Tom de alerta marca início do funcionamento do Núcleo Maria da Penha em Irati
Núcleo Maria da Penha ou, simplesmente, Numape. Um projeto que visa contribuir no enfrentamento à violência contra a mulher e que foi implantado pela Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), via programa Universidade Sem Fronteiras, nesse ano. No total, em todo o Estado são sete núcleos, e dois deles estão na Unicentro: um em Guarapuava e outro em Irati.
O polo de Irati do Numape foi lançado oficialmente com um evento que teve tom de alerta e de denúncia. Na ocasião, a coordenadora do projeto no campus, a professora Kátia Alexsandra dos Santos, do Departamento de Psicologia, apresentou os dados de um questionário sobre assédio na Unicentro. Ela explica que o levantamento foi superficial, pois foi divulgado nas redes sociais e contou com a participação de vários cursos, mas não com a totalidade da Universidade.
“A intenção principal da iniciativa foi desconstruir o discurso de que na Universidade não há discriminação ou violência contra a mulher. Além disso, o levantamento teve como objetivo fazer com que o tema assédio seja discutido no ambiente acadêmico, já que a violência de gênero está em todos os lugares. Sendo assim, dar visibilidade é uma primeira meta e, na sequência, vamos propor ações. O que nós vamos fazer agora que sabemos que existem estes casos na Universidade? Então, o Núcleo também está tentando fazer esse processo de mediação”, destaca Kátia.
Segundo a professora, docentes, estudantes e funcionárias do campus de Irati podem procurar o Numape para buscar esclarecimentos e, principalmente, ajuda. “Oficialmente nós iniciaríamos os atendimentos em junho para a comunidade externa, inclusive foi esse encaminhamento que nós fizemos com a Secretaria de Assistência Social, mas nós já estamos fazendo atendimento de alguns casos internos. Então, quem quiser pode procurar diretamente o Núcleo. Nossa sala é a 106, no Prédio Principal”, complementa.
O reitor da Unicentro, professor Aldo Nelson Bona participou do lançamento do Numape Irati e destacou que a equipe do Núcleo tem pela frente um grande desafio. De acordo com o reitor, esta é uma discussão extremamente relevante porque não é uma questão que se resolve simplesmente com a adoção de leis ou com debates acadêmicos. O combate à violência contra a mulher envolve mudança de cultura.
“Nós estamos falando de mais de dois mil anos de uma construção que precisa ser ressignificada. Então, não é uma tarefa fácil, que apenas um Núcleo possa resolver, mas, efetivamente, é algo que será superado na medida em que muitas iniciativas como essa forem ganhando corpo. Por isso da importância da Unicentro e do seu trabalho na região – uma região marcadamente assolada também pela violência de gênero – promover este debate e fazer com que estes momentos de discussão possam, aos poucos, ir contribuindo para dar novos significados aos valores que fundaram a nossa sociedade”, ressalta Aldo.
De acordo com a professora Kátia, a proposta do Numape Irati é consolidar-se como um dos pontos da Rede de Enfrentamento a Violência contra a Mulher do município. “Outra frente que temos feito parceria é via Creas [Centro de Referência Especializado de Assistência], que é geralmente o órgão que recebe esses casos mais complexos relacionados a violência, e faz o encaminhamento das mulheres que gostariam de ter o atendimento psicológico aqui no Núcleo. Mas também deixamos o espaço aberto para que as mulheres possam nos procurar por demanda espontânea”, conclui.