Irati fará mapeamento sociocultural de ofícios tradicionais e benzedeiras
O primeiro Encontro Regional de Benzedeiras, Benzedores, Rezadeiras, Curadores, Costureiras de Machucaduras e Parteiras foi realizado, em 2008, no campus de Irati. E foi numa oficina desse encontro, que surgiu a ideia de se fazer um mapeamento social dos ofícios tradicionais de saúde popular, aqueles repassados de geração em geração.
O mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unicentro, Antonio Michel Küller Meira, desenvolve pesquisa na área e participou do processo. “O primeiro mapeamento social foi em Rebouças onde havia um grupo já mais mobilizado, e as benzedeiras são capacitadas com GPS e gravadores para executar essa pesquisa a campo com os pesquisadores. O levantamento mostrou 134 benzedeiras em Rebouças, depois foi feito em São João do Triunfo e lá foram apontadas 161 benzedeiras”, conta.
O mapeamento em São João do Triunfo, inclusive, ganhou um prêmio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Segundo Meira, a importância do mapeamento é que a partir dele, as benzedeiras começam a perder o medo de dizer quem realmente elas são. Ele lembra que nas primeiras pesquisas muitas não se sentem a vontade para dar as informações.
“Existe a Política Nacional de Plantas Medicinais que protege esse conhecimento associado delas em relação às plantas e elas não precisam ter medo de ensinar o remédio, porque essa política incentiva o uso das plantas medicinais. Até mesmo porque hoje tem alguns médicos ensinando a usar plantas medicinais nos postos de saúde. Então, essa política valoriza o conhecimento tradicional associado que as benzedeiras carregam ao longo da história”, ressalta o mestrando.
Além disso, o mapeamento permite que as benzedeiras comecem a se organizar em movimentos sociais, pautando os governos em relação a necessidade da criação de políticas públicas de reconhecimento dessa cultura e desses conhecimentos tradicionais. Rebouças foi a primeira cidade a ter uma lei municipal de reconhecimento e que garante livre acesso das benzedeiras às plantas medicinais.
“Essa lei também foi premiada recentemente, em janeiro, num encontro em Porto Alegre. Na ocasião, o prefeito Claudemir Herthel recebeu o prêmio por ser o primeiro município a reconhecer as benzedeiras e seu ofício tradicional de saúde popular. Por isso tudo, a nossa região tem muito a contribuir com essa discussão, é pioneira. Essa discussão já está sendo levada a nível nacional, o mapeamento social possui o apoio do Projeto Nova Cartografia Social, que é ligado a Universidade Federal do Amazonas. O grupo capacita esses sujeitos para mapearem seus territórios, localidades, dificuldades, cultura e conhecimentos tradicionais, fazendo um mapa científico mesmo”, observa Meira.
E é exatamente esta ideia que começa a ser implantada em Irati. A secretária Municipal de Cultura, Patrimônio Histórico e Legado Étnico, Fernanda Popoaski, explica que o município fará um mapeamento sociocultural das benzedeiras e dos ofícios populares. Para isso, será utilizada uma técnica realizada através de pontos de GPS identificados pelas próprias benzedeiras.
“Elas vão se olhar no mapa e colocar pontos: aqui existe uma curadeira, ali uma parteira, uma benzedeira, um benzedor. Também serão realizadas, durante cinco meses, oficinas de formação e de troca de conhecimentos, como benzimento, troca de remédios caseiros, receitas de xarope, enfim, todo o conhecimento dessa cultura que vêm dos seus bisavós e avós, e que são repassados de geração em geração. Diante deste mapeamento, o resultado do projeto será um mapa plotado, e as benzedeiras colocarão desenhos delas mesmas, se reconhecendo na cidade de Irati”, destaca Fernanda.
A iniciativa do mapeamento é da Prefeitura Municipal e do Movimento Aprendizes da Sabedoria, com parceria da Unicentro, do Instituto Federal do Paraná, da APP Sindicato, da Rede Puxirão, da Rede de Cultura e Conhecimentos Tradicionais e do Instituto Equipe de Educadores Populares.