1. Encontro Regional de Políticas Públicas para Mulheres é realizado na Unicentro
O mês de março foi marcado por várias ações voltadas para evidenciar a centralidade da mulher na sociedade e ressaltar como, ainda hoje, há diferenciação e discriminação entre os gêneros. Guarapuava, como cidade polo no enfrentamento à violência contra a mulher, teve uma série de atividades organizadas pela Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres. Uma delas foi o primeiro Encontro Regional de Políticas Públicas para Mulheres, que contou com a parceria da Unicentro, através do projeto de extensão Florescer, que tem financiamento do Programa Universidade Sem Fronteiras.
Durante dois dias, mulheres de 17 municípios da região discutiram, no Auditório Francisco Contini, possibilidades para a implantação de políticas públicas voltadas para o enfrentamento a violência contra a mulher e, também, de promoção do emprego. “A cada dia é um passo. Não digo que ele seja uniforme, contínuo e padronizado. Nós temos passos que o movimento feminista avança, e temos outros setores da sociedade que acabam retrocedendo. E a gente fica naquele avançar e retroceder. Mas nós, enquanto promotores de políticas públicas em Guarapuava e movimento de mulheres feministas, a gente só quer avançar. Resistir e avançar”, pondera a idealizadora do encontro, a secretária de Políticas Públicas para Mulheres de Guarapuava, Priscila Schran de Lima.
A parceria da Unicentro e do projeto Florescer com a Secretaria teve início em 2015. De lá para cá, segundo a professora e coordenadora do projeto, Ariane Pereira, a Universidade tem produzido material educomunicacional de combate à violência contra a mulher. Para ela, esse encontro foi fundamental para promover a sororidade. Ou seja, as mulheres valorizarem e apoiarem as conquistas umas das outras. “A gente tem uma sociedade ainda patriarcal, ainda machista. E o machismo não está presente só nos homens. Muitas mulheres também se sentem ameaçadas pelo sucesso de outras mulheres. Então, é nesse sentido que hoje a gente fala em sororidade – a cooperação entre as mulheres, e não mais competição. Porque, a partir disso, a gente vai ver que quando uma cresce, todos nós crescemos juntas”.
No primeiro dia de encontro, uma mesa-redonda abordou “Os desafios das mulheres na política partidária e a execução das políticas públicas para as mulheres”. Para isso, contou com a participação da vereadora de Guarapuava professora Terezinha, da deputada estadual Cristina Silvestri e da ex-vice-prefeita de Guarapuava e criadora da Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres, Eva Schran de Lima. Para ela, a igualdade de gênero na política está longe de ser uma realidade. “O sistema político tem uma estrutura de poder mesmo, onde muito pouco espaço se dá para mulher. Para ela ir para uma campanha, para ela dizer um sim, para ser candidata ou, mesmo quando ela é candidata, ela ter recursos financeiros, espaço de televisão é muito difícil. Então, tudo isso contribui para ela estar ou não na política ou ela ser votada ou não. É bem desafiador, mas ela quer estar”, discorre Eva.
Também integraram a programação as palestras “Como construir uma cidade 50-50: todas e todos pela igualdade”, proferida por Camila Almeida, da ONU Mulheres Brasil, e “O trabalho do Cram – Centro de Referência no Atendimento à Mulher”, ministrada pela coordenadora do Cram da região metropolitana de Curitiba, Walquiria Onete Gomes. “A política pública voltada no direito da mulher, de colocar a mulher numa visão de empoderamento, de que ela pode denunciar. de que ela pode chegar aos meios públicos – como uma Delegacia da Mulher, como um Centro de Referência de Atendimento à Mulher, que nós temos agora aqui em Guarapuava, que foi inaugurado dia 8 de março. Enfim, são espaços onde a mulher tem o seu direito de chegar e de colocar tudo aquilo que está passando pela violência doméstica”, diz.
Quem participou do encontro, não se arrependeu. A Zélia Siqueira Ribeiro, por exemplo, é integrante da Pastoral da Criança da comunidade quilombola Paiol de Telha. Ela conta que veio especialmente para a palestra sobre as políticas públicas para mulheres re que relembrou todo um passado conturbado, quando sofria abusos sexuais pelo irmão. “Na época, não existia lei para mulher, não existia lei para abuso sexual. Fui ameaçada e não podia contar nada disso. Me aliviou porque, agora, você sabe que tem a onde correr atrás. Na minha época, você tinha que ficar calada, aguentar, sofrer aquela dor. Eu me senti bem leve hoje, foi muito bom para mim esse encontro”, finaliza.