações também administrativas que decorrem dos seus currículos. Essa desigualdade pode e deve ser combatida, é um dos elementos que mais me preocupa. Incentivar também as mulheres desde criança que possam ter a possibilidade de escolher a ciência, a área de pesquisa, como um horizonte possível de atuação”, ressalta enfaticamente a pesquisadora.